“O nosso grande desafio é promover e sustentar o crescimento econômico”, afirma o diretor do DIEESE, Clemente Ganz.

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por Camila Marins

Foto: Alessandro Carvalho

De acordo com dados do IBGE, a variação do PIB total em 2008 foi de 5,1% e em 2017 de 1,0%. O crescimento do PIB de 1% em 2017 deixou o Brasil em último lugar dentro de um ranking de 45 países. O sociólogo e diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz, fala sobre os pilares de um projeto de retomada do desenvolvimento econômico.

É sociólogo graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná. Desde 2004 é Diretor Técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – DIEESE. Atualmente é Docente Horista da Escola DIEESE de Ciências do Trabalho, Membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República (CDES) e Membro do Conselho de Administração do Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI.

Quais os principais problemas macroeconômicos do Brasil e de onde pode vir o impulso para a geração de empregos?

São vários os problemas macroeconômicos, mas eu resumiria que o nosso grande desafio é promover e sustentar o crescimento econômico. Considero que duas dimensões são fundamentais, de um lado ampliar o investimento público e privado, investimento em infraestrutura econômica e social. Isso requer como resposta uma reorganização da capacidade de financiamento para investimento. Portanto, uma reorganização de todo o sistema financeiro, voltado para o investimento produtivo e uma equação macroeconômica que coloque e permita que o câmbio tenha um equilíbrio que sustente o desenvolvimento produtivo, além de uma integração econômica fortalecida pela capacidade de produção de manufatura e de serviços que são exportáveis para o mundo.

A produção dessa estratégia é complexa e exige um projeto de estruturação de um desenvolvimento em termos de diversidade industrial, tamanho do mercado interno, posicionamento geopolítico e vantagens competitivas. A outra dimensão fundamental se dá por um lado pelo próprio investimento e de
outro lado pela capacidade do Estado tenha de realizar os investimentos. 

“O PAPEL DA ENGENHARIA É DAR SUPORTE, PROMOVER CAPACIDADE, CONSTRUIR OS ELEMENTOS QUE DÃO CAPACIDADE ECONÔMICA PARA UMA SOCIEDADE”

Especificamente no caso do Estado, a sustentação da demanda exige uma reorganização fiscal, articulada a partir de uma estratégia de crescimento econômico que, em um primeiro momento, gera capacidade para retomada do crescimento. No segundo momento, na medida que o crescimento promova a ampliação da própria capacidade fiscal do Estado, reorganizar um equilíbrio fiscal, reorganizar o orçamento público de tal maneira que o investimento tenha um orçamento próprio, garantindo uma sustentação de médio e longo prazo. De outro lado que os gastos sociais possam ser debatidos e, politicamente, definidos à luz das prioridades que o país tem e daquilo que a capacidade fiscal vai gerando em termos dos investimentos.

No âmbito das famílias, é fundamental que nós tenhamos uma política emergencial de curtíssimo prazo, visando criar ocupações para gerar renda para aquelas pessoas que estão em situação de desemprego de longa duração e, rapidamente, estruturar uma política de investimento, de reorganização da nossa capacidade, de estruturação econômica e social de investimento necessário para o espaço urbano e rural. E nessa política de investimento rearticular o sistema produtivo para uma estratégia na qual a nossa base de produção econômica esteja orientada para a estruturação de formação de capital, capa-
cidade produtiva, formação de uma mão de obra em termos de conhecimento. É necessário que essa articulação resulte em um projeto que traduza as nossas prioridades em termos de crescimento, de geração de empregos àquelas nossas capacidades reais de desenvolvimento econômico. Essa relação entre investimento, papel do Estado e a organização das empresas e dos investimentos na ampliação do capital e, portanto, da tecnologia aplicada e do conhecimento é fundamental.

Qual o papel da engenharia na economia e no desenvolvimento social?

A engenharia é aquela área de produção de conhecimento e da ciência que reúne desenvolvimento e a capacidade cognitiva de resolver problemas e de dar materialidade a soluções que possam transformar uma realidade em relação aquilo que se busca. A capacidade de engenharia está associada a uma capacidade que a sociedade tem de estruturar a sua base econômica e os processos de produção que geram bens e serviços, que dão todos os elementos que compõem a nossa vida cotidiana, do ponto de vista de infraestrutura econômica e social. O papel da engenharia é dar suporte, pro-
mover capacidade, construir os elementos que dão capacidade econômica para uma sociedade produzir o seu desenvolvimento social.

Para um próximo governo, quais deveriam ser as primeiras medidas ao tomar posse?

Primeiro será necessário ter uma grande iniciativa de articulação no âmbito do Congresso e com os agentes econômicos e sociais para estruturar as grandes iniciativas de organização do nosso desenvolvimento econômico e social. A organização de processos legislativos que autorizem transformações, seja na estrutura tributária e sistema produtivo, ou recolocando em padrões e condições para que o desenvolvimento nacional seja centrado na capacidade produtiva da nossa economia para estruturar o nosso desenvolvimento social. Isto exige pactuação entre trabalhadores e empregadores, iniciativas de reorganização do Estado brasileiro e de uma estratégia de desenvolvimento produtivo. Ao mesmo tempo, é necessário reorganizar rapidamente a estrutura orçamentária da União, rever a lei do teto (PEC 95), recolocar a organização do sistema tributário e da organização fiscal do Estado em novos patamares com centralidade no investimento e políticas sociais. É preciso uma reestruturação muito forte visando fortalecer o Estado com tecnologia da informação e capacidade gerencial para administrar a complexidade das políticas públicas e do desenvolvimento econômico. É necessário urgentemente reto-
mar obras públicas que estão paradas para gerar emprego, demanda para indústria, resultando no desenvolvimento da atividade produtiva.

Que áreas são estratégicas para o desenvolvimento do Brasil?

Considero a infraestrutura econômica a base de uma grande estratégia de desenvolvimento para fazer parte de uma estratégia de médio e longo prazo nos setores de energia, transporte, comunicação, articulados com uma capacidade produtiva distribuída e indutora de pesquisa, de ciência, de tecnologia e de inovação. A outra dimensão fundamental é que 85% da nossa população já mora no espaço urbano que se coloca como uma oportunidade de grandes investimentos e de profundas mudanças. Isso significa pensar um espaço urbano saudável para a vida coletiva, acompanhado por saltos tecnológicos que as áreas de energia, comunicação e transporte podem dar.

O Brasil tem um vasto território e toda a área de lazer e de turismo pode ser desenvolvida a uma vasta capacidade de produção agrícola. Temos as maiores áreas de terra agriculturáveis, portanto, a produção de alimentos é um eixo estruturante do nosso desenvolvimento econômico e a industrialização dessa produção é elemento essencial para agregação de valor. A produção de ciência e tecnologia ao desenvolvimento de tecnologias inovadoras na área da produção alimentar é uma parte fundamental do nosso desenvolvimento. A nossa biodiversidade é uma oportunidade de produção e de industrialização de medicamentos para uma sociedade que envelhece.