Desmonte da Cemig é estratégia do governo mineiro para privatizar estatal de energia

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A conta de luz que vence em 11 de março chega no dia 3 de fevereiro marcando o consumo de um mês que ainda não venceu e o mesmo ocorre com a conta que vence em abril, chegando em março. Esta situação tem sido recorrente aos consumidores da Companhia Energética de Minas Gerais S.A (Cemig), que não entendem como a empresa, que presta um péssimo serviço, pode “adivinhar” qual será o consumo de luz no mês anterior.

Essa é apenas uma das reclamações de usuários sobre os serviços prestados pela empresa. Para piorar, os moradores das periferias, tanto da capital Belo Horizonte, como das demais cidades do estado vêm sofrendo com a falta de energia, apesar das contas altas, reajustadas acima da inflação.

A responsabilidade deste caos é do governo do estado que não investe para atender melhor a população, não contrata novos trabalhadores e os que ainda estão na empresa não têm nem ferramentas para trabalhar, segundo o eletricitário Jairo Nogueira Filho, que trabalha há 34 anos na Cemig e é presidente da CUT-MG.

“Desde o ano de 1997 que o sucateamento da empresa vem ocorrendo, em tentativas de privatização. Naquela época eram 3 milhões de consumidores para 18 mil trabalhadores próprios atenderem. Hoje são 8 milhões de consumidores e apenas 5,3 mil trabalhadores. O ideal seria ter uma equipe de 30 mil”, diz o dirigente.

Segundo Jairo, outra preocupação dos trabalhadores é a falta de material como fiação, cabos e até mesmo de postes de luz. Faltam de materiais a mão de obra. Os mais de 16 mil trabalhadores terceirizados, principalmente eletricistas e da área técnica, não são capacitados adequadamente. Tudo isso leva a um atendimento muito ruim, que culmina na queda de energia e consequentemente, na insatisfação da população.

“Os governos agem assim para obter apoio da população para a venda da empresa, na linha ‘privatiza, que melhora’, mas na verdade, é um escândalo querer vender uma empresa que vale R$ 14 bilhões e que tem dado lucro em média de R$ 3 bilhões anualmente”, afirma o presidente da CUT-MG.

A Cemig é de economia mista e o governo de Minas Gerais detém 51% das ações.

CPI da Cemig

Além do sucateamento com falta de mão de obra e materiais, no atual governo de Romeu Zema (Novo) foram acrescentados escândalos de corrupção na empresa que culminaram com a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Entre os objetivos dos trabalhos da CPI estavam os de apurar uma suposta estratégia de desidratação da estatal para privatizá-la e denúncias de ingerência do Partido Novo, do governador, em decisões administrativas

“A Cemig contratou sem uma empresa quarteirizada da IBM para assumir seu Centro de Atendimento no valor de R$ 1,1 bilhão. Além de não ter licitação, a empresa contratada pertenceu a um dirigente do Partido Novo, o mesmo do governador Zema”, conta Jairo, que prossegue: “chegaram a cogitar a transferir a direção da empresa para São Paulo, por que lá está a sede do Partido Novo, o mesmo do governador”, diz

O relatório final, divulgado em meados de fevereiro deste ano, apontou diversas irregularidades envolvendo a direção da empresa. Entre elas, a de que o empresário Evandro Negrão de Lima Júnior,  vice-presidente do diretório estadual do Partido Novo e, conforme apurado, sócio do marido de uma diretora da Cemig em uma empresa de geração de energia, teria negócios com a estatal.

A CPI cita no documento aprovado as supostas práticas de peculato, contratação direta ilegal, improbidade administrativa e corrupção passiva. Os ilícitos relacionados diferem entre os citados, mas a contratação direta ilegal foi comum a todos aos quais a comissão sugere a apresentação de denúncia.

Grande parte das pessoas físicas citadas é da alta cúpula da estatal, entre elas seu presidente, Reynaldo Passanezi Filho.

Leia mais: Relatório da CPI da Cemig recomenda ao MPMG o indiciamento de 16 pessoas

Luta dos trabalhadores impede a privatização

Desde a década de 1990 os governos estaduais tentam privatizar a Cemig. Os únicos anos em que a venda não foi cogitada foram nos quatro anos de mandato do ex-governador Fernando Pimentel (PT), eleito em 2014.

Jairo Nogueira explica a maior vitória dos trabalhadores ocorreu, quando Itamar Franco foi governador do estado (1998 a 2003). Nos anos 2000, foi incluída na Constituição do estado a determinação de que as estatais Cemig, a Gasmig (gás) e a Copasa (saneamento) só poderão ser privatizadas com a aprovação de 3/5 dos 77 deputados estaduais, e ainda assim é obrigatório um referendo popular para que o negócio seja aprovado.

 

Fonte: CUT

Foto: Canva