Visionário, Lerner mudou a fisionomia de Curitiba e do Paraná
Dizem que Curitiba tem duas estações no ano. O inverno e a Estação Tubo. A piada brinca com um dos cartões postais da capital, os pontos de ônibus fechados em que um biarticulado transita por uma canaleta exclusiva. O “metrô sobre rodas” trouxe agilidade ao transporte público e foi exportado para todo mundo. Mais do que isso, revolucionou o Plano Diretor de Curitiba, concentrando grandes prédios entre os corredores e diminuindo os arranha-céus conforme se distancia dessas vias e do centro da cidade até construir bairros tranquilos. Essa engenhosa arquitetura é reflexo da visão futurística e da grande capacidade de planejamento do arquiteto e urbanista, Jaime Lerner, que faleceu hoje após complicações nos rins, aos 83 anos.
Por outro lado, o que muitas pessoas desconhecem é que Lerner conseguiu aliar sua capacidade de arquiteto com a sua formação de engenheiro. Com isso, como poucos, o ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná conseguiu juntar a ideia e a sua execução. Jaime Lerner era filiado ao Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge-PR) desde 1 de agosto de 1961 e se tornou sócio remido em 31 de dezembro de 1986, após encerrar seu ciclo de contribuição com a entidade.
Em virtude do falecimento de Lerner, a Câmara de Curitiba, a Prefeitura de Curitiba e o Governo do Paraná decretaram luto oficial de 3 dias pela morte de Jaime Lerner e destacou alguns feitos dele na cidade. “Alguns legados do arquiteto, ex-prefeito e ex-governador são o sistema BRT, a Rua das Flores, o parque Barigui e o Jardim Botânico”, informa a CMC.
Filho de Félix Lerner e de Elza Lerner, imigrantes judeus de origem polonesa, Jaime Lerner nasceu em Curitiba, em 17 de dezembro de 1937. Formado em Engenharia Civil e em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), assessorou, na gestão do prefeito Ivo Arzua (1962-1965), a discussão de um novo Plano Diretor para a cidade. Esse grupo foi o embrião do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), do qual Lerner é considerado um dos fundadores e foi presidente, na segunda metade dos anos 1960.
Desde 2003, presidia a empresa Jaime Lerner Arquitetos Associados, que tem a proposta de oferecer novas visões e projetos estratégicos para as cidades, tanto para o poder público como para a iniciativa privada. Tem desenvolvido planos e projetos para cidades como São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Florianópolis, Recife, Joinville, Cuiabá, São Caetano do Sul, Campinas, David (Panamá), Oaxaca, Durango e a região de Sinaloa (México), Luanda (Angola), além de diversos projetos para o setor privado. Preside também o Instituto Jaime Lerner, entidade sem fins lucrativos que tem como missão a difusão de idéias, conceitos e inovações urbanas.
Visionário e polêmico
Lerner foi prefeito da capital três vezes (1971-1974, 1979-1983 e 1989-1992) e governador do Paraná por dois mandatos (1995-1998 e 1999-2002). Mas a sua história não é apenas de grandes feitos para a sociedade. O arquiteto, urbanista e engenheiro é responsável pela agenda liberal que levou a privatização de diversas empresas e a introdução do pedágio no Paraná. Ele tentou privatizar a Copel em 2001 e foi impedido após um forte movimento de resistência na sociedade encabeçada pelo Senge-PR.
A ocupação da Alep em 15 de agosto foi resultado de muita mobilização. A resistência não foi construída da noite para o dia. Algumas ações foram realizadas de 1999, quando o governo do estado criou o “Comitê de Desestatização”, até 2002 quando Jaime Lerner desistiu definitivamente da privatização.
O ex-governador Requião Filho (MDB) assim resumiu o grande líder paranaense. “Recebi com tristeza a notícia do falecimento de Lerner. A gente divergiu na política. Tínhamos uma visão de cidade e estado diferente. Apesar de minha crítica ao liberalismo, eu posso elogiar o seu talento e capacidade para administrar cidades e governo. Jaimer marcou sua passagem. Vai com Deus”, lamentou.
Fonte: Senge PR
Foto: reprodução arquivo pessoal