Senge-BA – Metrô de Salvador: sistema ainda não tem plano operacional

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Mais de 250 pessoas assistiram, nesta última quinta-feira (9), ao Seminário Diagnóstico do Sistema Metroviário de Salvador, realizado no Fiesta Bahia Hotel. O evento foi uma iniciativa do Sindicato dos Engenheiros da Bahia, em parceria com a Assembleia Legislativa do Estado e o Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público e de Qualidade (MDT), e contou com o apoio de diversas instituições, entre elas, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Salvador (SETPS) e a Secretaria Municipal de Urbanismo e Transporte (Semut).

“Esse já é o quinto evento que realizamos sobre Mobilidade Urbana. Neste Seminário, o objetivo é entender quais as reais condições do metrô de Salvador para que o sistema, finalmente, entre em funcionamento”, diz o presidente do Senge BA, engº Ubiratan Félix. O tema foi amplamente debatido entre especialistas, gestores públicos, estudantes e profissionais da área, além de representantes de associações de bairro e demais movimentos sociais.

Coordenador Nacional do MDT, o arqº Nazareno Affonso destacou que o sistema metroviário é apenas um dos eixos de solução dos problemas de mobilidade urbana da cidade. “Por isso será essencial que o metrô de Salvador esteja articulado com os demais modais de transporte urbano. O sistema sozinho não resolverá a crise de mobilidade urbana da cidade. Vale lembrar que a Política Nacional de Mobilidade Urbana incentiva a priorização do transporte coletivo, público e não motorizado”, ressalta Affonso.

De acordo com o secretário da Casa Civil do Estado, Rui Costa, o metrô de Salvador deve começar a operar até junho de 2014, no trecho entre o Retiro e a Estação da Lapa. “A perspectiva é que ainda em 2013 a linha seja estendida até Pirajá”, diz Costa, na abertura do Seminário. Segundo o secretário, somente após a conclusão da Linha 1(da Estação da Lapa a Estação Pirajá) é que será construída a Linha 2 (do Acesso Norte a Lauro de Freitas). As obras serão tocadas a partir da Parceria Pública Privada (PPP) formada por empresas ou consórcio de empresas, modelo também adotado para construção da Fonte Nova.

A obra do metrô já completou 13 anos (quatro vezes o tempo previsto). Só com a metade do trajeto, o governo gastou duas vezes e meia o que era previsto para a obra inteira. O prazo de construção inicial era de 40 meses, a partir do início das obras, em janeiro de 2000. Atualmente só foi concluído parte do trecho 1 da etapa , da Estação da Lapa ao Acesso Norte, que correspondem a 6km em um total de 12km de extensão.

Para a deputada estadual Engª Maria del Carmen, o governo deve ser cauteloso ao falar de novos prazos. “O metrô já está desacreditado nos prazos. É preciso ter cuidado ao expor novas datas. Afinal, para se colocar em operação parte da Linha1 será preciso corrigir uma série de atividades ligadas à implantação, inclusive, sua integração ao sistema de transporte de ônibus desta região. Acredito que o mais prudente seria concluir toda a linha 1, ao invés de operar apenas parte dela”, diz a parlamentar que é engenheira civil .

Diagnóstico – O engº mecânico Cláudio Senna Frederico, expôs a série de medidas que ainda precisam ser executadas para que parte do trecho 1 entre em funcionamento. Só de recursos materiais ainda faltam oficinas e pátio de estacionamento, veículos e equipamentos de emergência de via, sinalização a bordo do trem, testes de sistema e comissionamento, e a Subestação do Retiro que não foi construída.

Para Senna, o maior problema é a falta do plano de operação que deveria fazer parte do projeto. “Não existe um projeto de operação na situação atual. Nesse tipo de projeto a certificação de segurança terá que considerar todas as fases projetadas. Por consequência, se trata praticamente de uma análise de segurança para cada trecho em operação. Isso é muito trabalhoso e dispendioso, mas essencial”, afirma Senna.

Assessor da Secretaria Municipal de Urbanismo e Transporte (SEMUT), o arquiteto Francisco Ulisses, o governo tem o grande desafio de atender a urgência da demanda social, aliada a qualidade e segurança necessárias para operação do metrô e a disponibilidade da verba para o investimento. “Mas estamos avançando. Já temos um convênio entre o governo do Estado e os municípios de Salvador e Lauro de Freitas com o objetivo de planejar em conjunto o sistema integrado de transporte público intermunicipal”, diz Ulisses.

Presidente do SETPS, o engenheiro Horácio Brasil, lembra que o metrô tem sido discutido na Bahia já há 38 anos. “Para fazer o metrô precisamos de vontade política, projeto e dinheiro. Temos avanços com a cooperação entre as esferas da União, Estado e município. Agora também os especialistas começam a se aproximar do projeto, ampliando o debate para além da esfera política. O Setps também está acoplado ao projeto do metrô, acompanhando todo o processo”, diz.

Comunidade – O Estudo de Impacto sobre as comunidades foi outro ponto de preocupação debatido durante o evento. Para a professora da Faculdade de Arquitetura da Ufba, Ana Maria Fernandes, os estudos do metrô de Salvador têm sistematicamente desconsiderado as populações que moram nas áreas de impacto das linhas metroviárias. “O Estudo de Impacto de Vizinhança, divulgado em janeiro deste ano, coloca essa análise como complementar, deixando a critério das empresas fazê-lo ou não. Eles propõe, por exemplo, que a área da Rodoviária e Detran sejam retiradas para que o metrô aconteça. Isso afetará diretamente a população local, como do bairro da Saramadaia, que tem o trabalho vinculado ao comércio informal e pequenos negócios nesta região. A área é uma terra pública e, conforme legislação estadual, tem que ser prioritariamente dedicada a habitação de interesse social”.

Presidente da Associação Municipal e Metropolitana das Pessoas com Deficiência, Cleriston de Oliveira Cruz, destacou durante o evento a importância de se pensar a acessibilidade na execução do projeto do metrô. “Infelizmente, este ainda é um ponto pouco esclarecido nos projetos de mobilidade urbana. Sabemos que hoje a cidade não oferece instrumentos suficientes de acessibilidade para os deficientes”, alerta.

“Após a palestra, fiquei mais preocupado quanto a possibilidade do metrô entrar em funcionamento. A sensação é que o projeto foi feito, mas ficou no meio do caminho com a ausência do plano operacional. E pior: que será executado desta forma”, diz o designer Hendrik Aquino.

Fonte: Senge-BA