Seis da manhã, na Praça Saens Pena, no Rio de Janeiro e lá estava Vito Giannotti distribuindo o jornal Brasil de Fato. Esta era sua rotina semanal, às quintas, que se ampliaria a partir do dia 27/7 com o lançamento da segunda edição semanal do jornal, às segundas. No entanto, a distribuição por suas mãos foi cessada antes, no dia 24/7, com o falecimento de Vito, aos 72 anos. Mais que um companheiro de luta, Vito foi um amigo sempre disposto a contribuir na comunicação da Fisenge e dos sindicatos.
Amigo de todas as horas, nas derrotas e vitórias da classe trabalhadora. Com suas sandálias, caminhava firme pelas ruas do Rio de Janeiro e do Brasil lutando por uma sociedade justa, fraterna e igualitária. Sua voz rouca conquistou corações e mentes com sua paixão pela comunicação.
Incansável, Vito sempre dizia: “A comunicação precisa sair do umbigo do sindicato”. Assim, Vito foi ampliando as pautas do movimento sindical, que começou a falar sobre favelas, reforma agrária, mulheres, violência do Estado. O jornal, o boletim e as redes de comunicação das entidades de classe precisavam dialogar com a classe trabalhadora.
Com humildade e generosidade, Vito promoveu e construiu outras narrativas. Empoderou jornalistas e comunicadores populares. Defendeu a comunicação como instrumento estratégico de disputa de hegemonia da sociedade. Compreendeu a comunicação como ninguém antes o fizera. Foi um dos fundadores do jornal Brasil de Fato que, atualmente, circula em novo formato em diversos estados do país. Sua disposição militante seguiu até o fim. Vito levou em teoria e prática o que Che Guevara dizia: “sem perder a ternura jamais”. Seus abraços eram distribuídos a quem estivesse a seu lado. Mesmo diante de tantas adversidades e opressões na luta cotidiana, Vito não esmorecia. Ao contrário, reorganizava forças num gesto de amor revolucionário para fortalecer seus companheiros e suas companheiras de luta.
Vito Giannotti é exemplo de generosidade, simplicidade, militância, luta em favor dos oprimidos e companheiro de sonhos por uma sociedade socialista. Sua perda deixa um vazio nas lutas sociais. Nos fortalecemos em sua referência e em sua coragem no enfrentamento às injustiças e desigualdades. Nos solidarizamos com a companheira Claudia Santiago, familiares e colegas. Vito Giannotti, a nossa gratidão. Vito Giannotti, presente! Sempre!
Vitão: o italiano com coração brasileiro
Nascido na Itália, Vito chegou ao Brasil com 21 anos, no início da ditadura militar em 1964. Em São Paulo, trabalhou como metalúrgico ferramenteiro por 20 anos. Sempre envolvido com as causas dos operários, enfrentou a ditadura. Foi preso, torturado, mas jamais desistiu de se empenhar em construir uma sociedade mais justa. Eterno lutador da Oposição Metalúrgica, foi diretor da Central Única dos Trabalhadores (CUT) naquele estado. No Rio de Janeiro, coordenava o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) e a livraria Antonio Gramsci ao lado de sua companheira, Claudia Santiago.
Vito deixa grande legado para a temática da comunicação populare e luta operária. É autor de vários livros, dentre os quais “O que é Jornalismo Operário”, “Collor, a CUT e a pizza”, “Trabalhadores da aviação: de Getúlio a FHC”, “A CUT por dentro e por fora”, “A CUT ontem e hoje”, “Cem anos de luta operária”, “Comunicação Sindical: a arte de falar para milhões”, “Muralhas da Linguagem”, “Dicionário de Politiquês”, “Manual de Linguagem Sindical” e “Força Sindical, a central neoliberal”.
Homenagens da Fisenge
Clovis Nascimento, presidente da Fisenge: “Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis’. Este poema de Brecht define exatamente a trajetória militante e humanitária que levou Vito Giannotti. Era um lutador imprescindível. Mais do que um companheiro de luta, Vito era nosso amigo. Em 20 anos de história da Fisenge, ele teve papel fundamental na construção do movimento sindical da engenharia e em toda a história recente de luta dos trabalhadores. Vito construía frentes de resistência e redes de solidariedade. Era uma unanimidade no campo da esquerda, com uma disposição militante exemplar. Vito Giannotti permanecerá em nossa memória como defensor intransigente dos direitos humanos. Em nossos corações, guardamos o seu sorriso e os seus abraços. Em nossas mentes, sua paixão pela comunicação e suas esperanças por uma sociedade verdadeiramente justa, fraterna e igualitária. Fica a nossa profunda gratidão pela possibilidade de conviver com esse bravo companheiro. Vito Giannotti, presente!”.
Carlos Roberto Bittencourt, ex-presidente da Fisenge de 2008 a 2014 por dois mandatos: “Parceiro de primeira hora na defesa dos trabalhadores e daqueles que mais precisam, Vito Giannotti deixa um legado importante não apenas para quem atua na área sindical, mas também para toda a sociedade. Foi um homem que trabalhou a essência do jornalismo no seu lado mais importante, a parcela social da comunicação sempre contribuindo com o Senge-PR e com a Fisenge com artigos e palestras. Com seu trabalho incansável, ele nos mostrou que para fazer com que o clamor dos excluídos tenha eco e as demandas dessa parte invisível da sociedade sejam atendidas é necessário a união de todos em torno de uma causa comum. Esta é a força que temos dentro de cada um de nós e que é superior ao poderio financeiro e a qualquer outro interesse. Vito nos ensinou que a sociedade unida tem voz e tem vez e é seguindo o seu exemplo que devemos orientar o futuro da comunicação em favor dos trabalhadores e dos excluídos”.
Olímpio Santos, ex-presidente da Fisenge de 2004 a 2008: “Não há paralelo no movimento sindical com a contribuição de Vito Giannotti. Nunca existiu uma pessoa tão preocupada e dedicada com a comunicação entre os sindicalistas e trabalhadores. Vito deixa uma contribuição que perdurará por anos e décadas. Não era um imortal da academia, mas é um imortal do movimento sindical”.
Paulo Bubach, ex-presidente da Fisenge de 1999 a 2004. “Em vida, foi um eterno e incansável lutador. Uma pessoa fantástica que lutou com afinco em defesa da comunicação popular. Seu entusiasmo e seus ensinamentos continuarão a orientar e a incentivar milhares de sindicalistas a continuarem na luta. Vito Giannotti vai fazer muita falta. Sempre foi um parceiro muito disposto para a Fisenge e os sindicatos. Vamos guardar o seu exemplo e seguir na luta”.
Carlos Roberto Aguiar de Brito, ex-presidente da Fisenge de 1995 a 1997. “Vito era um italiano que virou brasileiro. Um homem que lutou, despojadamente, pela construção do socialismo. Sempre foi um colaborador para ajudar as entidades em busca de uma comunicação popular socialista. Lamento profundamente a perda de nosso companheiro que lutou exclusivamente em prol de uma causa, de maneira solidária e fraterna”.
Luiz Carlos Soares, coordenador da Consenge de 1991 a 1993. “Um companheiro que deixa saudade. Lutou com profundidade e clareza por um projeto libertário de sociedade. Iremos não apenas reverenciar sua memória como também contribuir e fortalecer a continuidade de seu legado”.
*Reportagem extraída da Revista Em Movimento nº14, editada pela Fisenge. Leia na íntegra clicando aqui.