Engenheiras de 12 sindicatos da categoria se reúnem neste sábado (15) na sede do Senge Paraná, em Curitiba, para a reunião nacional do Coletivo de Mulheres da Fisenge. São 11 estados representados, de Norte a Sul do Brasil. O encontro ocorre ao longo de todo o dia, sob a coordenação da diretora da mulher da Fisenge, a engenheira Simone Baía.
Na abertura do encontro, o presidente do Senge-PR, Carlos Bittencourt, frisou o esforço do sindicato em avançar na paridade de gênero na diretoria da entidade. “Uma das premissas para montar a nova chapa era buscar mais mulheres e jovens para compor a direção. Foi uma aposta muito grande, por ter sido uma busca por renovação”, explica Bittencourt, se referindo à eleição para a nova diretoria do Senge, realizada em maio.
E o esforço deu resultado prático: a nova diretoria passou a ter 29% de engenheiras, num total de 23 mulheres na direção estadual. Das sete regionais do Senge-PR, duas tem presidência de mulheres. O percentual ganha força quando comparado aos 12% de engenheiras associadas ao sindicato e aos 19% de mulheres engenheiras no Paraná. No Senge Jovem, a presença das estudantes mulheres das direções regionais e entre os associados está na casa dos 50%.
Simone Baía destacou a ampliação do número de mulheres na diretoria recém-empossada do Senge-PR. “Mesmo com uma categoria majoritariamente masculina, nós, mulheres, estamos avançando na ocupação dos espaços. É fundamental que engenheiras participem dos sindicatos, para que possamos formular políticas específicas de gênero e também construir espaços mais acolhedores às mulheres nas entidades”, afirmou.
“Chegar a 29% de presença de mulheres na direção é avanço enorme, que precisa ser reconhecido e valorizado. É um movimento de ampliação da participação das mulheres. Todo o nosso esforço agora é em fortalecer o coletivo de mulheres no estado”, apontou Mary Stela Bischof, diretora estadual do Senge e representante do Paraná no Coletivo de Mulheres na Fisenge.
A diretora-geral da Regional de Campo Mourão, Losani Perotti também participou da reunião.
Mulheres constroem rede de empoderamento e solidariedade
“Temos uma cidade segregadora, com espaços onde podemos frequentar e onde não podemos”, relatou a geógrafa e militante feminista Marceleh Lemos, que apresentou o projeto de Promotoras Legais Populares (PLPs) de Curitiba e da Região Metropolitana, durante a reunião do Coletivo de Mulheres da Fisenge. Com início em São Paulo, o curso promove formação política feminista e direitos para mulheres por meio de uma rede articulada em todo o país. Em Curitiba, a formação acontece por meio do curso de extensão da Universidade Federal do Paraná (UFPR), coordenado pela professora Melina Girardi Fachin. A primeira turma “Amelinha Teles” se formou, em 2011, no salão nobre da faculdade de Direito. “Foi muito simbólico, pois nas paredes do salão só havia fotos de homens”, contou a engenheira agrônoma e diretora do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge-PR), Mary Stela Bischof, que participou da primeira turma.
“O curso de formação é baseado em educação popular, que busca oferecer às mulheres condições para superar situações de discriminações, desigualdades, violências físicas e psicológicas vividas no cotidiano, formando-as para o exercício da cidadania”, explicou Marceleh. Mary Stela ainda lembrou que, durante o curso, duas mulheres denunciaram situações de violência que viviam. “Elas sofriam violência doméstica, tomaram coragem e prestaram queixa, uma delas de Piraquara, inclusive”, disse. Piraquara, localizada na região metropolitana de Curitiba, é a segunda cidade onde ocorre maior número de feminicídios [crimes baseados em violência de gênero]. De acordo com levantamento do Instituto Sangari, de 2010, Piraquara registra uma taxa de 24,4 casos de homicídios de mulheres por 100 mil habitantes. “Fala-se que Curitiba é uma cidade modelo, mas a região metropolitana é uma das mais violentas do Brasil”, relatou Marceleh.
De acordo com a geógrafa, as Promotoras Legais Populares são “aquelas que podem orientar, dar conselho e promover a função instrumental no dia a dia das mulheres. Um dos desafios é oferecer atendimento jurídico e psicológico às mulheres em situação de violência”.
Mulheres de diferentes áreas e atuações participam do curso como engenheiras, catadoras de materiais recicláveis, conselheiras tutelares, assistentes sociais, sindicalistas, militantes e estudantes, por exemplo. Entre os pontos abordados no curso estão: educação popular feminista, mulheres na política, Estado laico, direitos das mulheres, saúde e sexualidade, reapropriação do corpo, direitos reprodutivos, diversidade sexual. As mulheres mães contam com uma ciranda que cuida de crianças com a contribuição de estudantes homens.
“A informação e o compartilhamento destas informações promovem uma rede coletiva de empoderamento entre mulheres, que têm acesso ao conjunto de direitos que devem ser reivindicados e ainda propicia uma rede de solidariedade entre as mulheres. Na engenharia, por exemplo, nós podemos contribuir na formulação de políticas que promovam espaços seguros para as mulheres”, ressaltou a engenheira química e diretora da mulher da Fisenge, Simone Baía e, por isso, nós, mulheres engenheiras, podemos dar a nossa contribuição sobre direitos das mulheres na cidade e no campo.
A engenheira e representante do Senge-ES no Coletivo de Mulheres da Fisenge, Lúcia Vilarinho lembrou de um projeto que participou em sua trajetória profissional. “Em obras de assentamentos, havia o curso ‘Promotores da Cidadania’, no qual discutíamos com a comunidade as obras e seus impactos”, relatou.
Ao finalizar, Marceleh destacou uma frase estampada em sua camiseta: “Mulheres que ousam lutar constroem o poder popular”.
Conheça o projeto em: https://www.facebook.com/plpscuritiba/
Texto e fotos: Camila Marins (Fisenge) e Ednubia Ghisi (Senge-PR)