No dia 13 de junho de 2016, a vida da professora universitária Marlene de Fáveri virou de cabeça para baixo. Com uma trajetória reconhecida nacional e internacionalmente nos estudos de gênero e feminismo, a historiadora e professora do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) foi processada por uma ex-aluna e orientanda no mestrado, sob o argumento de perseguição religiosa e doutrinação ideológica.
O processo foi movido duas semanas depois da aluna ter sido reprovada no mestrado. De Fáveri, no entanto, já não era mais orientadora dela, após a estudante afirmar que não acreditava no projeto que estava escrevendo e que fazia apenas pelo diploma. O estudo que era desenvolvido tinha como tema feminicídio e a professora ministrava a disciplina “História e Relações de Gênero”. A aluna, por outro lado, afirmava ser “antifeminista” e defendia, nas redes sociais, pautas conservadoras que não corroboravam com a pesquisa e a disciplina estudadas.
Ao descobrir que a orientanda publicava nas redes sociais conteúdos que desqualificavam o campo de estudo, a professora a chamou para conversar e, após o diálogo, decidiu interromper a orientação. “Minha decisão irrevogável de abrir mão da orientação da mestranda se justifica devido à incompatibilidade do ponto de vista teórico-metodológico com relação à abordagem do tema quando de seu ingresso, incompatibilidade esta expressa em vídeo difundido por mídias eletrônicas, de acesso público, onde manifesta concepções, do ponto de vista acadêmico, que ferem a disciplina que ora ministro e, por extensão, a linha de pesquisa do programa de Pós-graduação em História”, justifica a professora no documento que formaliza sua solicitação de substituição ao colegiado. O pedido foi aceito.
“Eu virei o centro das atenções na questão da Escola Sem Partido e da liberdade. O processo me constrangeu, mas também me fortaleceu. Estou sendo julgada, não por um crime, mas por um discurso. No entanto, o discurso é o que temos de mais livre. Minha luta é pela defesa da democracia, da liberdade, da educação, da cátedra, do nosso lugar como professoras e professores”, defende Marlene De Fáveri.
A professora afirma ser veementemente contra o Projeto Escola Sem Partido. Segundo ela, é na escola onde surgem as questões de racismo, machismo, violência e desigualdade. Por isso, ela acredita que é impossível simplesmente ignorar essas questões e implementar um sistema educacional que não ensina a pensar.
“Gênero e feminismo são questões políticas e não podemos deixar de lutar. O meu feminismo é pela luta dos direitos das mulheres, para uma mulher ser eleita e ser mantida no cargo. O golpe que derrubou Dilma Rousseff foi machista, misógino. É contra todas nós, é contra a educação. Não sou vítima. Vítimas somos todos nós, que eles querem calar, neutralizar o ensino, para não se tenha mais uma sociedade crítica. Não à escola sem partido, sim à liberdade de cátedra, à democracia, à liberdade e à justiça social”, afirma a professora, emocionando a plateia do Simpósio.
Fonte: Marcelle Pacheco/Senge-RJ