Gêneros diferentes, direitos iguais. Este slogan resume bem o contexto do Seminário Mulher, Trabalho e Participação Sindical promovido pela Fisenge no auditório do Senge-RJ. Proposto pelo coletivo de mulheres da federação, com a participação de lideranças de todos os sindicatos filiados, o evento representou um passo histórico na consolidação da Diretoria da Mulher e na luta das engenheiras por maior presença no movimento sindical. Abriram o encontro o presidente da Fisenge, Carlos Roberto Bittencourt, e a diretora e coordenadora do Coletivo de Mulheres, Márcia Nori (foto).
Em pauta, a importância de permanentes discussões sobre questões de gênero, a pouca representatividade da mulher em cargos de decisão dentro dos sindicatos e empresas e a crescente necessidade de um maior número de mulheres nos sindicatos e federações para que conquistem mais espaços. Como parte das atividades, ainda na abertura, foi apresentado um esquete teatral que trouxe à tona os conflitos da vida pessoal, profissional e sindical, da mulher militante na sociedade moderna.
Desigualdade inexplicável
A professora de Sociologia da UFRJ, Bila Sorj destacou os enormes avanços conquistados pelas mulheres ao longo dos tempos, lembrando que apesar da legitimidade do trabalho da mulher, elas ocupam as piores áreas do mercado de trabalho e na informalidade. “Mesmo sendo tão ou mais capacitadas que os homens, elas continuam ganhando em média 30% menos que os homens, o que é inexplicável”, afirmou Bila.
“Essas diferenças são ocasionadas principalmente por três fatores: a ausência de políticas públicas, a baixíssima distribuição dos afazeres domésticos e a organização do trabalho, que foi toda elaborada sob a ótica masculina”, esclareceu a socióloga. Analisando as perspectivas, Bila Sorj vê o sindicalismo caminhando junto com as mulheres, frisando, que a igualdade no mundo passa necessariamente pela igualdade de gênero.
O trabalho coletivo
A oficina com o tema “Quem somos, o que queremos, para onde vamos?” buscou refletir sobre conquistas, derrotas e caminhos a seguir. Divididos em grupos os participantes foram coordenados pela socióloga e antropóloga Solange Dacach de forma a apontar causas que aproximem e distanciem as mulheres dos sindicatos e dos espaços políticos em geral. “Trabalhar com o coletivo é trabalhar com as diferenças”, declarou Solange.
O ciclo de debates com o eixo “Experiência na implantação de Políticas de Gênero em empresas e Sindicatos” se iniciou. A primeira palestrante a falar foi a presidenta do Sindicato dos Urbanistas de Alagoas e Diretora da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), Amélia Fernandes, que em meio a uma restrospectiva histórica da luta das mulheres, lembrou que os papéis do homem e da mulher são uma construção social e não um fator biológico. “Apesar das vitórias ainda há muito a ser conquistado. A primeira mulher presidenta no Brasil foi eleita, mas a participação das mulheres na política continua sendo minoritária. Temos muito que caminhar para trazer as mulheres para o espaço público” afirmou Amélia.
Militância: instrumento de prazer
Giucélia Araújo, Secretária de Estado do Desenvolvimento Humano da Paraíba, tratou da militância como instrumento de prazer e destacou a importância de uma sociedade justa, fraterna e igualitária. Segundo Giucélia “é fortalecendo a base de cada categoria que se consegue atingir a sociedade como um todo”.
Helena de Bragança, assessora de Planejamento e Coordenação da Eletrobrás, abordou especificamente a experiência de Furnas no campo da implantação de políticas de gênero. Helena salientou os principais eventos e conquistas por parte das mulheres na empresa, tais como licença maternidade de 180 dias, auxílio-creche estendido aos homens, alteração da nomenclatura nos editais da empresa (passando a ter o feminino e masculino em todos os cargos), entre outros. “Era um absurdo. A mulher não tinha nenhum poder gerencial. Para se ter ideia da disparidade, as engenheiras mulheres não podiam dirigir quando iam fazer um trabalho de campo. Não havia nem banheiro feminino em muitas áreas regionais. Havia três banheiros masculinos e nenhum feminino. E ninguém se preocupava com isso”.
A sindicalista Mara Feltes, vice-presidenta da UNI America Mulheres, abordou a negociação global nas empresas. Mara falou que era contra cotas para mulheres, mas disse ter mudado de opinião quando passou a ver a realidade do mundo do trabalho. “As cotas não são a solução, mas são um meio de se chegar lá”, afirmou.
Principais direitos
Sob a coordenação de Márcia Nori que, junto com Simone Baía, foi responsável também pela organização, o Coletivo de Mulheres da Fisenge lançou, durante o seminário, a publicação Principais Direitos das Mulheres Profissionais, com o objetivo de servir como instrumento de luta das mulheres por seus direitos no mercado de trabalho. “A luta pelo cumprimento desses direitos deve ser incessante e diária e realizada por homens e mulheres. Considerando que cada trabalhadora, independentemente de sua profissão ou história de vida, é uma cidadã, o Coletivo de Mulheres da Fisenge avalia ser de utilidade pública os esclarecimentos sobre os deveres e os direitos da mulher trabalhadora contidos nesta cartilha”, comemoram Márcia Nori e Simone Baía.
Para o presidente da Fisenge, Carlos Bittencourt, essas primeiras conquistas apenas apontam para um projeto maior. “O salto de qualidade é, a partir da participação no Sindicato, a contribuição para a formulação de políticas públicas”, afirmou. Encerrando o histórico encontro Bittencourt deu ênfase ao desenvolvimento dos debates e mobilização das mulheres nos sindicatos. “Está no trabalho de base único caminho para consolidar de maneira efetiva a participação das mulheres”, concluiu.