No início de abril, o o governo retirou sete empresas do Programa Nacional de Desestatização (PND) e três do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), sendo uma destas a Petrobrás. A medida foi comemorada pela categoria dos petroleiros, que denunciava os retrocessos atrelados a este modelo de gestão.
Para entender a medida e quais as ações que estão sendo retomadas na Petrobrás com o retorno de investimentos em refinarias no Nordeste, como a Refinaria Abreu e Lima, localizada em Pernambuco, o Brasil de Fato conversou com Rogério Almeida, coordenador do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Petróleo de Pernambuco e Paraíba (SindipetroPE/PB). Confira:
Brasil de Fato Pernambuco: Nos primeiros dias de janeiro, o presidente Lula (PT) retirou oito estatais da lista de privatização, dentre elas a Petrobrás. O que esse processo de desprivatização representa para a empresa?
Rogério Almeida: Isso fazia parte do programa do governo Lula, até então candidato, que [prometeu] rever essas questões das privatizações da Petrobrás e dentre elas a que estava na lista de ser privatizada, a Refinaria Abreu e Lima junto com o terminal Aquaviário de Suape. Ia ser uma perda gigantesca aqui para o povo de Pernambuco.
O governo Lula ganhou as eleições, está com um projeto de governo em andamento. Dentro da Petrobrás está tendo um pouco de dificuldade para barrar as privatizações porque sete pólos foram colocados na lista de privatização, que foram dois pólos terrestres no Rio Grande do Norte de exploração de petróleo; mais três no Espírito Santo e a refinaria Lubnor lá no Ceará. O conselho de administração ainda era do governo anterior e estava com essa linha de privatização.
Dia 27 de abril teve a assembleia onde foram substituídos esses conselheiros. São oito conselheiros substituídos e aí sim entra a indicação do governo federal. Com esses oito conselheiros e a gente vai rever o plano de negócios da Petrobrás e, revendo esse plano de negócios, com certeza vai cair a ampliação do parque de refino, vão suspender todas as privatizações efetivamente e aí a gente vai ter mais fôlego e mais expectativa de crescimento.
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Pelo visto, essa medida teve impacto aqui em Pernambuco, pois a Refinaria Abreu e Lima que estava na mira da privatização, agora receberá investimento para conclusão da sua planta. Quais os impactos dessa retomada da Refinaria aqui no estado?
Com essa obra do SNOX [unidade de abatimento de emissões, com a função de tratar os gases resultantes do processo de produção de combustíveis com baixo teor de poluentes, tais como o Diesel S-10] em andamento desde o ano passado, essa planta vai pegar as emissões de poluentes de SOX [óxidos de enxofre] e transformar em ácido sulfúrico para venda. É mais um produto que vai sair da refinaria. Além disso, já teve empresa que ganhou o processo de licitação para ampliação da produção da Refinaria Abreu e Lima, que a gente está chamando de Revamp do Trem 1, ou seja, quando eu falo trem, são as duas refinarias, Trem 1 e Trem 2. O Trem 1 está com a produção de 115 mil barris de petróleo, a máxima dele, e está trabalhando um pouco abaixo disso agora por conta das emissões de poluentes por controle do CPRH [Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco], mas ele pode processar até 115 mil barris.
O que vai ser essa Revamp do Trem 1? Vai ser o aumento dessa carga de 115 mil pra 130 mil barris. Além disso, a terceira grande obra vai ser a continuidade do Trem 2 que está 70% concluído. A licitação deve entrar agora no meio deste ano para duplicar a produção da refinaria. Com o Trem 2 a gente vai processar 260 mil barris de petróleo por dia, uma das maiores produções e refino de petróleo do Brasil.
Tudo isso vai trazer empregos e desenvolvimento aqui pra nossa região, que até então vinha tendo esse grande desenvolvimento do Porto de Suape e infelizmente nos últimos quatro anos e foram sendo paradas todas as obras, todos os investimentos. Os estaleiros pararam de produzir navios e isso também é uma promessa do governo Lula e provavelmente devem ser retomados os estaleiros aqui em Pernambuco para produzir navios para a Petrobrás.
A refinaria vai receber investimento para a produção do Diesel R, o chamado Diesel Verde, que está no início da sua implementação. O que seria isso?
Veio agora uma notícia, muito boa, de que vai ser uma planta de produção de biocombustível usando óleo vegetal e também possivelmente de origem animal, gordura animal aí se transformando em biodiesel. Esse biodiesel deve ser incorporado na produção de diesel da Refinaria abreu e Lima – lembrando que nós já produzimos o diesel mais limpo do Brasil e exportamos para a Europa.
Esse diesel tem um baixo teor de enxofre e com essa implementação do biocombustível à base de óleo vegetal e gordura animal provavelmente vai ser uma referência para essa nova geração de diesel limpo e biodegradável.
Para encerrar nossa entrevista, quais são as expectativas da categoria para esse novo governo?
A categoria petroleira está muito esperançosa com essa retomada, tanto dos investimentos aqui no nosso estado, na refinaria Abreu e Lima, quanto na Transpetro que também está com a perspectiva de demandas de navio, porta-navio, ou seja, vai reativar os estaleiros aqui em Pernambuco e também a ampliação do terminal aquaviário de Suape que a gente está solicitando aos gestores.
A gente tem a Transnordestina, que é um exemplo importante, e está voltando a sair do papel a conclusão de Salgueiro até Suape, porque o trecho que está mais adiantado e concluído é até Pecém, no Ceará. Concluindo esse trecho a gente vai ter uma ligação diretamente do Porto de Suape com o Porto de Pecém. A gente tem também outra solicitação inclusive de um um terminal terrestre da Transpetro para distribuir combustível a preço mais barato para o interior. A gente fez a solicitação para que fosse instalado em Salgueiro, justamente na “encruzilhada do Nordeste”, onde tem a bifurcação na Transnordestina. Seria um grande avanço para desenvolver aquela região também do interior.
Além disso, a categoria vai continuar com suas lutas de rever as perdas que nós tivemos nos últimos seis anos, perdas salariais, de direitos. Nós estivemos aqui contra a privatização e nesse processo de resistência a gente teve que abrir mão de muitas coisas nos nossos acordos coletivos. Então é hora da gente recuperar, a categoria está engajada para esse processo e a gente deve estar construindo agora um novo acordo coletivo. A partir de junho e até setembro a categoria vai estar na linha de frente fazendo seu papel de exigir a retomada desses direitos.
Fonte: Iyalê Tahyrine/Brasil de Fato
Foto: Geraldo Falcão/Agência Petrobras