Nos anos 80, acompanhando o surgimento de um sindicalismo mais combativo no Brasil, em plena luta contra a Ditadura Militar e pela anistia, teve início o processo de renovação nos sindicatos de engenheiros. O avanço do movimento sindical no país, simbolizado na criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), chegou, finalmente, ao movimento sindical dos engenheiros.
Quem conta essa história são os profissionais que estavam à frente das lutas sindicais naquela época, como Luiz Carlos Correa Soares, que foi, na Fisenge, diretor de relações sindicais de 1993 a 1995; diretor executivo de 1995 a 1997 e também no mandato de 1997 a 1999; e diretor suplente de 1999 a 2002. “Alguns Sindicatos de Engenheiros se filiaram à CUT e outros, mesmo não filiados, seguiam uma linha política muito próxima a da Central Única dos Trabalhadores. Esse movimento de esquerda criou um processo de cisão ideológica na Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), à época a única organização nacional dos engenheiros”, lembra.
Segundo Soares esse conflito se aprofundou na segunda metade dos anos 80. “Em 1990, no encontro nacional de engenheiros, em Brasília, cristalizaram-se as divergências políticas e ideológicas, o que conduziu um grupo de Sindicatos a se desfiliarem da FNE e criarem a Coordenação Nacional de Sindicatos de Engenheiros (Consenge), em 1991, em Belo Horizonte – MG”.
Nesta nova entidade, Soares era o coordenador geral, cargo que correspondia à presidência. Mas o Consenge começou a esbarrar em várias questões administrativas e financeiras e durou apenas até 1993, quando no Congresso de Engenheiros, no Rio de Janeiro, realizado para definir a sua continuidade, foi fundada, enfim, a Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge).
A partir daí, quem conta a história é Carlos Roberto Aguiar de Brito, que apresentou uma tese defendendo a continuidade do Consenge, porém com princípios fundamentais: mudar de coordenação para federação (o que os livraria de muitos impasses para a regularização); todos os Senges filiados passariam a colaborar com 10% do seu orçamento (o que permitiria administrar as contas até que a parte do imposto sindical paga pelos profissionais em cada estado filiado passasse para a nova entidade). Após ampla discussão, a tese foi aceita. Nasce, assim, a Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), constituída pelos Senges identificados com a renovação sindical no Brasil. A primeira diretoria da Fisenge teve um mandato de apenas dois anos, porque ainda não havia a certeza do sucesso da proposta. Nesta primeira composição (1993/1995), Carlos Roberto Aguiar de Brito (Carlão) foi eleito presidente e nos dois congressos seguintes reeleito por mais dois mandatos (1995/1997 e 1997/1999). Foi diretor de relações sindicais no mandato de 1999 a 2002 e foi diretor suplente na diretoria de 2005 a 2008).
Desde a criação da Fisenge, os Sindicatos de Engenheiros estiveram presentes nas lutas políticas do país pelas “Diretas Já”, nas greves de trabalhadores, na Constituinte, no “Fora Collor”, lutando pela democracia política e social no país, empenhados na construção de um novo projeto para o Brasil, alicerçado na solidariedade, na democracia e no desenvolvimento sustentável.
Manoel Barreto, que na Fisenge foi vice-presidente de 1993 a 1995, diretor executivo nas gestões de 1995 a 1997 e de 1997 a 1999, acrescenta que também fez história a articulação dos sindicatos cutistas na Engecut (entidade de engenheiros da CUT), que atuava de forma organizada dentro da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE).
Por incompatibilidades, esse grupo saiu da FNE e trabalhou na criação de uma nova entidade nacional, que seria, mais tarde, a Fisenge, criada dentro dos princípios que o grupo original defendia (filiada à CUT e sempre voltada para a luta dos trabalhadores)”, explica.
“A nova entidade se contrapôs de maneira organizada à FNE, que tinha uma visão cartorial do movimento sindical. Nós chegamos com a prática de um trabalho junto aos sindicatos de base e aos movimentos populares, em parceria com os sindicatos majoritários, construindo um trabalho sindical novo. Foi um avanço nas lutas sindicais. Vários sindicatos de base surgiram a partir disso”, comemora Manoel Barreto ao falar sobre a importância da criação da Fisenge.
Soares diz que a criação da Fisenge foi consequência da percepção da importância dos engenheiros no novo contexto das relações de trabalho no Brasil, do crescente grau de assalariamento da categoria e do processo de crescimento econômico e tecnológico ocorrido nas décadas de 60 e 70, com grande ênfase na atuação do Estado nas relações econômicas, tanto produtivas quanto de serviços. Soares considera que esse processo, iniciado desde meados da década de 80, está vigente até hoje: “infelizmente, já se observava uma redução do desenvolvimento”, lamenta.
Nas décadas seguintes, o processo neoliberal avançou extraordinariamente no Brasil, introduzindo enormes demandas de atuação política das organizações sindicais com visão de mundo similar à Fisenge. Neste processo, conclui Soares, a Fisenge e os Senges filiados vêm participando de movimentos não apenas sindicais, como também sociais e políticos, “dando importante contribuição para a reconstrução do país, no rumo de um Brasil equitativo em termos de oportunidades de trabalho, não apenas para os engenheiros, mas para toda a população brasileira”.
Estiveram à frente da Fisenge, desde a sua criação, eleitos pelos sindicatos filiados em encontros nacionais: