Ela foi pioneira ao conquistar espaço em um universo masculino e branco, tendo se graduado em 1945 no Paraná. Construiu carreira no setor público e foi reconhecida em vida.
O Nexo apresenta a história e o legado de cinco mulheres negras que tiveram papel decisivo na política, na cultura e na ciência do Brasil. A terceira da série é Enedina Marques.
Enedina Alves Marques, nasceu em 1913 em Curitiba, no Paraná. Era filha de um casal que chegou ao Paraná com o êxodo rural pós-Lei Áurea (1888). Foi a única menina entre os nove irmãos. Sua mãe, Dona Virgília, trabalhava como doméstica na casa da família do major Domingos Nascimento Sobrinho. Ele matriculou Enedina na mesma escola em que suas filhas estavam sendo alfabetizadas.
A atuação como professora
Enedina frequentou a Escola Normal, que formava o quadro docente do ensino primário no Brasil, entre 1927 e 1931. Nos anos seguintes, trabalhou em diversas cidades do interior do Paraná. Até se estabelecer, em 1935, no bairro de Juvevê na zona central de Curitiba.
Entre 1935 e 1937, ela voltou à capital do estado para um curso intermediário de professores que passou a ser exigido por lei. Até 1940, foi professora em escolas da região central de Curitiba, trabalhando em várias classes de alfabetização.
A graduação
Sem perspectiva de crescimento profissional, Enedina decidiu ser engenheira. Aos 27 anos, começou graduação na Faculdade de Engenharia do Paraná, hoje parte da Universidade Federal do Paraná. Enquanto estudava, morou e trabalhou como doméstica na casa da família Caron – lá conseguiu meios para arcar com os custos da faculdade. Enedina se formou em engenharia civil cinco anos depois, com uma trajetória distinta dos seus colegas de famílias ricas. Foi também a primeira mulher engenheira no Paraná.
O reconhecimento profissional
Em 1946 ela foi contratada na Secretaria de Obras Públicas e no ano seguinte no Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica. Ela trabalhou no aproveitamento das águas dos rios Capivari, Cachoeira e Iguaçu e na projeção da usina hidrelétrica Parigot de Souza, inaugurada em 1970, anos depois da sua aposentadoria. A capacidade técnica de Enedina foi reconhecida ainda em vida. Em 1962, passou a receber uma boa aposentadoria por seus serviços prestados.
O legado
Enedina desafiou padrões sociais e acadêmicos no Paraná. Enfrentou preconceitos de gênero e raça durante as obras na usina Desde 1988, uma rua em Curitiba recebe o seu nome. Em 2000, foi imortalizada ao lado de outras mulheres pioneiras do Brasil, no Memorial à Mulher Pioneira do Paraná.
Enedina morreu em 1981, vítima de um ataque cardíaco, no seu apartamento no centro de Curitiba.
Via: Nexo Jornal / Fontes: Fundação Cultural Palmares e “Rompendo barreiras: Enedina, uma mulher singular”