A cada ano torna-se mais premente a mudança de atitude em relação aos bens naturais, mas há ainda muito o que fazer. Falar em Meio Ambiente naturalmente nos remete ao verde das matas e, no caso especial do Brasil, à destruição da Mata Atlântica e de nossa Floresta Amazônica, mas urge conscientizarmos toda a população sobre outra questão igualmente importante em nosso país: a preservação da água.
O Brasil possui cerca de 12% da água doce do mundo; um planeta onde 45% da população não têm acesso aos serviços de água tratada e as projeções são de que em 2025 mais de 2 bilhões de pessoas não tenham nenhum acesso ao recurso. Em nosso país, as perdas no transporte da água potável desde as estações de tratamento até os consumidores domésticos, comerciais ou industriais chegam a atingir 40%.
Em 1992, o Brasil redirecionou o debate mundial sobre a preservação do Meio Ambiente ao adicionar a palavra desenvolvimento ao nome da conferência promovida no Rio de Janeiro sobre o assunto. O país deve, pois, continuar seu caminho próprio e não apenas manter os temas unidos, como utilizar o desenvolvimento tecnológico a favor da preservação de nossa água.
É urgente, por exemplo, um grande plano nacional de incentivo à adoção de técnicas mais modernas para irrigação das lavouras – como o gotejamento -, pois atualmente a agricultura consome 70% do volume extraído do sistema global de rios, lagos e mananciais subterrâneos.
Nas residências, é necessário o incentivo à adoção de projetos que contemplem, por exemplo, o reaproveitamento de água do chuveiro e pias e o uso da água da chuva dentro de um programa maior e permanente de incentivo à redução do consumo.
É preciso, ainda, maior atenção ao tratamento dos efluentes domésticos e industriais, para evitar o agravamento da poluição em mananciais não doces, como nossas lagoas, lagunas e mares, vide o caso da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
O tempo ensinou aos homens, algumas vezes de forma amarga, que não há desenvolvimento sem sustentabilidade. Entre os recursos naturais, a água tem papel primordial. E perder nossa vantagem original por possuir boas reservas do recurso pode nos conduzir a um futuro sombrio. É preciso começar agora a construir uma nova realidade.
AGOSTINHO GUERREIRO é presidente do Conselho Regional de engenharia, arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ).