ARTIGO: “Onde estão as engenheiras?”
Por Simone Baía*
Desde a infância, nós, mulheres, ouvimos que matemática “não é coisa de menina”. Este pensamento afasta meninas e mulheres da ciência e das áreas de exatas. Isso acontece porque vivemos em uma sociedade patriarcal, que enquadra as mulheres em posições secundárias. Na engenharia, uma área ainda predominantemente masculina, a situação pouco muda. A maioria dos alunos e professores ainda é de homens nas universidades, assim como na ocupação dos espaços de poder e cargos de chefia no mercado de trabalho. Mas estamos avançando e o número de mulheres engenheiras formadas tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. Na Universidade de Dartmouth (EUA), entre os formandos do curso de engenharia este ano, 54% são mulheres. Este é um marco histórico, pois, pela primeira vez, um curso de engenharia nos EUA forma mais mulheres do que homens.
No Brasil, dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, divulgada pelo IBGE em 2013, revelam que as mulheres são maioria da população, equivalente a 51,4%. Em Minas Gerais, a pesquisa “Perfil da Mulher Mineira”, realizada pelo Dieese e Senge-MG, apontou que algumas especialidades da engenharia apresentam uma diferença de quase 30% nos salários. De acordo com o levantamento, a única especialidade em que as engenheiras ganham salários maiores é na Engenharia de Agrimensura. Na Engenharia Civil, por exemplo, as engenheiras recebem, em média, 8,5% a menos do que os engenheiros. Já na Engenharia Química, o salário das engenheiras é, em média, 29% menor do que o salário dos engenheiros.
A luta por igualdade de direitos também começa na organização da classe trabalhadora. Isso significa transversalizar a questão de gênero no movimento sindical. Para isso, os sindicatos precisam promover políticas de acolhimento às mulheres, debates e formação. Uma entidade inclusiva precisa pensar em creches e espaços recreativos para os filhos das mães trabalhadoras, nos horários das reuniões, cláusulas específicas nos Acordos e Convenções Coletivas de Trabalho e em representatividade. Estas políticas constroem pertencimento e identidade. As mulheres se reconhecem nos espaços políticos, se empoderam e ocupam os espaços. É fundamental que os sindicatos incluam em seus estatutos secretarias/diretorias específicas sobre gênero e também tenham o compromisso de eleger mulheres em suas diretorias com o esforço permanente de aproximá-las do movimento sindical. No final do ano passado, o 12º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CONCUT) consolidou a paridade na composição da direção.
Se caminharmos em direção ao acolhimento, ao respeito às identidades e ao pertencimento, chegaremos à resposta do título. Onde estão as engenheiras? Em todos os espaços. E seguiremos lutando pela igualdade de direitos.
*Simone Baía é engenheira química e diretora da mulher da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge)
(Foto: Fabio Caffe)