Luta contra o feminicídio foi eixo central da reunião do Coletivo de Mulheres da Fisenge

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Aconteceu, entre os dias 18 e 19 de outubro, a reunião do Coletivo de Mulheres da Fisenge (Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros), no Rio de Janeiro. Engenheiras representantes de 12 sindicatos filiados compareceram e debateram planejamento e campanhas, entre elas o combate ao feminicídio. De acordo com a engenheira química e Diretora da Mulher da Fisenge, Simone Baía, é fundamental que os coletivos em todo o país reforcem a luta contra o feminicídio no mês de combate à violência contra a mulher, em novembro. “O Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial de feminicídio, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas pra os Direitos Humanos. Infelizmente, esta é a realidade de muitas mulheres em nosso cotidiano, ambiente de trabalho, vizinhança e família. Precisamos ampliar a conscientização sobre a gravidade destes crimes, sobre como denunciar nos órgãos competentes e também como procurar e estabelecer redes de apoio para as mulheres em situação de violência”, disse Simone. Mais de 1.200 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil em 2018, segundo o Anuário da Violência.

Além da definição da campanha deste ano, as engenheiras relataram as atividades em seus estados como, por exemplo, o time de futebol feminino organizado no Senge-RJ e a pesquisa que será realizada, pelo Senge-SE, sobre a situação das mulheres no mercado de trabalho. No início do dia 19/10, ocorreu uma aula de História pelas ruas do Centro do Rio de Janeiro, guiada pelo professor Helder Molina. “Ao contrário de livros de História que, muitas vezes, apagam as mulheres, Molina nos apresentou uma aula com recorte de gênero. Visitamos monumentos históricos e marcos das lutas sociais. Esta aula, fruto da educação popular, deveria ser realizada em cada bairro da cidade como instrumento de conscientização e mobilização”, concluiu Simone.

A aula começou na Cinelândia, onde conheceram a história de construções como o Teatro Municipal, a Biblioteca Municipal e o Museu de Belas Artes. Seguindo pelos Arcos da Lapa, uma retrospectiva da história da engenharia foi feita a partir do surgimento do Aqueduto, por onde era realizado o transporte da água do Rio Carioca para o Centro, onde não havia água potável. Alguns quarteirões à frente, o professor Helder Molina relembrou a história de remoções das favelas no Rio de Janeiro, como foi feito com o Morro de Santo Antônio, cujos escombros foram utilizados para a construção do Aterro do Flamengo. A caminhada seguiu até a Rua do Ouvidor e a Praça XV, onde hoje está localizada a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e também a primeira residência da família real portuguesa durante a colonização. “Podemos perceber as transformações geográficas do espaço naquele período histórico, depois a destruição do Morro do Castelo, onde foi construído o Centro da cidade. O Rio de Janeiro tem uma história de violenta colonização e de remoção das favelas”, disse o professor.

No período da tarde, Helder Molina apresentou uma análise de conjuntura com o objetivo de discutir o processo político, social e econômico do Brasil e a ascensão da extrema-direita e do conservadorismo político. “O crescimento do fundamentalismo religioso vem de uma onda conservadora mundial que avança. Mas também há resistência na América Latina, no Equador, no Peru e, agora, no Chile. Há, inclusive, perspectiva de vitória da esquerda na Bolívia, na Argentina e no Uruguai. É um levante da América Latina com uma mudança de correlação de forças que ainda não chegou ao Brasil”, analisou Molina que acrescentou: “O Brasil tem uma trajetória de conservadorismo político e de atraso econômico, por causa do papel que a classe dominante e as elites agrárias e escravocratas impõem ao país desde a colonização”.

Além de temas nacionais, o professor levantou questões sobre a organização do movimento sindical que precisa se reinventar. Segundo ele, é fundamental retomar o trabalho de base e conversar com os trabalhadores em seus territórios e locais de trabalho. “É preciso sair da burocracia e das perspectivas individualistas, ampliando relações de coletividade e solidariedade. Precisamos apostar na luta das mulheres e da juventude”, concluiu.

Texto: Camila Marins/Fisenge

Foto: Stéphanie Marchuk