Mudar a cultura organizacional é o primeiro passo para combater práticas discriminatórias

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Gênero e compromisso social. Este foi o tema da palestra realizada durante o Coletivo de Mulheres da Fisenge, no dia 04 de janeiro. Inicialmente, a socióloga e integrante do grupo gênero em Furnas, representando a Diretoria de Gestão Corporativa, Helena Elizabeth Kulnig, fez uma rememoração histórica da luta por políticas de gênero no país. “O setor elétrico foi pioneiro com as políticas de gênero adotadas. A partir de uma determinação do Ministério de Minas e Energia (MME), diversas empresas criaram práticas de combate à discriminação”, disse.

O Comitê Permanente para Questões de Gênero no MME e empresas vinculadas, criado em 2004, tem o objetivo de planejar, desenvolver e monitorar políticas sobre as questões de gênero. Partindo deste indicativo, Furnas criou o Grupo Gênero Construindo um Olhar Coletivo sobre a Mulher, em 2005, composto por titulares e suplentes de cada diretoria da empresa. Para além do âmbito corporativo, o grupo também atua para fora da empresa, especialmente, nas comunidades relacionadas à empresa.

O grupo começou as atividades com entrevistas coletivas, com as quais puderam apontar casos de violência moral e física, dentro e fora da empresa. “Nós descobrimos mulheres que eram agredidas pelos maridos, diferenças salariais, mulheres que eram rechaçadas pelos gerentes. Todos esses depoimentos culminaram na publicação de um livro”, contou Lusia Maria de Oliveira, profissional de Furnas e primeira vice-presidente a ser eleita no Senge-RJ em quase 80 anos de história.
Embora com dificuldades de atuação, devido às dificuldades de liberação nos departamentos, o grupo resistiu e, em 2006, conquistou o 1º selo pró-equidade, destinado às organizações que cumprem práticas antidiscriminatórias. O 2º e o 3º vieram naturalmente e Furnas é uma das nove empresas que conquistaram todos os selos pró-equidade no país. “Vencer os entraves é importante e se trata de um processo dialético, porque a determinação vem de cima para baixo, mas quem mantém as atividades, levando os questionamentos à frente é o grupo”, apontou a engenheira Sandra Cristina Lins dos Santos, que representou o Senge-PR durante a reunião.

De acordo com Helena, as atividades passavam desde as entrevistas coletivas, filmes com corte de gênero, conversas, workshops, entre outros. “A violência doméstica também acontece no trabalho; pode ser por meio da violência moral, verbal ou até pelo menosprezo. Fizemos uma entrevista coletiva em Mogi das Cruzes certa vez e identificamos que mulheres não podiam dirigir o carro da empresa sozinhas para ir a campo. Os homens podiam dirigir e as mulheres precisavam de motorista”, lembrou Helena.

Com o aumento dos relatos de agressões físicas e morais, foi criado o grupo Diga não à Violência. Além disso, também foram conquistados benefícios em acordos coletivos de trabalho. “Conquistamos o benefício saúde estendido aos companheiros de mesmo sexo; criamos um grupo de gestantes com participação masculina. É fundamental envolver os homens nesse processo e despertar o companheirismo”, afirmou Lusia.

No entanto, mesmo com muitos avanços, tanto da própria realidade social, como da própria empresa, o grupo ainda enfrenta uma série de dificuldades. “O grupo não existe dentro do organograma da empresa. Somente uma mudança de cultura organizacional para podemos avançar mais”, sugeriu Helena, que propõe a alteração do grupo para um comitê, porque se configuraria como permanente. “Estruturar uma verdadeira política de gêneros em todos os espaços, desde o mercado de trabalho, até em casa e nas entidades de classe, é essencial para avançarmos pela igualdade de oportunidades. Mudar a cultura organizacional realmente é o primeiro passo”, concluiu Márcia Nori, coordenadora do Coletivo de Mulheres e vice-presidente do Senge-BA.