A reflexão sobre a não neutralidade da ciência e tecnologia norteia os debates do XII Encontro Nacional de Engenharia e Desenvolvimento Social – Eneds. Com a frase-tema “Por trás de cada tecnologia, há sempre uma ideologia”, o evento questiona a que modelo de desenvolvimento os projetos científicos e tecnológicos estão à serviço. O evento foi realizado na Faculdade de Arquitetura da Ufba e aconteceu de 12 a 15 de agosto.
Professora do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental, a engenheira sanitarista Patrícia Borja, ressaltou a importância do tema no contexto em que diversas políticas públicas, como a de Mobilidade Urbana, estão impactando as cidades. “Toda tecnologia tem uma ideologia a serviço de um modelo de desenvolvimento. Existem projetos que buscam se contrapor aos modelos hegemônicos regidos pelo interesse exclusivo do capital. São iniciativas que mobilizam esforços em busca de equidade social e do baixo impacto ambiental”, explica. A engenheira citou como exemplo o agronegócio que é voltado para a geração de lucro através exportação de commodities, em contraposição ao modelo da agrotecnologia, que busca baixo impacto ambiental e nas convivências com as comunidades rurais.
“A proposta é repensar a engenharia para que ela esteja a serviço de uma sociedade mais justa. Então questionamos quais valores estão sendo incorporados e transferidos no projeto pedagógico das universidades”, diz a aluna de engenharia elétrica da Ufba, Maria Paula, uma das organizadoras do evento.
De acordo com a diretora da Escola Politécnica da Ufba, a engenheira civil Tatiana Dumêt, a faculdade está buscando ir além de eventos pontuais e institucionalizar projetos que buscam melhorar as condições de vida das comunidades do entorno. “Iniciamos a criação de grupos de trabalho na área de mobilidade (melhoria do transporte para os alunos através do BusUfba), eficiência energética (como efetuar internamente na própria univeridade) e projetos de extensão nas áreas de saneamento e mobilidade, junto às comunidades dos bairros do Garcia e Federação”, diz. A diretora destacou ainda o projeto de Engenharia Pública desenvolvido junto ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia – Crea BA e a Prefeitura Municipal, que busca viabilizar escritórios de engenharia para a população de baixa renda.
O Evento – O ENEDS se propõe uma ampla discussão sobre o papel da engenharia no desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária. O evento busca evidenciar a relação da engenharia, em todas as suas áreas de atuação, com o desenvolvimento social, fazendo conexões entre universidade, movimentos sociais e poder público.
A iniciativa reúne estudantes de graduação das Engenharias e áreas afins, professores, pesquisadores, gestores públicos, empreendedores solidários, movimentos sociais, entidades da sociedade civil, políticos e membros do Estado no esforço de questionar as bases científicas do modelo de desenvolvimento atual que influem diretamente nas pesquisas e na formação em engenharia nas Universidades e centros de pesquisa do país.
Fonte: Senge-BA