O Tribunal de Justiça do Rio tem, finalmente, uma desembargadora negra. A promoção da juíza Ivone Caetano foi confirmada ontem. “Tudo é mais difícil para uma pessoa negra”, discursou ela. Ivone fala com conhecimento de causa.Mesmo entre seus pares, já sofreu preconceito.
Em entrevista exclusiva a O DIA, a desembargadora revelou comentários racistas recebidos por ela na lista de mensagens da Associação de Magistrados Brasileiros (AMB), em 2012. “Até agora não soube de qualquer punição ao responsável”, lamentou.
Foi às vésperas da aprovação da lei federal que instituiu cotas para negros nas universidades públicas. Em mensagem na lista da AMB, um magistrado que se identificou como Sérgio Braz reclamou: “Se querem incluir negros, porque não se incluir anõezinhos, portadores de burrice, gaguinhos, bichas, lésbicas, calhordas, Síndrome de Down, (…) abobados, bêbados viciados em crack, (.) leprosos, etc…”. O texto tem data de 25 de abril de 2012.
Braz seria um magistrado paulista. Ivone lamenta que ninguém tenha sido punido, apesar de ter enviado ofícios à AMB, Associação de Magistrados do Estado do Rio de Janeiro e a Maria do Rosário (então ministra dos Direitos Humanos). Sobre o racismo no Judiciário, ela comenta: “Não existe no País lugar que não tenha preconceito racial. Quanto mais alto for o patamar, mais camuflado e mais violento.” Através de assessoria, a AMB informou que se limitou a responder às indagações de um delegado carioca sobre o assunto,em 2013. Nenhuma sanção foi aplicada ao magistrado. Presidente atual da Amaerj, Rossidélio Lopes não conhecia a denúncia. “Nossa assessoria jurídica está à disposição”, disse.