O repúdio à cultura do estupro na sociedade foi um dos temas da reunião do Coletivo de Mulheres da Fisenge, realizada no dia 4/6, em Belo Horizonte (MG). “O caso do estupro de uma menina, no Rio de Janeiro, provocou indignação e também trouxe à baila um tema tão pouco debatido, que é a cultura do estupro”, afirmou a engenheira química e diretora da mulher da Fisenge, Simone Baía, que ainda destacou: “Só conseguiremos desconstruir a cultura do estupro com educação e, por isso, é urgente o debate de gênero nas escolas, tanto para provocar o empoderamento entre as meninas quanto para promover a conscientização dos meninos”, disse.
Segundo a ONU Mulheres, cultura do estupro é “o termo usado para abordar as maneiras em que a sociedade culpa as vítimas de assédio sexual e normaliza o comportamento sexual violento dos homens. Ou seja: quando, em uma sociedade, a violência sexual é normalizada por meio da culpabilização da vítima, isso significa que existe uma cultura do estupro”. E estas manifestações podem ocorrer em todos os ambientes da sociedade e profissionais, tanto para provocar o empoderamento entre as meninas quanto para promover a conscientização dos meninos”, disse. A engenheira agrônoma e diretora do Senge-PR, Mary Stela Bischof comenta que esta “cultura do estupro” permite a expressão de diferentes comportamentos machistas ainda não superados em nossa sociedade.
Leia aqui a nota da Fisenge em repúdio à cultura do estupro.
A reunião também contou com a palestra “Mulher, engenheira e sindicalista”, ministrada pelo engenheiro e vice-presidente da Fisenge, Roberto Freire. “Debatemos, diante de uma perspectiva histórica, a participação das mulheres na política e a história das engenheiras no contexto feminista. Desde o início, as mulheres não têm espaço garantido, como foi a luta pelo voto feminino e ainda manifestada na batalha pela inserção das mulheres no mercado de trabalho e ocupação de espaços de poder”, apontou Freire. O Coletivo de Mulheres da Fisenge mantém uma política permanente de formação em suas reuniões e, de acordo com Simone Baía, a formação é fundamental para situar os cenários historicamente. “Nós, mulheres, temos avançado na participação dos espaços de poder, como sindicatos e parlamento, mas ainda precisamos avançar mais. E o avanço somente virá com formação política e organização autônoma das mulheres”, pontuou Simone.
Mulheres e mercado de trabalho
Embora as mulheres sejam maioria da população brasileira, os salários ainda estão apresentam diferenças em relação aos homens. A engenheira agrônoma e diretora do Senge-MG, Anildes Lopes apresentou a pesquisa “Perfil da Mulher Mineira” realizada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). “Algumas especialidades da engenharia apontam uma diferença salarial entre homens e mulheres de quase 30%”. Contudo, percebemos a ampliação do número de jovens mulheres nas universidades e esta é a contradição, pois aumenta a nossa inserção no mercado de trabalho, mas não há reflexo nos salários”, destacou Anildes.
De acordo com dados da pesquisa, o número de mulheres ocupando cargos na engenharia, no período de 2003 a 2013, aumentou em maior proporção do que o número de engenheiros. Em Belo Horizonte, o crescimento foi de 154,7%; já nos vales do Jequitinhonha e do Mucuri, a variação foi 800% e 700%, respectivamente. A única especialidade em que as engenheiras ganham salários maiores é na Engenharia de Agrimensura. Na Engenharia Civil, por exemplo, as engenheiras recebem, em média, 8,5% a menos do que os engenheiros. Já na Engenharia Química, o salário das engenheiras é, em média, 29% menor do que o salário dos engenheiros.
“Precisamos ficar atentas aos retrocessos eminentes para as questões das mulheres e de gênero. A pesquisa de Minas Gerais sobre a inserção de mulheres no mercado de trabalho pode ser replicada e adaptada à realidade de cada estado, cujos dados ajudam a qualificar o debate com todo o sindicato, não apenas com as mulheres”, concluiu a engenheira agrônoma e diretora do Senge-PR, Mary Stela Bishof.