Estudantes de diversas áreas da engenharia se reuniram para debater os rumos da profissão no país e fortalecer o vínculo com a defesa dos direitos da categoria
Pelo terceiro ano consecutivo, a pacata vila de Faxinal do Céu, no interior do Paraná, se tornou ponto de encontro para jovens engenheiras e engenheiros de todo o estado. O objetivo da reunião foi debater os rumos da profissão no país e fortalecer o vínculo dos estudantes com a defesa dos direitos da categoria. Nesta edição, realizada no fim de semana de 21 e 22 de julho, o Encontro Estadual do Senge Jovem Paraná teve o tema “Uma geração forte para mudar o Brasil”, e 45 estudantes de diversas áreas da engenharia participaram de palestras, dinâmicas e debates sobre o papel do engenheiro na construção de um Brasil melhor. Vindos de instituições de ensino de todas as regiões do estado, os futuros engenheiros viveram uma experiência de imersão e formação política, discutindo pautas sociais atuais que, direta ou indiretamente, afetam os futuros engenheiros.
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Na abertura do evento, o engenheiro civil e diretor financeiro do Senge-PR, Cícero Martins, resgatou a história dos sindicatos e a importância deste processo de mobilização para defender os interesses do trabalhador, principalmente em tempos de reforma trabalhista e precarização das condições de trabalho.
Cícero Martins, engenheiro civil e diretor financeiro do Senge-PR
Martins aponta o sindicato como um mobilizador para a reconquista do poder popular, e, como um dos fundadores do Senge Jovem paranaense, vê o trabalho com os futuros engenheiros como essencial para este processo: “o estudante, sem formação política, acaba assimilando a política e o pensamento do patrão. É necessário agir nas universidades, em contato direto com os estudantes, para garantir a formação de um sindicato mais forte e mais efetivo”.
Estudantes participaram de debates sobre temas atuais
O envolvimento estudantil com a luta sindical também foi tema da mesa redonda do encontro. Engenheiros recém-formados, ou com forte atuação política durante os anos universitários compartilharam suas experiências. Cícero, que também participou da mesa, ressaltou a importância da atuação sindical na atual conjuntura vivida pelo Brasil: “no momento mais crítico do nosso país, nós estamos nos articulando e nos organizando. Dedicando parte do nosso tempo, da nossa vida, para construir esse movimento de mudança”.
José Carlos Gomes Filho, engenheiro civil calculista, que também compôs a mesa, chamou a atenção para a relevância da atuação política contínua. “Não se ausentem dos espaços que vocês constroem. Na política, não existe espaço vazio. Se tem alguém aí, pode ter certeza de que é porque não tem ninguém melhor”, alertou. Luiz Calhau, engenheiro civil e diretor do Senge-PR, salientou: “a militância é uma coisa para a vida”.
Victor Meireles Sampaio de Araujo, engenheiro de produção e diretor do Senge-PR
Esta terceira edição foi positivamente avaliada, tanto por congressistas, como pela organização do evento. Taynara Camargo, estudante de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia na UFPR, integrante do Senge Jovem e uma das organizadoras do encontro, se diz satisfeita com o resultado: “o evento foi bastante incrível. Não poderia estar com mais vontade de trabalhar e consolidar o grupo Senge Jovem e continuar na militância”. A experiência de planejar um evento também deixou sua marca. “É muito gratificante fazer parte de um grupo em que todo mundo trabalha, divide as preocupações e tarefas e é bastante proativo para resolver problemas. Fiquei muitíssimo satisfeita com o resultado do encontro, com o grupo de trabalho que formamos e com quanto aprendizado pude colocar na minha bagagem de vida”.
Taynara Camargo, estudante de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia na UFPR
A proposta de promover uma formação política profunda, com espaço para debates atuais, foi bem-recebida pelos estudantes. “Foi sensacional porque tivemos o espaço para debates de ideias, simulações de audiências, e pela forma de abordagem dos temas importantes. Realmente senti que estou no lugar certo e deu mais vontade de atuar na causa sindical e na defesa da soberania da nossa engenharia”, conta a estudante de Engenharia Elétrica na Universidade Estadual de Londrina, Tayna Silva, que participou de todas as edições do evento.
Angústias e anseios da nova geração
Na manhã de sábado, o engenheiro civil, professor do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e diretor do Senge-PR, José Ricardo Vargas de Faria, proferiu a palestra magna “A Conjuntura Global, angústias e anseios da nova geração de engenheiros no Brasil”. Em sua fala, Faria explanou sobre as relações classistas, as relações de poder e a estrutura do capitalismo no Brasil.
José Ricardo Vargas de Faria, engenheiro civil e diretor do Senge-PR
Segundo Faria, a nova geração de engenheiros começa a sentir as consequências deste retrocesso com a onda de privatizações, a deterioração das condições de trabalho, a terceirização, e o corte de investimentos em novas tecnologias: “a engenharia é uma das primeiras áreas afetadas, todo desenvolvimento passa pela engenharia”.
Organização popular
No domingo, a palestra magna “Organização Popular”, com os integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Rodrigo Moschkovich e Maria Luiza Francelino despertou grande interesse entre os congressistas. A palestra rapidamente se tornou um diálogo, e apresentou um histórico do movimento, desde seu início com forte envolvimento e influência da Igreja Católica, até a formação atual, baseada em uma democracia participativa sem estrutura hierárquica. Foram debatidos também o funcionamento dos acampamentos e assentamentos da organização, e os princípios e ideais defendidos pelo movimento, entre eles a Reforma Agrária e a Agroecologia.
Maria Luiza Francelino e Rodrigo Moschkovich, integrantes do MST
Moschkovich propôs algumas formas para que os estudantes interessados se envolvessem com o movimento, e ressaltou que, apesar das aparentes diferenças entre um trabalhador rural e um engenheiro, ambos são trabalhadores: “não somos donos dos meios de produção e não fazemos política econômica. Se sintam trabalhadores, e internalizam isso”, recomendou.
Debates e audiências públicas
Nesta edição, uma nova atividade foi proposta para aumentar o engajamento dos estudantes nos debates: a dinâmica das audiências públicas, com os temas “Privatizações”, “Agrotóxicos” e “Democratização da Mídia”. Divididos em grupos, os estudantes discutiram os tópicos sugeridos com a mediação de especialistas nos assuntos, que, posteriormente, dissertaram sobre suas áreas de atuação. O tema “Privatizações” foi mediado por Inara Rodrigues, estudante de Engenharia de Energia da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), enquanto “Agrotóxicos” teve a intervenção do engenheiro agrônomo André Gabardo, e “Democratização da Mídia” contou com a facilitação da jornalista do Senge-PR, Ednubia Ghisi.
Democratização da Mídia foi tema de debate
A segunda dinâmica desenvolvida foi o “Jogo dos Conceitos”, que permitiu aos congressistas debater e expandir seus conhecimentos sobre uma variedade de temas correntes.
Sobre Faxinal do Céu
Uma apresentação sobre Faxinal do Céu, feita pelo engenheiro florestal da Copel, Mário Torres, levou os estudantes em uma jornada pela história da vila residencial e pelo trabalho de recuperação e reflorestamento das áreas afetadas pela construção da Usina Hidrelétrica Governador Bento Munhoz. Torres apresentou a flora nativa e aquela que se desenvolveu pela interferência humana, além de discorrer sobre os cuidados dispensados para manter a beleza da região. Ele terminou a palestra com um alerta sobre o risco que a privatização da usina representa para Faxinal do Céu: “se a Copel perder a concessão, não há como manter. Pela nova política, isso aqui não vai continuar”. A apresentação causou tal interesse que, no domingo pela manhã, uma visita ao Jardim Botânico foi acrescentada à programação do evento, para que os estudantes pudessem ver de perto a beleza que Torres tanto exaltou.
Também participaram do encontro os diretores Senge Sérgio Inácio Gomes, diretor-geral da Regional de Maringá, e Pablo Braga Machado, da Regional de Foz do Iguaçu.
FONTE: SENGEE PR / Texto e fotos: Luciana Santos, jornalista do Senge-PR