UFRJ concede título de doutor honoris causa a Lima Barreto, que foi estudante de engenharia civil

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Após um século da morte do escritor Lima Barreto (1881-1922), o Conselho Universitário (Consuni) da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), decidiu conceder título de doutor honoris causa ao autor. Durante sua graduação de Engenharia Civil, sofreu racismo e dificuldades financeiras que dificultaram sua trajetória, não concluindo o curso. Entretanto, a homenagem é concedida a personalidades nacionais e internacionais de destaque, mesmo que não tenham titulação.

Lima Barreto foi um renomado escritor brasileiro do final do século XIX e início do século XX. Nascido em 1881, no Rio de Janeiro, Barreto foi um autor prolífico que abordou questões sociais, raciais e políticas em suas obras. Sua escrita foi marcada por uma crítica contundente à sociedade brasileira da época, expondo as desigualdades, o preconceito racial e as injustiças vividas pelos mais marginalizados. Entre suas obras mais conhecidas estão “Triste Fim de Policarpo Quaresma” e “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, que retratam de maneira vívida a realidade brasileira da época. Com seu estilo direto e realista, Lima Barreto foi um dos primeiros escritores a abordar questões sociais e raciais com tamanha intensidade, tornando-se uma figura importante na literatura brasileira e um crítico corajoso de sua época.

Em seu próprio diário, Lima Barreto evidência o preconceito sofrido durante o curso, escrevendo: “É triste não ser branco”. A perseguição cometida por colegas e docentes, como o professor da cadeira de Mecânica Racional Licínio Atanásio Cardoso, dificultaram a formação do autor. Em 1903, abandona o curso para ajudar sua família que passava por necessidades financeiras.

A homenagem ao escritor foi sugestão da professora de Letras da UFRJ, Beatriz Resende. Segundo ela, o legado de Lima Barreto permanece “Francisco de Assis Barbosa, Nicolau Sevcenko, Antonio Arnoni Prado e outros professores levaram de forma definitiva o autor carioca aos estudos universitários. A academia e o mundo das Letras começavam a reconhecer sua importância. A leitura da obra continuava, no entanto, distante do leitor comum que Lima Barreto quisera atingir”, ponderou.

Segundo Carmen Tindó, professora aposentada da Faculdade de Letras, Lima Barreto foi um escritor preocupado com as questões de seu tempo. “[Ele] sempre se preocupou com os marginalizados, com os que viviam apartados dos interesses e benesses do poder central. Escreveu sobre os subúrbios, sobre as cenas cotidianas do povo do Rio. A Rua do Ouvidor era um dos seus espaços preferidos, não por ser um local luxuoso da belle époque carioca, mas por poder ser confrontado com os espaços pobres da cidade”, afirmou Tindó, ainda atuante na pós-graduação.

“Quer seja nas suas obras, crônicas ou contos, Lima Barreto explorou as injustiças sociais e as dificuldades das primeiras décadas da República. Foi um dos romancistas pioneiros na denúncia do racismo e dos preconceitos contra os negros no Brasil”, conclui o parecer.

 

Fisenge com informações de Victor França/Conexão UFRJ