Orgulho Gay: confira entrevista com o antropólogo Luiz Mott para o boletim do Coletivo de Mulheres da Fisenge

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No mês do Orgulho Gay, a Fisenge entrevistou o antropólogo e fundador do Grupo Gay da Bahia, Luiz Mott, que fala sobre os avanços do movimento gay. Confira a entrevista. 

Como você avalia a intervenção de grupos religiosos num Estado que deveria ser laico?
Infelizmente, no Brasil, na América Latina e na África, as igrejas pentecostais inspiradas num fundamentalismo têm usado a mídia para divulgar intolerância religiosa, principalmente, em relação às de matriz africana, e também discriminação aos grupos gays e de prostitutas. O Brasil tem de enfrentar de forma corajosa e dura essa tentativa de estrangulamento do Estado laico. Estes grupos querem incluir o ensino religioso confessional nas escolas e criminalizar ainda mais.

Hoje, acompanhamos que, ao mesmo tempo, que há maior visibilidade das relações homossexuais, também há agressão e violência. Como enfrentar este cenário e caminhar para o processo de respeito dos direitos dos gays?
Existe uma lei sociológica que quanto mais os grupos oprimidos saem do armário com garantias legais, mais os grupos fundamentalistas se revoltam. Muitas vezes, no dia das paradas gays, muitos homossexuais são assassinados e espancados, principalmente nas periferias. Se, por um lado, a Justiça reconhece direitos, por outro, evangélicos e católicos fundamentalistas tentam impedir. É papel do Estado impedir estas práticas nazifascistas e contribuir para que caminhemos para a liberdade, jamais para um retrocesso.

Qual a importância da tipificação da homofobia?
Até 1821, quando foi extinta a inquisição, a sodomia era considerada crime. De 1823 em diante, a homossexualidade não consta mais como crime, mas os gays eram presos por vadiagem, pederastia. O Brasil precisa acompanhar os avanços dos países do 1º mundo. Que a Justiça garanta isonomia. Afinal, todos são iguais perante a lei.

As travestis ainda vivem à margem da sociedade. Como podemos romper com esta situação?
O Brasil é muito rico em diversidade sexual. Em séculos passados, os índios se travestiam, tanto os homens como as mulheres. Francisco Manicongo foi a primeira travesti do Brasil, utilizando o nome social de Xica Manicongo, em Salvador. Ela usava roupas de feiticeiras africanas da quimbanda. Hoje, os gays representam cerca de 10% da população e as lésbicas 6%, enquanto as travestis ainda não foram incluídas no IBGE. Há uma estimativa de cerca de 1 milhão de travestis e trans no Brasil. Em Salvador, temos média de 300. As travestis representam um grupo muito discriminado com violência que começa dentro da própria casa e depois na escola. Muitas não terminam o ensino médio por conta do bullying que sofrem. Por não encontrarem atividades para sobreviver, a maioria vive na prostituição, vítimas da dificuldade da marginalidade. Muitas não encontram alojamento e nem saem durante o dia. É fundamental o cumprimento das políticas aprovadas durante a Conferência Nacional LGBT, como o direito ao nome social, ao emprego, etc.

Como a mídia vem tratando a questão?
A mídia e as redes sociais melhoraram muito nos últimos tempos. Raramente, usam termos ofensivos, mas insistem em não chamar a travesti por ela. A imprensa tem que divulgar notícias sobre as vítimas de violência e também sobre a emancipação delas. Várias ocupam cargos na administração pública, como a Paulete Furacão, por exemplo. É preciso divulgar o lado positivo também.