Sergio Bacci, presidente da empresa, acredita que o aumento da frota permitirá “regular” os preços de afretamento pagos pela Petrobras.
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A Transpetro deve lançar em janeiro de 2024 os editais para construção de navios no Brasil, informou o presidente da empresa, Sérgio Bacci. A estatal conclui em julho o relatório sobre o perfil da demanda da Petrobras – quantidade e tipos de embarcação – e estabelece até dezembro as regras e modelos de negócio para a licitação. Ainda não há definição sobre a política de conteúdo local, mas o executivo é a favor de índices diferentes, de acordo com a complexidade da encomenda.
“Em janeiro, ponho esse edital na rua e espero que, em seis meses, a gente tenha os contratantes já estabelecidos, para que, efetivamente, a partir do meio do ano que vem, possamos iniciar o que é o carro-chefe desta gestão: a retomada da construção de navios por parte da Transpetro”, afirmou Bacci, em entrevista ao Soberania em Debate, programa do SOS Brasil Soberano, um movimento do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge RJ). A licitação vai considerar os melhores preços e prazos. Empresas estrangeiras podem participar, desde que venham fabricar no Brasil.
Bacci assumiu no dia 28 de abril, com a missão de promover a retomada da indústria naval e offshore no país, um compromisso de campanha do governo Lula. A Transpetro quer ampliar sua frota, atualmente com apenas 26 navios — e outros dez afretados no exterior – , para atuar como regulador dos preços de afretamento, baixando custos de operação da Petrobras, controladora e maior cliente da estatal, responsável por 80% da sua receita.
“O governo entende que é importante que se construa navios no Brasil, tanto para geração de emprego, quanto para ter embarcações para ajudar a Petrobras na questão dos afretamentos”, explica Bacci. “A grande maioria dos navios afretados pela Petrobras é de bandeira estrangeira. Se conseguirmos ampliar o nosso market share junto à Petrobras, isso vai ajudar na questão do pagamento desse afretamento. Entrar nesse mercado para regular e ajudar a baixar os preços de afretamento, esse é o papel que a Transpetro vai cumprir nos próximos anos.”
Conteúdo local
O presidente da Transpetro defende uma política de conteúdo local para a indústria, mas seletiva e gradual, com índices diferentes por tipo de embarcação, que subam ao longo do tempo. “Temos diversos tipos de embarcação: desde uma plataforma, com toda a complexidade, até uma barcaça que é praticamente uma chapa de aço. Não temos empresa no Brasil que forneça 65% de conteúdo local para uma plataforma, mas temos quase 100% para uma barcaça.”
Por exemplo, as plataformas flutuantes (FPSO) poderiam ter 35% de conteúdo local; navios gaseiros, 40%; petroleiros, 50%; PSVs (Platform Supply Vesse), que levam suprimentos às plataformas, 60%; HTS (Anchor Handling and Tug Supply), que atuam como rebocadores, 40%, e assim por diante. A cada dois anos, sugere Bacci, esses percentuais poderiam aumentar, conforme se desenvolva a cadeia de produção no país. “Assim eu acredito que o conteúdo local vá vingar de forma sustentada”, diz. “Quando em 2007 se estabeleceu um conteúdo local de 65% no setor, cometemos um erro, que precisamos repensar. Não é assim que funciona. É preciso haver uma demanda perene, para que as empresas fornecedoras de máquinas e equipamentos tenham interesse em vir se instalar no Brasil.” Se os negócios existirem de forma consistente, Bacci avalia que o Brasil pode até se tornar um hub para atender estaleiros da América do Sul e da América Central.
Descarbonização
As novas contratações para expansão da frota vão mirar a ideia do green shipping, ou seja, navios que utilizam tecnologias de descarbonização. Enquanto os novos não vêm, a Transpetro já tem feito adaptações nas suas embarcações para torná-las mais eficientes: cálculos de rota para reduzir o consumo de combustível, equipamentos no casco e tintas que aumentam a performance etc. Atualmente, de tudo o que a Transpetro polui, 93% são gerados nos navios. Os 7% provocados pelos terminais poderão ser zerados, adianta Bacci, se um piloto para uso de energia elétrica no terminal, que está sendo desenvolvido em Guarulhos, funcionar.
A Transpetro leva combustíveis a todas as regiões do país, inclusive à selva amazônica.Tem cerca de 8 mil quilômetros de dutos, pelos quais passam 600 milhões de metros cúbicos de combustíveis de petróleo durante o ano. “É a melhor companhia de logística de petróleo da América Latina”, garante Bacci. E a intenção agora, destaca o executivo, é buscar parcerias e negócios em outros países, uma orientação da Petrobras.
A empresa completou 25 anos no último dia 12. No evento de comemoração, Bacci diz que se emocionou com as manifestações dos empregados, que relataram o alívio com a nova gestão, depois de estarem impedidos pelo governo anterior de opinar sobre os projetos da empresa.
Fórum pela Defesa da Retomada da Indústria Naval e Offshore
Antes de assumir na Transpetro, Sergio Bacci participou da formação do Fórum pela Defesa da Retomada da Indústria Naval e Offshore, que reúne 15 entidades, entre elas o Sinaval, do qual ocupava a vice-presidência. Durante seminário realizado em três etapas – no Rio Grande do Sul, Pernambuco e Rio de Janeiro, o Fórum elaborou uma agenda de propostas básicas, revista e ampliada este ano em reuniões promovidas pelos seus membros. “Tenho o dever de implementar tudo o que a gente ajudou a escrever”, afirma o executivo. (leia mais aqui sobre a agenda do Fórum)
Depois de tantos anos sem produzir, os estaleiros brasileiros vão precisar requalificar sua mão de obra, reconhece Bacci. O tema foi pauta de conversa do executivo com o presidente do Sesi, Vagner Freitas de Moraes, que se dispôs a ajudar o setor.
Outra preocupação diz respeito às linhas de crédito para o setor. Segundo o executivo, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, assinou um acordo de cooperação com o BNDES. A Transpetro integra esse grupo de trabalho, que, entre seus temas, também estuda a possibilidade de usar o Fundo da Marinha Mercante (FMM). “O fundo não tem as mesmas condições que tinha, as taxas de juros e os prazos pioraram. São regras do Conselho Monetário Nacional. Mas não vamos depender só disso. Vamos buscar outras fontes de financiamento, as que forem melhores para a companhia.”
A indústria naval alcançou 82 mil empregos em 2014, basicamente devido à demanda da Petrobras, reduzidos atualmente a cerca de 20 mil, com alguns estaleiros fechados e outros trabalhando com reparos. O quadro é desolador, mas Bacci observa que o país parte de um ponto melhor do que em 2004. “Os estaleiros, apesar de estarem parados, tiveram cuidado de manter [as instalações] para que, numa possível retomada, a gente comece num patamar melhor do que em 2004, quando o Brasil não tinha estaleiro. Os grandes foram construídos a partir de 2004. Do ponto de vista industrial, a gente começa melhor.”
Fonte: SOS Brasil Soberano