UE ameaça interromper importação de petróleo iraniano

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A disputa atômica entre Europa e Irã ocorre, há tempos, no campo da diplomacia. Os iranianos, no entanto, seguem indiferentes às ameaças e dão continuidade ao programa nuclear. Pelo menos isso é o que sugere o ultimo relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), publicado em dezembro. O órgão fala que haveria “provas convincentes” da dimensão militar do programa iraniano.

O relatório da agência também não afirma com 100% de segurança que o governo iraniano quer construir uma bomba nuclear. E depois de anos de ausência de cooperação por parte do Irã, a União Europeia, ao que tudo indica, perdeu a paciência. Até o fim de janeiro, num encontro agendado entre os ministros do Exterior, o grupo deve se decidir pelo endurecimento das sanções contra o país. Segundo diplomatas europeus, apenas os detalhes seriam controversos – como a data do início do embargo de petróleo, por exemplo.

A proibição da compra do petróleo iraniano faria com o país perdesse importantes consumidores na Europa – depois da China, a União Europeia é a maior compradora do recurso natural. No ano passado, 5,6% da importação de petróleo da UE vieram do Irã.

Na Itália, Espanha e Grécia, essa taxa chega a 14%. Segundo diplomatas franceses, a Arábia Saudita já teria se prontificado a compensar uma possível queda do fornecimento de petróleo iraniano.

Dinheiro de exportação

Ainda assim, o governo iraniano parece tranqüilo. Não haveria qualquer problema, afirmou um representante da indústria petrolífera do Irã; “Nós podemos facilmente encontrar substitutos para os clientes europeus”, disse Mohsen Qamsar, diretor internacional da companhia nacional de petróleo do Irã. O país poderia vender mais às nações asiáticas e africanas, exemplificou.

Mehrdad Emadi, assessor econômico da UE de origem iraniana, se mostra cético. “Dentro de um ano, as reservas em moeda estrangeira do Irã terão diminuído consideravelmente”, avalia. Então o país sentirá os efeitos do embargo. Os preços poderão subir e o fornecimento de peças para a indústria pode sofrer um colapso. Por fim, cerca de metade das divisas iranianas é gerada pela exportação de petróleo.

“Já está praticamente impossível para o país atuar no mercado financeiro internacional e fechar negócios com o petróleo”, afirma Konstantin Kosten, especialista da Fundação Friedrich Ebert. Na virada do ano, o presidente norte-americano, Barack Obama, assinou uma lei que impõe sanções a empresas e instituições financeiras que fizerem transações com o Banco Central do Irã. O objetivo é isolar o setor financeiro iraniano. A União Europeia também discute ações do tipo.

Desde 2006, as sanções contra o Irã e seu polêmico programa nuclear aumentam continuamente. Entre outras proibições, o Conselho de Segurança das Nações Unidas impôs o embargo de compra de armamentos pesadas e de tecnologia de armas nucleares. Além disso, contas suspeitas no exterior foram congeladas.

A população iraniana também sente os efeitos desse isolamento: os preços subiram e alguns produtos estão escassos. Um exemplo é o fornecimento de gasolina: “O Irã tem uma grande reserva de petróleo, mas não pode refinar o produto sozinho devido à infraestrutura obsoleta”, comenta Konstantin Kosten.  O país é, portanto, dependente da importação de gasolina, e sem divisas a compra vai ficar cada vez mais difícil.

Apesar disso, o regime iraniano segue inflexível. Nos últimos dias, o comando militar realizou testes de mísseis no Golfo Pérsico e chegou a ameaçar um bloqueio no importante Estreito de Ormuz, por onde passam cerca de 20% do transporte de petróleo mundial

Segundo Merhdad Emadi, um bloqueio seria “uma declaração de guerra contra todos os países que dependem do Estreito”. O especialista não acredita que o Irã poderia aguentar esse embargo por muito tempo. Ainda assim, ele adverte a UE sobre “graves consequências para o regime”.

A região do Golfo Pérsico é marcada por ameaças de guerra. Mas o risco de uma escalada da violência é real, concorda a maioria dos observadores. E ainda outro ponto é consenso: sanções unicamente ainda não conseguiram fazer qualquer regime se curvar.

Fonte: Nils Naumann, DW Brasil