Massacre na Nigéria: “É solitário morrer na África”

Share on facebook
Share on twitter
Share on whatsapp
Share on email

Nenhum dos líderes mundiais que no domingo deram os braços em solidariedade às vítimas de Paris se pronunciou sobre o massacre de duas mil mortes na Nigéria – nem mesmo o presidente do país, que na ocasião estava na festa de casamento de sua filha.

A manhã mal tinha começado quando as explosões causadas pelos lança-granadas fizeram com que os moradores da pequena cidade de Baga – no nordeste da Nigéria, quase na fronteira com Chade – fugissem para se esconder no mato. Os agressores, combatentes do Boko Haram, passaram a persegui-los de moto enquanto atiravam a esmo suas metralhadoras, sem necessariamente mirar nas vítimas, mas acertando-as mesmo assim. Os que se refugiaram em suas casas foram queimados vivos; outros morreram afogados, enquanto tentavam chegar no país vizinho nadando pelo Lago Chade – os que sobreviveram nessa empreitada estão agora isolados, sem comida e inacessíveis em Kangala, uma ilha infestada de mosquitos no meio do lago.

Isso aconteceu há dez dias e muitos dos corpos continuam estirados no local onde tombaram. As mortes estimadas pelas autoridades do país podem passar de duas mil – um sobrevivente afirma que não conseguiu andar por cinco quilômetros sem pisar em algum cadáver.

Não houve chefes de Estados entrelaçando seus braços e ninguém marchou em solidariedade por eles nas ruas de alguma capital do mundo – de fato, muitas pessoas mal ficaram sabendo da tragédia nigeriana, ocorrida dias antes dos assassinatos na França.

No domingo (11), diversos líderes africanos voaram para Paris a fim de participar da marcha pela liberdade de expressão e contra o terrorismo, apesar de muitos não terem conseguido sair na foto principal. Não noticiou-se nenhuma prestação de condolência por parte deles em relação à tragédia que ocorreu em seu próprio continente – na realidade, nem mesmo o presidente do país, Goodluck Jonathan, se pronunciou sobre o massacre em Baga.

Todavia, o presidente nigeriano não se juntou a seus pares na marcha de solidariedade em Paris: ele estava celebrando o casamento de sua filha e no dia seguinte estava em um comício na cidade de Lagos – mês que vem ocorrerão as eleições na Nigéria e Jonathan buscará sua reeleição.

Ao citar em seu editorial a morte de 800 mil pessoas em Ruanda, em 1994, e de mais de 6 mil vítimas do vírus ebola, em 2014, por diversos países na África Ocidental – antes que o Ocidente começasse a se indignar com as tragédias –, o editor do jornal The Namibian, Wonder Guchu, tirou apenas uma conclusão: “É solitário morrer na África”.

 

Fonte: Por Vinicius Gomes; Fórum