Manifestações de junho de 2013 se diferenciam por não terem vínculo organizado com partidos, sindicatos ou demais instituições sociais
Espontânea e explosiva. Essa foi a essência das manifestações de junho de 2013 no Brasil, assim como, daquelas que marcaram a história dos anos 70, 80 e 90. “A diferença é que nas recentes mobilizações compareceu uma grande quantidade de pessoas sem vínculo organizado algum com partidos, sindicatos ou demais organizações sociais”, diz o historiador Valter Pomar, membro do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) e candidato a presidência nacional do partido.
A que se deve essa desconexão? A questão foi debatida amplamente na palestra Manifestações de Junho de 2013 e as Conjunturas Nacionais e Internacionais, realizada no último dia 26 de julho, no auditório da Escola Politécnica da UFBA. O evento foi uma iniciativa do Senge BA, do Sindicato dos Professores de Instituições Federais de Ensino – APUB e da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros – FISENGE.
Para Pomar, nas décadas de 70 a 90, a esquerda era o porta voz da insatisfação social. A chegada do Partido dos Trabalhadores – PT ao governo federal e o seu crescente peso no aparato dos Estados brasileiros deu outra forma a essa conexão entre o sentimento popular e a postura da esquerda.
“A maioria dos manifestantes tinham até 25 anos. Ou seja, pessoas que iniciaram a participação política quando o PT chegava ao governo. Para essas pessoas, o PT faz parte do atual status quo da sociedade e o raciocínio é fácil: está tudo mal, a política é sujeira e quem preside o país?”, diz.
O historiador, no entanto, acredita que a responsabilidade desse raciocínio é do próprio partido.“Nosso papel não é ocupar o aparato do Estado, é organizar a sociedade para que transforme a ela própria e ao Estado”, fala Pomar.
Pomar ressaltou ainda a importância de maior participação na formação da consciência popular através da qualificação da Educação, da indústria cultural e dos meios de comunicação. “É através desses aparatos culturais que organizamos a sociedade e a maneira como as pessoas interpretam os fatos”, diz.
Professor do departamento de Geografia da UFBA, Clímaco Dias, acredita que as manifestações estão longe de terminar. “A rua é uma instância política autônoma. Vale lembrar que a comunicação também é feita nas relações cotidianas. Assim aconteceram revoltas históricas, como a Primavera Árabe. É o que Milton Santos chamou de período Popular da História”, conclui Dias.
Educação e Formação Sindical – Para o professor da UFBA e doutor em Educação, Penildon Silva, houve importantes avanços na área, com a ampliação dos concursos públicos para professores e da criação de novas universidades. “Agora precisamos dar um salto com a aprovação do Plano Nacional de Educação – PNE (2011-2020), que destina 10% do PIB (Produto Interno Bruto) à Educação. Os movimentos sociais são a chave, mas cabe as entidades atuarem com a capacidade de organização”, lembra.
“As entidades sindicais têm importante papel na formação da consciência popular. Enquanto espaço de reflexão e debate, não podemos ficar restritos. As manifestações nos impulsionaram a reabrirmos esses espaços”, fala Cláudia Miranda, presidente da APUB.
“Buscamos mobilizar a juventude, através dos estudantes de Engenharia, para debaterem as demandas sociais como mobilidade urbana, desenvolvimento sustentável, a importância do movimento sindical e os novos desafios”, diz o engº civil Ubiratan Félix, presidente do Senge BA.
Fonte: Senge BA