Foi lançada, no dia do(a) engenheiro(a) (11/12), a revista “Em movimento” da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros. Em editorial, o presidente da Fisenge, Roberto Freire, alerta sobre a necessária superação do neoliberalismo. Confira a íntegra abaixo:
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O papel do Estado para a retomada econômica e social no pós-pandemia
Por Roberto Freire*
2020, o ano que quase não terminou e ficará marcado na História pela pandemia da Covid-19, uma das maiores crises sanitárias do mundo. E que no Brasil ainda está longe de acabar, com mais de 6 milhões de casos e aproximadamente 178.000 mortes. Países como Rússia e Inglaterra já têm um plano consolidado de vacinação, já iniciando com grupos prioritários. Até o momento, o governo federal não divulgou ou manifestou intenção de uma política de vacinação séria no Brasil, que está entre os 10 países do mundo com mais mortes.
A pandemia da Covid-19 evidenciou problemas estruturais do quadro de desigualdade social brasileira, como pobreza, violência, falta de saneamento, infraestrutura e leitos hospitalares. O princípio norteador da política econômica do governo federal é de redução do papel do Estado, sustentando um discurso fundamentalista de mercado amparado no ajuste fiscal. Mais uma vez, o Brasil segue descolado do debate em torno da recuperação econômica e social no pós-pandemia em relação a outros países do mundo que investem no papel do Estado.
Tanto em discursos institucionais como em ações, fica evidente que o governo federal não tem um planejamento de recuperação para o país. Encerramos 2020 sem perspectivas concretas para a população e o ano de 2021 promete ainda mais dificuldades, uma vez que a Emenda Constitucional 95, por sua origem, irá recrudescer ainda mais o teto de gastos ao longo do tempo, atingindo áreas essenciais como saúde, educação, ciência, pesquisa e tecnologia.
A falta de política econômica do governo federal trouxe consequências devastadoras para a sociedade, como a perda de postos de trabalho, o fechamento de empresas e o aumento da fome nos lares. Sem negar o papel do Estado, redes de solidariedade foram formadas com distribuição de alimentos, atendimento psicológico voluntário e assistência técnica gratuita, como é o caso do coletivo de engenharia popular “Força Motriz”. Entidades sindicais se viram diante de uma parcela alta de desempregados e desempregadas e também organizaram ações de cooperação.
É preciso defender a ampliação do Estado brasileiro, para a saúde, valorização dos servidores públicos, investimentos pesados em pesquisa, ciência e tecnologia e distribuição de renda. O Estado pode garantir outro modelo de civilização.
O intelectual Noam Chomsky chama o atual momento de confluência de crises (ambiental, democrática e nuclear) e ainda afirma que não nos resta muito tempo. Se ainda há tempo, o único possível é de superação do neoliberalismo e pela transformação social. Ainda há tempo.
*Roberto Freire é presidente da Fisenge, engenheiro eletricista e bacharel em História. Trabalhou na Themag Engenharia Ltda. É aposentado como Auditor Fiscal do Tesouro Estadual do Estado de Pernambuco. Foi Diretor Comercial da Companhia Energética de Alagoas. É consultor da Interest Engenharia Ltda. Foi Conselheiro Federal do Confea e conselheiro do Crea-PE. Também foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas de Engenharia Consultiva de Pernambuco e presidente do Senge-PE. Foi vice-presidente e Diretor Executivo da Fisenge
Foto: arquivo Fisenge