Lançamento da animação da Engenheira Eugênia traz debate sobre comunicação sindical e a luta das mulheres

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O Coletivo de Mulheres da Fisenge realizou, na última sexta-feira (22/7), o lançamento da primeira animação do projeto Engenheira Eugênia. “Lei é para ser cumprida” fala da importância do Salário Mínimo Profissional (Lei nº 4.950-A), que completou 50 anos em 2016, e do fortalecimento dos sindicatos como organizações em defesa das trabalhadoras e dos trabalhadores. Com auditório cheio, a Fisenge recebeu sindicalistas, militantes de movimentos sociais e entusistas do projeto para o debate “Novas narrativas na luta pelos direitos das mulheres”, mediado pela engenheira Simone Baía, diretora da mulher da federação, e com a participação de Claudia Santiago Giannotti, coordenadora do Núcleo Piratininga de Comunicação, e Sonia Latgè, da União Brasileira de Mulheres. As fotos são de Adriana Medeiros.

 

O FORTALECIMENTO DA IMPRENSA SINDICAL NA REDEMOCRATIZAÇÃO

Para Claudia Santiago, jornalista e historiadora, a produção da imprensa sindical na redemocratização foi essencial para que as organizações de trabalhadores pudessem se fortalecer e trazer novas ideias em comunicação. “Vivíamos um momento de efervescência política, que era a luta contra a ditadura, e que se traduzia numa forte imprensa alternativa, de bairro, comunitária. Na abertura política, no entanto, nos encantamos com os jornais, principalmente a Folha de S. Paulo… um jornal da burguesia”, analisa ela. Segundo Claudia, enquanto, nesta época, todas as outras imprensas alternativas enfraqueceram, a imprensa sindical resistiu e se desenvolveu. “A imprensa sindical resistiu e acompanhou esse processo, cresceu, amadureceu, floresceu e deu frutos, e hoje tem até uma ‘Engenheira Eugênia’! Foi a imprensa sindical que fez o enfrentamento quando todas as outras imprensas alternativas enfraqueceram no Brasil. A imprensa sindical reagiu sozinha ao massacre neoliberal, porque a imprensa alternativa já havia se desmontado”, afirmou. “Vocês estão renovando a comunicação. Eu não abro mão do jornal de papel, da entrega do jornal pessoalmente, por exemplo. Mas, em uma área como a Engenharia, em que são poucos os lugares em que muitos engenheiros e engenheiras trabalham juntos, esse trabalho se torna mais difícil”, disse Claudia. Reconhecer essas especificidades e apostar em novas linguagens é uma decisão acertada. “Se não fossem os jovens que me cercam, eu não saberia me comunicar hoje. É preciso aprender com a juventude e acreditar nela”, disse Claudia. 

PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NAS LUTAS SINDICAIS

Sonia Latgè falou sobre o papel das mulheres dentro das organizações sindicais, destacando também a necessidade de levar a comunicação para as bases. “Na época da ditadura, nós organizávamos as mulheres dentro dos banheiros femininos da Light. Nós íamos onde elas estavam. Fazíamos assembleia, com ata e tudo, lá dentro. E é nesse exemplo, de levar para as bases, que a Eugênia ganha vida. Vocês estão investindo em cultura, uma das coisas que mais tocam o ser humano”, afirmou. 

Um dos pontos tratados tanto pelas convidadas quanto questionada pela plateia foi a paridade de gênero nas direções sindicais. Virgínia Berriel, da CUT Nacional, lembrou que a central sindical aprovou a paridade em sua diretoria, e que o desafio de fazer valer essa política está sendo enfrentado de forma a levar formação e qualidade para a luta das trabalhadoras. Para Sonia Latgé, muitas vezes há uma preocupação com a “qualidade” dessas novas dirigentes, mas é preciso lembrar que a formação política continuada deve estar presente no dia a dia do movimento sindical. “A CUT acabou de aprovar a paridade de gênero em sua diretoria, mas isso representa mesmo isonomia? Ocupação efetiva de responsabilidades, orçamentos iguais para todas as diretorias? São questões que estão postas para gente, e que vamos construir juntos, homens e mulheres, se tivermos consciência de essa é uma construção a partir da perspectiva de classe. Qualidade se constrói. Ninguém nasceu ‘dirigente’. Não tenho dúvida de que a paridade deve ser conquistada. Apostem nos 50%: as mulheres serão muito melhores do que vocês poderiam imaginar”, disse ela.

 

MULHERES, HOMENS E NOVAS NARRATIVAS DE LUTA

– Simone Baía, engenheira e diretora da mulher da Fisenge: “Falar do Coletivo de Mulheres da Fisenge é falar de luta. Na Engenharia, enfrentamos o assédio moral e sexual, a reprodução do machismo entre as mulheres, na falta de direitos (como banheiros nas obras), na desqualificação do trabalho, entre outros desafios. Nos sindicatos, precisamos de acolhimento, de espaços menos hostis. Receber as mulheres, ouvir suas ideias. Precisamos de políticas para mulheres nos acordos coletivos também”.

 

– Jô Portilho, Sindicato dos Bancários: “Atividades que se propõem a discutir questões de gênero não têm qualquer coerência se forem apenas no ‘clube da Luluzinha”, só entre mulheres. A presença dos homens é fundamental e mostra maturidade deles. Mostra também que a Eugênia não é considerada por eles como uma atividade só do coletivo de mulheres. E eu espero que a Fisenge, que tem capacidade para discutir os grandes problemas nacionais, também consiga discutir os grandes problemas familiares, como a terceirização dentro da família, muitas vezes maquiada mesmo entre nós, sindicalistas”.

 

– Clecio Santos, engenheiro recém-formado e ex-coordenador do Senge Estudante da Bahia: “Existe uma cultura muito machista nas universidades. Ainda temos uma educação muito sexista e misógina”. Sem mudar a educação, as dificuldades na inserção e no respeito às mulheres continuam.

 

– Carlos Antônio de Magalhães (Magal), engenheiro e presidente do Senge-SE. “A dificuldade de participação das mulheres nos espaços políticos é cultural. Nada é feito de repente. A Eugênia contribui nessa evolução, assim como as mulheres que já estão nos sindicatos”.

 

– Virgínia Berriel, da CUT Nacional: “A Eugênia tem aberto um espaço muito importante no movimento sindical. É uma linguagem que fala com os jovens, e atinge mais mulheres e homens. Vivemos dias de guerra e de dor, com um governo ilegítimo. E dias de ataque, o maior deles contra a presidenta Dilma. Ousar com as tirinhas, com as novas narrativas, e levar para os sindicatos, é muito importante”.

 

 

MAIS REGISTROS

 

SOBRE A ENGENHEIRA EUGÊNIA

Criadas em 2013, as histórias em quadrinhos da Eugênia procuram, em linguagem simples e ilustrada, trazer discussões atuais que envolvem o cotidiano de trabalhadoras e trabalhadores. Eugênia representa uma das muitas faces das mulheres engenheiras: prestes a completar 40 anos, sendo 15 de profissão, ela é negra, recém-divorciada e mãe de dois filhos. Está sempre atenta para dialogar sobre questões como a defesa dos direitos humanos e trabalhistas, respeito à diversidade e igualdade de gênero. As tirinhas mensais também pautam discussões que vão além do ambiente de trabalho, envolvendo sindicatos, movimentos sociais, família e amigos.

O formato em animação é uma aposta do Coletivo de Mulheres da Fisenge para diversificar e levar o trabalho para mais pessoas. A produção da animação foi feita pelo Estúdio Zota, do Espírito Santo, e as ilustrações são do artista Pater. Curta, compartilhe e faça sugestões para novas histórias! O email da Eugênia é engenheiraeugenia@gmail.com

– “Lei é para ser cumprida”: assista à animação no Youtube

– Veja mais fotos do lançamento em nossa página no Facebook

– Confira as tirinhas da Engenheira Eugênia