“Na hora de fazer, não gritou”. Esta, infelizmente, foi uma das frases de uma enfermeira para uma mulher em trabalho de parto. Muitos depoimentos de violência obstétrica têm sido relatados pelas mulheres. Em diversos casos, a equipe médica, além de agressão verbal, impõe à mulher o tipo de parto (majoritariamente cesárea) e procedimentos invasivos, como a episotomia e exames de toque coletivos. Há casos que médicos colocam a mulher em trabalho de parto como reféns da exposição desses exames e ainda fazem comentários com conotação sexual. A prática do médico não permitir o empoderamento da mulher sobre seu parto é reflexo de uma sociedade organizada no modelo patriarcal.
Hoje, o Brasil lidera o ranking na América Latina, segundo a Unicef, com mais de 50% de nascimentos por meio da cirurgia. O índice sobe consideravelmente nos hospitais particulares. Em 2011, o número de cesarianas aumentou para 83,8% dos bebês nascidos via convênios médicos, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Estes dados reforçam os alicerces do capitalismo, ou seja, a transformação de direitos em mercadoria.
O início da intensificação das cesarianas se deu na década de 1970 e, desde então, tem se tornado prática comum, uma vez que não compensaria financeiramente aos planos de saúde e médicos um parto dito normal. As mulheres são tratadas como números, tanto em seus prontuários, como nos cofres dos hospitais. Além disso, as cesáreas viraram um verdadeiro negócio com a transmissão em telas de televisão, com serviço de buffet e fotografia, oferecidos pelo próprio hospital. Romper esta lógica mercantil é tarefa dos movimentos sociais.
Defendemos o direito a um parto humanizado, isto é, um parto com respeito às decisões da mulher e aos procedimentos fisiológicos. A mulher tem direito a um parto com autonomia e respeito às suas decisões.
Por Coletivo de Mulheres da Fisenge