Série de postagens lembra histórias de engenheiros e engenheiras que resistiram à ditadura civil-militar

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Em repúdio à celebração do dia 31 de março, data marcada pelos 55 anos da ditadura civil-militar no Brasil, a Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (FISENGE) organizou uma série de postagens intitulada “#DitaduraNuncaMais”, que reúne histórias de engenheiros e engenheiras que resistiram ao período ditatorial no Brasil. São homenageados os engenheiros Haroldo Lima, Rubens Paiva, Jorge Leal, Elsa Parreira e Maria Elisabeth Marinho. “O Brasil nunca mais pode reviver aqueles momentos terríveis da ditadura, que foram responsáveis pelo extermínio de companheiros e companheiras que lutaram por um Brasil justo, democrático, igualitário e solidário. Viva a democracia brasileira! Ditadura nunca mais”, declarou o engenheiro e presidente da Fisenge, Clovis Nascimento.

Confira:

Elsa Parreira
Engenheira civil e mestre em engenharia de produção, Elsa lutou, bravamente, pela democratização no Brasil na época da ditadura militar. Ela integrou o Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA) e atuou pelo fortalecimento do movimento sindical nos anos 1980 até 2017, ano de seu falecimento. A engenheira esteve ao lado da classe trabalhadora, contribuiu para a construção do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ) e de nossa democracia. Também atuou em defesa dos direitos das mulheres, integrando, em 2009, o Coletivo de Mulheres da Fisenge. Elsa iniciou sua trajetória política no movimento estudantil aos 19 anos, quando estudava engenharia civil, no Instituto Mauá de Tecnologia, em São Paulo. “Vivíamos o auge da repressão. Nós tínhamos preocupação com o ensino voltado para melhores condições ao povo brasileiro e a engenharia teria papel essencial nas áreas de habitação, saneamento, infraestrutura. O Brasil iniciou um marketing político de combate ao comunismo e a todas as propostas com viés social apoiadas na movimentação popular”, contou Elsa Parreira em entrevista à Revista da Fisenge, em 2014. Depois de formada e, ao lado de Sidney Lianza, mudou-se para o Rio de Janeiro para fazer mestrado na COPPE/UFRJ. “Havia um grupo de pós-graduandos resistentes à ditadura, com destaque para o Teatro de Resistência dos Alunos da COPPE (TRAC). Enquanto estudantes de pós-graduação, iniciamos a militância dentro do Senge-RJ com o engenheiro Jorge Bittar, sendo ponta de lança do processo de retomada do sindicato, que estava nas mãos de pelegos e era controlado pela ditadura”. Em 20 de julho de 1977, Elsa foi presa dentro de sua casa e levada para o centro de torturas no DOI-CODI. “Acreditar na força transformadora dos trabalhadores e da sociedade civil”. Foi desta forma que a engenheira Elsa Parreira seguiu resistindo e lutando pela democracia no Brasil. 

Haroldo Lima
Formado em engenheira elétrica e ex-deputado, foi condenado a dez anos de prisão durante o regime ditatorial e solto na época da Anistia. Em 1988, elegeu-se Deputado Constituinte, apresentando à época mais de 1.200 emendas ao projeto. Destacou-se como defensor dos trabalhadores e de uma Constituição, efetivamente, cidadã. Por conta da sua atuação, foi eleito pelo jornal Folha de S.Paulo dentre os 40 Deputados mais destacados da Constituinte, além de ter sido, consecutivamente, “Deputado Nota Dez” do DIAP. É um árduo nacionalista, defensor do desenvolvimento social e da soberania nacional 

Rubens Paiva
Engenheiro civil e deputado federal no ano de 1962. Rubens Paiva foi eleito deputado federal em 1962, por São Paulo, pela legenda do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Após defender o presidente João Goulart em célebre discurso para a Rádio Nacional, foi cassado e exilado por nove meses. De volta ao Brasil, retomou a atividade de engenheiro, no Rio de Janeiro, sem abandonar a resistência à ditadura e o apoio a exilados políticos. Foi preso em 20 de janeiro de 1971 e nunca mais foi visto, barbaramente assassinado pela ditadura militar. “Julgamos indispensável que todo o povo se mobilize tranquila e ordeiramente em defesa da legalidade prestigiando a ação reformista do presidente João Goulart que neste momento está com o seu governo empenhado em atender todas as legítimas reivindicações de nosso povo”, diz trecho de seu discurso. No final de 2014, a Fisenge e o Senge-RJ, inauguraram um busto de Rubens em frente ao DOI-CODI e na estação Pavuna.

Jorge Leal Gonçalves
Engenheiro eletricista, petroleiro e militante político, Jorge Leal foi um dos desaparecidos do período, sequestrado no dia 20/10/1970 por agentes do DOI-CODI/RJ. Em 1972, sua mãe chegou a mandar uma carta à esposa do presidente, Scila Médici, pedindo a soltura de seu filho, mas não obteve resposta. O engenheiro foi um dos homenageados no monumento com os dizeres “Homenagem aos baianos mortos e desaparecidos e a outros brasileiros que aqui tombaram na luta pela liberdade e contra a ditadura”, na Semana da Anistia, na Bahia, em 2015. 
Com informações da Associação dos Anistiados da Petrobras (CONAPE).

Maria Elisabeth Marinho
Conhecida como Beta, foi a primeira mulher a se formar em engenharia na Paraíba e combativa lutadora durante os tempos da ditadura militar, abrigando companheiros e apoiando, por exemplo, Miguel Arraes, em Pernambuco, cidade onde vive nos tempos atuais. Foi conselheira do Crea-PE, diretora do Senge-PE, integrante do Coletivo de Mulheres da Fisenge e também da primeira Comissão de Mulheres do Confea. Hoje, ela é aposentada da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Beta contribuiu efetivamente para o enfrentamento da seca no Nordeste. “Mesmo com os tempos sombrios da ditadura militar, nós, jovens, acreditávamos que o Brasil era da gente”, afirmou Beta em uma entrevista para a Fisenge em 2013.