A direção do sistema Furnas está aproveitando a pandemia do coronavírus (Covid-19) para mudar a jornada dos trabalhadores, assediar os que têm mais de 60 anos e foram destinados ao teletrabalho para que voltem para a empresa e obriga a categoria a utilizar veículos de transporte terceirizados, que também são utilizados em aplicativos.
A empresa não atendeu até agora nenhuma das propostas feitas pelos trabalhadores que reivindicam o turno de 24 horas para evitar mais deslocamentos e o aumento à exposição ao coronavírus, segundo Nilton Miguel Coelho, dirigente do Sinergia-ES e coordenador da Intersindical , que tem vários sindicatos na base ligados a CUT – Sintergia-RJ, Sinaerj, Sinergia- SP, Sinefi -PR, Sinergia -ES, STIU-DF, Senge-RJ e Asef.
Nilton explica que hoje o turno é de 8 horas e a direção de Furnas oferece o turno de 12 horas por 36 horas de descanso. Mas, o que em tese seria uma saída, na verdade, é uma forma de reduzir o quadro de trabalhadores, que trabalham num sistema de cinco turmas.
“Se for implantado o turno de 12 horas serão necessárias apenas quatro turmas. Cada turma tem de três a cinco trabalhadores que podem perder seus empregos”, afirma Nilton.
Os trabalhadores dizem que a direção de Furnas criou um grupo para gerenciar a crise, porém os planos de trabalho não são claros. Por isso, o diretor do Sinergia Campinas, Luiz Elmar Beloti, reivindica da empresa um melhor plano de isolamento social.
Segundo ele, se um trabalhador de determinado turno de operação tiver suspeita de infecção, toda aquela equipe tem de ser isolada, e as equipes anteriores e posteriores que tiveram contato com ele também. “Pensando que em uma usina ou numa subestação existem cinco turnos de revezamento, se o turno B tem um infectado, o turno A e o C têm de ser isolados também, sobram apenas os turnos D e E para operar por tempo indeterminado uma usina ou subestação. As equipes foram reduzidas devido às últimas demissões e o sistema está em risco”, afirma.
A única reivindicação atendida, mas não cumprida até o momento, é a de que os trabalhadores possam utilizar seus próprios veículos, com reembolso do combustível, para se deslocarem até as linhas de transmissão, que normalmente ficam a mais de 50 quilômetros de distância dos centros das cidades. Os trabalhadores argumentam que os veículos fretados que os levam até esses locais são utilizados para outros serviços como o de transporte por aplicativos, ônibus de fretamento e outras demandas, o que os colocam em risco de maior exposição ao coronavírus.
“O problema é que o Presidente de Furnas [Luís Carlos Ciocchi] aceitou a nossa proposta e o diretor de Administração enviou um comunicado aos gerentes operacionais dizendo que o uso de nossos veículos estava autorizado, mas o diretor de Operações não aceitou, dizendo que havia ingerência na sua área. O RH [Recursos Humanos] da empresa é uma bagunça”, critica Nilton.
Outra atitude da empresa que está sendo condenada pela Intersindical é o assédio aos trabalhadores que estão em teletrabalho ,como os que têm mais de 60 anos, os hipertensos e diabéticos, os que têm um segundo trabalho na área de saúde ou com casos suspeito e/ou confirmados do coronavírus na família, e os que têm filhos pequenos em casa pela suspensão das aulas. De acordo com o dirigente, esses trabalhadores estão recebendo telefonemas ‘chefia’ para que não seja comprovada a irregularidade.
“A empresa vem precarizando ao longo dos anos. Demitiu 1.041 trabalhadores no ano passado e outros dois mil da Eletrobras que Furnas faz parte do sistema. Agora alegam que a escala é maléfica, que a situação é emergencial até passar essa crise, mas o que eles querem mesmo é reduzir quadro e custos, aumentar lucratividade e repassar para os acionistas”, denuncia Nilton.
Fonte: Rosely Rocha/CUT
Foto: Agência Brasil (EBC)