Em falas contundentes, presidentes da Fisenge, Senge RJ e Crea RJ, diretora da Mulher da Fisenge, diretora Administrativa da Mútua e a deputada federal Jandira Feghali falaram sobre a realização do primeiro Consenge desde a derrubada do bolsonarismo no poder.
Com o tema “Reconstruir o Brasil com Soberania Popular, Engenharia e o Movimento Sindical”, foi aberto oficialmente, na noite do dia 31/08 (quinta-feira), o 13º Congresso Nacional de Sindicatos de Engenheiros (Consenge). O evento – que vai até sábado (2/9) – é realizado pela Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge) e conta com patrocínio da Mutua – Caixa de Assistência dos Profissionais do Crea e apoio do Crea-RJ e do DIEESE.
Na mesa de abertura estavam presentes o presidente da Fisenge, Roberto Freire; do Senge RJ Olimpio Alves dos Santos, do CREA RJ Luiz Cosenza, a diretora da Mulher da Fisenge Virgínia Brandão, a diretora administrativa da Mútua Giucélia Figueiredo, a Deputada Federal Jandira Feghali e a representante da Confederação Nacional das Associações de Moradores Bartíria Lima.
O sentimento de alívio e esperança permeou todas as falas, além da compreensão do importante papel da engenharia na retomada social e econômica do país. “Aqueles que fundaram a Fisenge tinham um norte político, que nós não podemos, em hipótese alguma, perder. Não é possível aceitar desvios à direita e pragmatismos. Nós temos lado. Nosso campo é de esquerda e que ninguém tenha dúvida disso”, falou o presidente do Senge RJ e anfitrião do Congresso, Olimpio Santos.
A diretora administrativa da Mútua Giucélia Figueiredo também enfatizou a importância da Fisenge ao longo de três décadas de atuação e no atual momento do país. “A Fisenge, nos seus 30 anos de existência, mostrou que sempre teve coragem. Nas piores adversidades, nós mostramos que temos lado e ficamos do lado certo da história. Hoje, reafirmamos o nosso compromisso com a reforma agrária, com um projeto de nação soberano. A Fisenge dialogou em todo o país com o SOS Brasil Soberano e enfrentou o fascismo. Que ninguém ouse duvidar da capacidade de luta e resistência desta Federação”, discursou.
Engajamento social e debate de gênero
A representante da Confederação Nacional das Associações de Moradores, Bartíria Lima falou sobre a parceria com a Fisenge nos anos de luta e a importância da engenharia para o movimento por moradia, especialmente na garantia de projetos como o Minha Casa, Minha Vida. Bartíria também destacou a importância da Fisenge seguir na luta conjunta por um país melhor. “Nesse momento de reconstrução do Brasil é estratégica a nossa luta conjunta pela democratização do acesso à cidade, pela garantia dos direitos e em defesa da democracia e da nossa soberania nacional”.
A diretora do coletivo de mulheres da Fisenge, Virgínia Brandão, conclamou brasileiras e brasileiros para uma luta árdua pelo futuro do país. “Para recuperarmos nossas perdas, desde o golpe contra a presidenta Dilma, precisamos trabalhar muito e convocar os brasileiros para reestabelecer as conquistas anteriores a Temer e progredirmos no mundo atual, com tantas mudanças tecnológicas que nossa classe de engenheiros contribuiu para alcançarmos”, falou. Virginia ainda pontuou sobre a importância do debate de gênero na programação do Consenge.
Esperança para construir a soberania
Destacando o momento de avanços para o desenvolvimento e soberania nacionais, Cosenza lembrou a destruição deixada pela Operação Lava Jato. “Lamentavelmente, nosso judiciário destruiu a engenharia. E, quando você destrói a engenharia, você destrói o país. A gente precisa retomar o crescimento, e retomar o crescimento passa pela engenharia. É isso que a gente quer: um novo país, um novo sistema, queremos que a engenharia realmente possa tomar conta desse crescimento e da soberania nacional”.
A deputada Jandira Feghali classificou os últimos anos como sombrios para o desenvolvimento do país e para a engenharia. “É bom a gente lembrar que a Lava Jato não estava preocupada em combater a corrupção. Ela tinha o objetivo de ajudar a golpear a democracia e de trazer imensos prejuízos à engenharia brasileira e às empresas nacionais. Nós sabemos qual foi a repercussão para a Petrobras e para as empresas nacionais de engenharia. A gente sabe a consequência disso no trabalho de vocês”. A deputada trouxe também palavras de esperança: “a gente precisa entender que essa vitória que nós tivemos com Lula é uma virada de chave decisiva para o Brasil. Para nós hoje, o grande desafio é o êxito desse governo. É preciso ter um projeto de futuro, um projeto nacional de desenvolvimento e nisso a engenharia, a inovação, a ciência são decisivas, e nós sabemos disso”.
Para finalizar a cerimônia de abertura do 13º Consenge, o presidente da Fisenge, Roberto Freire, também trouxe em seu discurso palavras de esperança. “Após um período sombrio de desgoverno com atos antidemocráticos e uma política de morte, enfim, respiramos”, discursou.
“Se estamos aqui hoje, é graças à defesa incansável de patamares mínimos de democracia e de muita luta popular. Vencemos nas urnas elegendo Luiz Inácio Lula da Silva para Presidência da República. Enfrentamos discursos de ódio, desinformação, poder econômico e desestabilização das nossas instituições. Não foi fácil e precisamos olhar para essas páginas da história para que nunca mais se repitam”, disse.
Mobilização permanente
O presidente da Fisenge também ressaltou que os movimentos sociais precisam permanecer em alerta para garantir uma verdadeira retomada econômica e social nacional. “Temos um Congresso Nacional com maioria de direita profundamente conservadora e uma extrema-direita muito agressiva. Juntos numa mesma cruzada, querem a criminalização do MST, movimento com o qual nos solidarizamos. Num país colonial como o nosso, a reforma agrária é uma emergência e o principal instrumento de enfrentamento às desigualdades. Ainda no Congresso há tentativas de impedir o avanço da política econômica com a imposição de teto, alta dos juros e arcabouços fiscais. Na realidade, o Congresso Nacional é um retrato dos últimos anos: o esvaziamento do Estado brasileiro sob uma lógica patrimonialista que deixa de lado os desassistidos”
Roberto ainda falou sobre os danos da reforma trabalhista e da carteira verde e amarela, implantadas por Temer e Bolsonaro, aos trabalhadores e às trabalhadoras. “Os trabalhadores estão sob as piores condições. Basta vermos os entregadores de aplicativos diante da uberização do trabalho. Muitos sequer possuem um calçado que deveria ser Equipamento de Proteção Individual garantido por essas empresas de tecnologia. Muitas vezes, esses trabalhadores entregam comida com fome. E essa não é uma discussão longe da engenharia. Até porque muitos engenheiros viraram Uber com o desemprego e a crise econômica”.
Em seu discurso, o presidente parabenizou a CUT pelos seus 40 anos de existência e ressaltou os 30 anos de fundação da Fisenge, da qual também é fundador. “Somos fundadores de uma Federação exitosa que passou pela redemocratização do país; pelo período neoliberal de Collor e FHC; pelo boom da engenharia durante os governos Lula e Dilma; até a derrocada com o governo Bolsonaro”, lembrou.
“Em cada ano e em cada década, acumulamos coragem. Coragem com consciência de classe. Coragem para enfrentar discursos de ódio e para afirmar que sindicato é para lutar. Coragem para afirmar a democracia e defender a nossa soberania nacional. Estamos cumprindo um papel fundamental nessa quadra histórica de reconstrução do Brasil e será preciso confiar, ainda mais, em solidariedade, diálogo e esperança”.
Antes de encerrar sua fala, o presidente da Fisenge trouxe um trecho do discurso histórico do então deputado, engenheiro Rubens Paiva, que tombou durante a ditadura civil-militar: “Está lançada inteiramente para todo o país o desafio: de um lado, a maioria do povo brasileiro desejando as reformas e que a riqueza seja distribuída. Do outro, estão os golpistas que devem ser repelidos, desta vez definitivamente, para que o nosso país veja realmente o momento da sua libertação raiar”.
Marine Moraes – Senge PE
Foto: Adriana Medeiros