Milhares de pessoas foram às ruas em todo o Brasil. Inicialmente, a principal bandeira foi a redução da tarifa do transporte público, que, rapidamente, se desdobrou em uma ampla agenda de reivindicações.
O dinamismo da conjuntura atual tem proporcionado inúmeros avanços em pautas históricas da esquerda brasileira. Uma grande vitória foi o anúncio da reforma política pela presidenta Dilma Rousseff. Esta sinalização positiva, especialmente com a possibilidade da realização de um plebiscito para definição de principais eixos, provocou setores conservadores e a mídia. Está clara a tentativa de impedir a necessária reforma política no país. Sabemos que estes setores querem apresentar o pacote fechado, de acordo com seus interesses. No entanto, vale destacar que o plebiscito é um importante instrumento da democracia direta para politizar o debate na sociedade.
Defendemos intransigentemente o financiamento público de campanha; a unificação das eleições; a extinção de indicação para suplência de senador; a redução do número de assinaturas para projetos de iniciativa popular de 1,5 milhão para 500 mil assinaturas e a aceitação de subscrição pela internet; a fidelidade partidária. A reforma política não deve se esgotar em uma proposta eleitoral. É preciso mais. É preciso uma reforma no sistema político como um todo. Por isso, é fundamental a luta por reforma agrária, reforma urbana e pela democratização dos meios de comunicação. Hoje, poucas famílias controlam os principais veículos do país, que cumprem um papel histórico de defesa do capital e dos setores conservadores da sociedade. O Brasil precisa ser refletido em sua pluralidade nos meios de comunicação, na construção de um projeto de nação justa e igualitária.
O atual processo político não foi desperto de uma hora para outra. Acumulamos há décadas lutas sociais nas ruas, ecoando a voz do trabalhador e lutando por melhores condições de trabalho e de vida. A ocupação das ruas é fundamental para o avanço das transformações sociais e a radicalização da democracia. Já conquistamos vitórias, como o arquivamento do projeto da “cura gay”; o fim do voto secreto no Senado e a distribuição dos royalties do pré-sal para as áreas de educação e saúde. Estamos avançando e precisamos permanecer mobilizados para avançar mais.
O povo está nas ruas e é preciso ouvi-lo.
Carlos Roberto Bittencourt é engenheiro agrônomo e presidente da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros