O rendimento mensal do designer gráfico, Edson Pereira do Carmo, de 53 anos, que está desempregado desde 2019, caiu de 50% a 90% desde que começou a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) porque até para conseguir trabalhados temporários e freelancers está mais difícil para pessoas que estão no grupo de risco do vírus.
Como Edson, centenas de trabalhadores com idades entre 50 e 65 anos, que vinham sendo mais contratados pelas empresas nos últimos anos justamente por causa da qualificação profissional e experiência, são os mais prejudicados pela pandemia e também pelo agravamento da crise econômica.
O ritmo das admissões para o mês de setembro nessas faixas etárias está 30% abaixo da média dos últimos sete anos. A média de contratações de 2012 a 2019 foi de 89.679 trabalhadores acima de 50 anos. Neste setembro de 2020, as admissões chegaram a 74.265 – uma queda de 15.414 – mostra o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que retrata o mercado formal de trabalho.
Edson, que tem 38 anos de experiência em sua área, lamenta que a qualificação não seja levada em conta, só a idade. “Depois dos 50 anos percebi que as oportunidades são direcionadas aos mais jovens e com curso superior. Se eu não baixar meus preços, não pego o trabalho, não importa se tenho mais capacidade, mais rapidez em resolver um problema, ou estou no mesmo nível de pessoas mais novas”.
E ele tem razão, o ritmo de contratações está maior entre os mais jovens e, praticamente retornou aos mesmos patamares antes do início da pandemia. De acordo com os dados do Caged, a média de 2012 a 2019 foi de 474.351 contratações de jovens até 25 anos. Em setembro deste ano chegou a 481.420 – um ligeiro aumento de 7.069 novas vagas.
As demissões também foram menores para quem tem menos de 25 anos. A média de 2012 a 2019 foi de 410.351 e no último mês de setembro chegou a 293.133- uma queda nos desligamentos de 117.218. Uma posição bem mais favorável do que as dos trabalhadores acima de 50 anos.
A falta de espaço no mercado de trabalho para os mais experientes também afetou a vida de Jaci Gonçalves de Almeida, de 56 anos. Seu último emprego regular foi em 2018, como vendedor de uma empresa do setor alimentício. Nesses últimos dois anos, Jaci, que tem curso superior em Gestão Ambiental, inclusive, foi professor de educação ambiental, faz entregas por aplicativos e é entregador fixo numa hamburgueria, na grande São Paulo.
Para poder trabalhar ele comprou uma moto com a indenização recebida, pois já sentia que não teria mais espaço no mercado de trabalho.
“Pela idade e pela crise econômica percebi que dificilmente teria uma nova oportunidade na minha área, apesar da experiência de vida e de mais de 20 anos de carteira de trabalho”, conta Jaci.
O trabalho é pesado, das seis da noite até às três da manhã, num total de nove horas, Jaci faz entregas pela hamburgueira na região de Itapevi e cidades vizinhas, e para complementar os R$ 2.500 que consegue retirar por mês, ele trabalha outras cinco horas pelo aplicativo.
“É bem difícil porque além das 14 horas trabalhadas por dia, ainda me preocupo com a violência da região em que trabalho e moro. Vejo muitos colegas sendo assaltados e até assassinados por aqui”, lamenta o gestor ambiental.
Casado e pai de uma filha não biológica de 30 anos, que mora com a neta, Jaci conta que a sua mulher contribui com o salário mínimo que recebe por ter se aposentado por motivos de saúde. Do que o casal ganha eles pagam além das despesas do dia a dia a prestação de um apartamento e o condomínio.
Com pouco dinheiro sobrando e sabendo que a aposentadoria se tornou mais distante depois da reforma da Previdência (homens se aposentam aos 65 anos de idade), Jaci não tem esperanças de um futuro melhor.
“Não tenho perspectiva de voltar a atuar na minha área de gestão ambiental, que é o que eu gosto. Por isso, trabalho um dia por vez, mas sem perspectiva de melhora. Pelo que vejo nos telejornais o ano de 2021 ainda será de crise e com a pandemia”, lamenta o agora entregador.
É também nas entregas como motorista de caminhão que o designer gráfico Edson do Carmo pretende trabalhar para repor parte do rendimento perdido na pandemia. Orgulhoso, diz que não se inscreveu para receber o auxílio emergencial porque sentiu que havia outros que precisavam mais do que ele.
“Eu moro com a minha sogra que tem a aposentadoria dela, meu filho e esposa trabalham e a gente vai segurando as pontas. Por isso não fui atrás do auxílio. Eu vi que militares e alguns políticos receberam os R$ 600. Essa gente deveria ter vergonha na cara. Deveriam ter deixado para quem de fato precisa”, diz indignado.
Fonte: Rosely Rocha/CUT
Edição: Marize Muniz
Foto: ROBERTO PARIZOTTI/ CUT