Presidente da Fisenge participa de homenagem a Vito Giannotti

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Emoção e generosidade marcaram a mesa de homenagem a Vito Giannotti no 21º Curso Anual do Núcleo Piratininga de Comunicação, no dia 19/11. O presidente da Fisenge, Clovis Nascimento compôs a mesa ao lado de Claudia Santiago Giannotti com os dirigentes Carlos Campos (STIU-DF) e Herbert Claros (Metalúrgicos São José). “Vito Giannotti foi e sempre será parceiro da Fisenge e dos nossos sindicatos. Vito vive em nossos corações e mentes”, afirmou Clovis, que entregou à Claudia Santiago um DVD com uma entrevista inédita com Vito.

Confira a entrevista com o presidente da Fisenge, que foi publicada na apostila do curso do NPC sobre “A MÍDIA DE ESQUERDA NO COMBATE AO CONSERVADORISMO NO BRASIL”

Profissional com mais de 40 anos de atuação no setor de saneamento ambiental, Clovis Nascimento é engenheiro civil e sanitarista pós-graduado em políticas públicas e governo e atual presidente da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge) e da Caixa de Assistência dos Servidores da Cedae. Clovis também exerceu o cargo de Subsecretário de Estado de Saneamento e Recursos Hídricos do Rio de Janeiro e foi Diretor Nacional de Água e Esgotos da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades do Governo Federal.

Como você vê a mídia brasileira hoje?
“Se quer ter opinião, compre um jornal”, disse Assis Chateaubriand, dono do monopólio Diários Associados, entre as décadas de 1940 e 1960. Esse princípio de Chatô permeou a história dos meios de comunicação no Brasil. Isso porque a comunicação em vez de ser construída por sua função social, foi pautada pela hegemonia do capital. Desde o início, a manipulação da informação é utilizada para privilegiar anseios do mercado e da direita conservadora. Os meios de comunicação ignoram os movimentos sociais, os sindicatos e as parcelas mais oprimidas da sociedade. A mídia, hoje, nada mais é do que o reflexo da organização da sociedade brasileira alicerçada pela desigualdade e acúmulo de riqueza para alguns. Podemos contar nos dedos o número de famílias que detém os meios de comunicação no Brasil.

Quais as possibilidades de disputa nesse processo?
Primeiramente, precisamos reconhecer que houve avanços, mesmo que tímidos. Uma vitória dos movimentos sociais foi a realização da I Conferência Nacional de Comunicação, em 2009. Importantes resoluções foram deliberadas. No entanto, houve e ainda há pouca efetividade na ação prática. Precisamos fortalecer a luta pela democratização da comunicação e também ocupar os espaços que já existem, como a comunicação pública e os veículos comunitários e alternativos.

Você citou a comunicação pública. Por que ainda é tão desvalorizada na sociedade?
A comunicação pública, hoje no Brasil, é representada pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), responsável pelos veículos TV Brasil, TV Brasil Internacional, Rádios EBC, Agência Brasil, Radioagência Nacional e Portal EBC. Há um esforço de construção de um conjunto de mídias que disputem com a mídia privada, mas ainda há gargalos a serem enfrentados, como a afirmação da linha editorial como verdadeiramente pública e o aumento de repasse de verbas públicas. Temos nas nossas mãos uma rede de veículos, que devem ser ocupados por nós, sindicatos e movimentos sociais. O próprio Conselho Curador da EBC é um exemplo de representatividade com jovens, negros, mulheres, sindicalistas, entre outros. Precisamos disseminar mais a EBC pela sociedade, falar sobre a EBC e estimular que as pessoas tenham a comunicação pública como referência de informação. Também precisamos ocupar e fortalecer as rádios e TVs comunitárias.

A informação em vez de informar, desinforma. Como você vê essa contradição?
A mídia privada não cumpre a função social da comunicação que deveria ter como princípio primeiro a informação. Apenas com informação de qualidade teremos uma sociedade verdadeiramente democrática. Não podemos ousar falar em democracia com uma mídia que mais desinforma do que informa. O que vemos é a descarada manipulação da informação em prol de interesses pessoais. E essa é uma característica histórica no nosso Brasil, construída a partir de uma lógica personalista, como vemos na própria política. Os interesses pessoais e privados estão acima dos interesses coletivos e o nosso papel é lutar pela radicalização da democracia todos os dias.

É possível reforma política sem democratização da mídia?
Absolutamente não. Uma reforma do sistema político pressupõe a democratização dos meios de comunicação. E isso não significa censura como setores de direita alardeiam. Pelo contrário. Censura é o que vivemos hoje, pois as nossas vozes e as nossas dores não estão nos jornais. Lá reinam os lucros e a opressão. Queremos uma sociedade verdadeiramente democrática e, para isso, é imprescindível a democratização dos meios de comunicação e o acesso à informação. Até porque sabemos que nenhuma matéria e nenhum veículo é neutro. A imparcialidade é um mito.

Qual o papel da mídia alternativa?
A mídia alternativa de esquerda tem importância para trazer o contraditório. Vivemos um importante momento com as redes sociais e temos feito contraponto diante da manipulação das informações. No entanto, precisamos enfrentar o maior desafio que é a construção da nossa unidade. Precisamos unir forças e concentrar nossos esforços e nossas produções em um veículo com musculatura capaz de disputar as narrativas que estão colocadas. Vamos reverenciar o saudoso companheiro Vito Giannotti, que era defensor da unificação das nossas mídias alternativas.

Quais os principais desafios?
A dificuldade de recursos, a periodicidade e a busca pela interação coletiva são alguns dos desafios. Não é tarefa fácil, mas temos que colocar como meta a unificação das mídias alternativas. As forças da esquerda se dividem muito com diferentes enfoques e prejudica o processo de disputa frente à mídia privada. Para mudar essa história, precisamos ganhar corações e mentes, estabelecendo enfrentamentos.

Como você avalia a comunicação sindical?
Nosso universo é muito restrito e temos aberto mais a nossa comunicação e nosso diálogo com a sociedade. Temos uma história em quadrinhos, que traz como personagem principal uma engenheira, divorciada com dois filhos, a Engenheira Eugenia [www.fisenge.org.br]. Tratamos de temas do cotidiano da mulher trabalhadora e, hoje, é referência em diversas entidades no Brasil. Em breve, essa história em quadrinhos irá se transformar em um desenho animado. Temos compreendido, a cada dia, que a comunicação sindical precisa inovar em suas narrativas e formas de comunicação. Outro canal que precisamos disputar qualificadamente é a rede social. Ali, geramos debate e engajamento. Há disputa de ideias, mas também há ódio. Para vencer o ódio, precisamos de informação, coragem e debate político. Tudo aquilo que o nosso querido amigo Vito Giannotti dizia: “sair do umbigo”. Nesse sentido, o Núcleo Piratininga de Comunicação exerce papel fundamental de formação de comunicadores e dirigentes. Com esse trabalho, percebemos o quanto a comunicação é estratégica na organização de qualquer entidade. Temos uma imensa gratidão ao NPC, que sempre esteve ao nosso lado, inclusive assinando a autoria de nosso livro de memórias “Fisenge 20 anos: duas décadas de lutas e esperança”, cujo título fora dado por Giannotti. Fica a nossa eterna gratidão. Aprendemos com Vito que é preciso reorganizar forças num gesto de amor revolucionário para fortalecer nossa luta. Vito Giannotti, presente!

Por Camila Marins (jornalista Fisenge). Crédito foto: Pablo Vergara