Por Fátima Lacerda, da Agência Petroleira de Notícias
Difícil definir um marco que dá origem ao MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Entre 1979 e 1984, período de retomada das liberdades democráticas e reorganização dos trabalhadores, também no campo ocorriam ocupações, muitas vezes provocadas pela expulsão dos camponeses da terra, em conseqüência da construção das grandes hidroelétricas, como Itaipu, no sul do Brasil.
Mas para comemorar “os 25 anos de teimosia” – como define o dirigente João Pedro Stedile – foi escolhido o mês de janeiro de 2009. Em janeiro de 1984, em Cascavel, no interior do Paraná, reuniram-se lideranças de 16 estados brasileiros e decidiram unificar as suas lutas, em torno da bandeira do MST.
Contam os atuais dirigentes que os objetivos do MST sempre foram claros. Lutar por reforma agrária e por justiça social. O MST sempre identificou na imensa concentração de terras, um traço estrutural da colonização do país, desde as capitanias hereditárias, a raiz das desigualdades sociais. Hoje o plantio de soja em grandes extensões continua a produzir concentração de terras, como indicam dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Os dois últimos censos constatam que o número de propriedades, entre as safras 2006/2007, caiu em 42%, de 420.204 para 242.998, enquanto, no mesmo período, a produção de soja aumentou em 1,1%.
Os dados são preocupantes. Mas, sem o MST, seriam muito mais assustadores. Por trás do controle da terra estão, historicamente, mecanismos de poder e de dominação social. É contra esse poderoso inimigo de classe que o MST se levanta, com um custo altíssimo em vidas perdidas e retaliações, ano após ano. Um contexto massacrante que não assusta os trabalhadores sem terra, num país que sempre tratou com extrema violência todas as revoluções, rebeliões e organizações populares. É só dar uma folheada nos livros e verificar como foram impiedosamente sufocadas a Balaiada, a Cabanada, Canudos, os marinheiros da Revolta da Chibata. O Brasil continua a ser o país da conciliação entre as elites. E da chibata nos pobres. Essa realidade jamais mudou. Basta folhear as página mais recentes desse mesmo livro – como os massacres de Corumbiara e Carajás.
O MST mantém vivo o sonho, a utopia. Diz D. Pedro Casaldáglia, em entrevista ao jornal Brasil de Fato, referindo-se aos 25 anos do MST, que “a utopia é tão necessária quanto o pão”. Apesar dessa inegável verdade, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) faz política com o pé no chão. Eis o que escreve Stédile:
“A luta pela reforma agrária, que antes se baseava apenas na ocupação de terras do latifúndio, agora ficou mais complexa. Temos que lutar contra o capital. Contra a dominação das empresas transnacionais. E a reforma agrária deixou de ser aquela medida clássica: desapropriar grandes latifúndios e distribuir em lotes para os pobres camponeses. Agora as mudanças no campo, para combater a pobreza, a desigualdade e a concentração de riquezas, dependem da mudança não só da propriedade da terra, mas também do modelo de produção. E se os inimigos são, também, as empresas internacionalizadas, que dominam os mercados mundiais, significa que os camponeses dependerão cada vez mais das alianças com os trabalhadores da cidade para poder avançar nas suas conquistas”.
Fonte: Agência Petroleira de Notícias (www.apn.org.br)