“Onde está o engenheiro responsável?”. Esta pergunta é comum nos locais de trabalho principalmente onde mulheres engenheiras trabalham. Isso porque a imagem da engenharia ainda está associada a uma hegemonia masculina. De acordo com dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), os homens ainda representam 80% da categoria (836.768), enquanto as mulheres são 200.234, do total de 1.037.002. Ainda há uma diferença abissal, mas esse cenário vem mudando nas universidades com a entrada de mais mulheres nos cursos de engenharia. Para além disso, há recomendações internacionais e programas de estímulo às meninas e jovens mulheres nas ciências e nas exatas.
É preciso romper com estereótipos de gênero desde a infância, uma vez que é naturalizada à mulher a função do cuidado. Afinal, por que as meninas brincam de boneca e casinha desde cedo? Queremos que as meninas tenham curiosidade por experiências científicas, pela construção de prédios, pela produção de alimentos seguros. Nossas meninas têm que crescer com a certeza de que podem ser o que quiserem.
Para além das questões de gênero, também é preciso interseccionar um debate de classe que popularize a engenharia e fortaleça o acesso às universidades públicas. Há alguns anos, em uma roda de leitura da história em quadrinhos da Engenheira Eugênia, numa favela do Rio de Janeiro, houve o seguinte comentário nas crianças: “engenharia é coisa de rico”. Produzidos pelo Coletivo de Mulheres da Fisenge (Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros), os quadrinhos têm o objetivo de incentivar debates sobre os direitos das mulheres e também sobre questões nacionais como, por exemplo, a luta contra as privatizações.
A engenharia não pode ser lida como “coisa de rico”, mas sim como de toda população, principalmente as pessoas mais pobres, uma vez que são as mais afetadas pela falta de políticas públicas. Como engenheiras e engenheiros, podemos contribuir muito para a construção de cidades seguras, sustentáveis e mais justas. Nesse sentido, os sindicatos podem atuar estimulando a auto-organização das engenheiras em suas instâncias por meio dos coletivos de mulheres bem como pautar e lutar por cláusulas nos acordos coletivos que atravessem questões de gênero e raça. Um exemplo é a ampliação das licenças maternidade e paternidade ou mesmo a inclusão de cláusulas que estimulem campanhas de combate à violência contra a mulher nos locais de trabalho e que garantam apoio emocional e físico àquelas que sofrem violência em seus lares.
Neste 8 de março, em pleno ano eleitoral, temos a responsabilidade de retomar e defender um projeto de país comprometido com a democracia, a ciência, a soberania nacional e o desenvolvimento social e econômico. É pela vida das mulheres!
Virgínia Brandão, engenheira eletricista e diretora da Mulher da Fisenge