Curitiba, reconhecida como um modelo no Brasil pelo sistema de transporte coletivo, enfrenta o desafio de garantir que todos os cidadãos, incluindo aqueles em situações econômicas mais desafiadoras, tenham acesso a um transporte de qualidade. Com cerca de 70 carros para cada 100 habitantes, o aumento da frota de veículos particulares e o retorno ao transporte por aplicativos após a pandemia são obstáculos à mobilidade sustentável.
Segundo dados da URBs, em 2017, 1.389.731 usuários utilizavam o transporte urbano em Curitiba. Em 2022, esse número caiu para 1.099.476, indicando um possível aumento da frota particular, mas ainda demonstrando o elevado número de pessoas que utilizam o transporte coletivo. “O transporte coletivo é uma necessidade vital para muitas pessoas que dependem dele diariamente. É nossa responsabilidade, como engenheiros, garantir que essas pessoas tenham uma experiência de deslocamento eficiente e confortável,” afirma Ivo Reck, engenheiro ambiental associado à APEAM e especialista em Transporte Terrestre.
De acordo com Ivo, a solução para os problemas de mobilidade urbana passa pela integração de diferentes modais de transporte e pela melhoria contínua das infraestruturas. “Precisamos pensar no usuário do transporte coletivo, que muitas vezes depende desse meio de transporte por questões econômicas. O papel do engenheiro é garantir que esse usuário tenha um deslocamento mais rápido, seguro e confortável, seja no transporte coletivo ou nos meios não motorizados, como a caminhada e a bicicleta“, diz.
A engenharia tem um papel central na criação de políticas públicas que visem reduzir os tempos de deslocamento e aumentar a confiabilidade do transporte coletivo. “A qualidade do transporte não está apenas no tempo dentro do ônibus, mas também no tempo de espera no ponto de ônibus, na qualidade do ponto de embarque e no conforto geral do usuário”, explica o engenheiro. Ele ainda destaca que, para aumentar a adesão ao sistema, é fundamental reduzir o tempo de espera e melhorar a eficiência das linhas de ônibus.
Mobilidade inclusiva
Ivo acredita que a engenharia deve ter uma visão voltada para a inclusão social, pensando em todos os perfis de usuários, desde as pessoas com deficiência até aqueles que optam por alternativas de transporte mais sustentáveis. “Devemos pensar em todos os cidadãos, incluindo os pedestres, ciclistas e pessoas com deficiências motoras. A mobilidade urbana precisa ser pensada de forma inclusiva, garantindo que todos tenham acesso a uma cidade conectada e sustentável”, afirma.
Ele também enfatiza que a engenharia precisa adotar uma abordagem que vá além das soluções técnicas, considerando sempre a experiência do usuário e a realidade das ruas. “É fundamental estarmos em campo, conversando com quem usa o transporte público diariamente, entendendo suas dificuldades e pensando em soluções que melhorem sua qualidade de vida. Quando pensamos na ótica do usuário, estamos criando um sistema que realmente faz a diferença na vida das pessoas“, conclui Ivo.
Superar divergências
Para o engenheiro do Ministério Público do Estado do Paraná, Roberto Luis Fonseca, os principais desafios técnicos e sociais para o desenvolvimento de uma infraestrutura de transporte urbano inclusiva e coletiva estão nas deficiências das políticas públicas e de investimentos para os diversos modais de transporte coletivo e sustentável e na superação das divergências identificadas no planejamento urbano. “Não promover o aumento do número de veículos e evitar o inchaço populacional e a expansão da cidade, também estão entre estes desafios”, enumera.
Segundo Fonseca, o setor de engenharia pode contribuir para reduzir a desigualdade no acesso à mobilidade, atuando na concepção e desenvolvimento de tecnologias referentes aos equipamentos de meio de transporte mais eficientes, econômicos e sustentáveis. “Isso no que diz respeito à especialidade eletromecânica, já a civil pode atuar no planejamento urbano e na construção de vias de acesso mais inclusivas”.
Na opinião do engenheiro, diversas iniciativas deveriam ser priorizadas para garantir o direito à cidade a todos, entre elas, a criação de pedágio urbano para reduzir e não incentivar a utilização de automóvel em áreas centrais e de grande atração da cidade, a criação de ciclovias interligando as várias regiões da cidade, a integração entre os transportes públicos e a flexibilização do horário das atividades urbanas, como comércio e escolas.
Grupo de trabalho Senge-PR
A integração de sistemas de transporte coletivo com bicicletas, pedestres e outros modais, além da inclusão de soluções de acessibilidade, são algumas das principais propostas do Senge-PR para a construção de cidades mais justas e sustentáveis. O grupo de trabalho seguirá construindo ações e debates para garantir que a engenharia urbana esteja alinhada com as necessidades da população, promovendo uma mobilidade urbana mais eficiente, inclusiva e sustentável.
Fonte: SENGE-PR
Foto: Luiz Costa/SMCS