Nas sondagens de opinião, os trabalhistas são os favoritos e devem conquistar maioria nas eleições legislativas para formar um governo. A se confirmar os prognósticos, depois de 14 anos os conservadores vão desocupar a 10 Downing Street, a famosa residência oficial e o escritório do primeiro-ministro do Reino Unido.
Entre os problemas de curto prazo que qualquer novo governo enfrentará está a profunda crise dos serviços de água esgotos da Inglaterra e País de Gales.
As empresas privadas apresentam péssimo desempenho: elevadas perdas, poluição de rios e águas costeiras por lançamentos de esgoto bruto. A incapacidade de fazer face aos investimentos necessários para ampliar e modernizar a infraestrutura dos serviços que prestam é agravada por um endividamento monumental, cuja causa principal é a prioridade dada à remuneração dos acionistas das empresas.
A empresa que presta serviço na região de Londres e Vale do Tâmisa atendendo 15 milhões de usuários está à beira da falência, afogada em uma dívida de 18 bilhões de libras esterlinas, equivalente a R$ 122 bilhões. Para comparar, o orçamento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) em 2024 é de R$ 55 bilhões.
O regulador econômico, o Ofwat, adiou para depois da eleição seu pronunciamento sobre os planos de investimentos apresentados pelas empresas prestadoras e sobre os aumentos de tarifas que pleiteiam para financiá-los.
No momento em que no Brasil a privatização dos serviços de água e esgoto é vendida como a oitava maravilha, é preciso conhecer mais sobre o colapso da iniciativa de privatização pioneira no mundo levada a cabo, 35 anos atrás pelo governo neoliberal de Margareth Thatcher.
O ONDAS está disponibilizando a tradução de dois textos a respeito da crise: o editorial do jornal The Guardian que defende o fim da privatização como uma iniciativa que fracassou e a opinião do Unison, sindicato inglês de trabalhadores em serviços públicos, que classifica a situação da prestação privada como um escândalo nacional.
Será que, no Brasil, vamos precisar de 35 anos para apurar os prejuízos do atual processo de mercantilização dos serviços públicos de saneamento?
Texto: Marcos Helano Montenegro
Fonte: Ondas Brasil
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