Um grupo de intelectuais liderado pelo economista Luiz Carlos Bresser Pereira lançou na noite desta quinta-feira (27) um documento propondo uma série de medidas consideras necessárias para a retomada do desenvolvimento econômico. Batizado como “Manifesto Projeto Brasil Nação”, o texto foi divulgado na Sala dos Estudantes na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
Originalmente, o documento foi assinado por personalidades como Raduan Nassar, Chico Buarque, Ermínia Maricato, Paulo Sérgio Pinheiro, Kleber Mendonça Filho, Wagner Moura, Luiz Gonzaga Beluzzo, André Singer e João Pedro Stedile.
“O Brasil vive uma crise sem precedentes. A indústria definha. Programas e direitos sociais estão ameaçados. A desigualdade volta a aumentar, após um período de ascensão dos mais pobres. No conjunto, são as ideias de nação e da solidariedade nacional que estão em jogo”, diz o manifesto.
Qualificando o atual governo como “reacionário”, além de “antipopular e antinacional”, que leva à “dependência colonial e ao empobrecimento dos cidadãos”, o texto diz também que a atual agenda econômica atende aos interesses de “uma coalizão de classes financeiro rentista”.
A proposta, em defesa de um “regime desenvolvimentista e social”, elenca cinco pontos fundamentais para a retomada do desenvolvimento nacional: uma regra fiscal que permita uma atuação contracíclica do Estado, taxa de juros mais baixa, superávit na conta corrente do balanço de pagamentos, retomada do investimento público e reforma tributária progressiva.
Evento
Além de parte dos signatários originais do documento, o lançamento do manifesto, mediado pela jornalista Eleonora de Lucena, contou com a presença de diversos militantes, artistas e acadêmicos.
“Somos um grupo de pessoas que se reuniu diante da situação dramática que vivemos. O próprio país, a ideia de nação está sob ataque. Há uma sanha destruidora em curso em todas as áreas”, introduziu Lucena.
Bresser Pereira explicou alguns pontos do manifesto, ressaltando a distinção entre crescimento e desenvolvimento econômico: “Nós estamos preocupados em fazer a crítica. Precisávamos também apontar um caminho. Existe uma alternativa”, disse. “O país está semi-estagnado desde 1980. Desde 1990, se estabeleceu uma política econômica liberal no Brasil que não promove desenvolvimento – e nem pode promover. Nós queremos um Estado forte. Nós precisamos de juros mais baixos. Por que os juros são elevados? Porque há fortes interesses dos rentistas e financistas”.
“Nos precisamos retomar o desenvolvimento – com justiça social, com proteção do meio ambiente. Isso é possível”, apontou o economista.
Ciro Gomes, pré-candidato à Presidência pelo PDT, foi um dos que discursou, elogiando a iniciativa: “Eu atribuo a este momento a potencialidade de ser um momento fundador: aqui estão as pistas. O consenso pode ser estabelecido em torno das questões centrais”.
Algumas falas ressaltaram o caráter popular da proposta. Entre elas, a de Fábio Konder Comparato, professor de Direito da USP: “Estamos presenciando um fato da maior importância para o Brasil. Qual o coração de uma nação? O povo. Hoje precisamos assumir um compromisso: quem deve reconstruir o país é o povo”.
Já Celso Amorim, ex-chanceler brasileiro, indicou a necessidade de valorização da cultura para um novo projeto de desenvolvimento. “Soberania não é apenas sobre os recursos naturais, mas também sobre nossa alma”, disse ele, sob aplausos.
Presentes
O evento contou com o apoio do Centro Acadêmico 11 de Agosto, órgão que representa os estudantes da Faculdade de Direito da USP.
Douglas Fernandes, militante do Levante Popular da Juventude – organização que integra a direção da entidade – explicou a razão pela qual abrigaram o evento: “Esse projeto coloca o Estado na dianteira da promoção do desenvolvimento e da soberania, na contramão de tudo que vem sendo feito no último período pelo presidente golpista. Em um momento de crise, é extremamente importante devolver ao Estado o seu papel, pró-ativo social e economicamente, agregando força popular ao seu projeto”.
Cientista político que colaborou com a iniciativa de Bresser, Lucas Dib explicou que este primeiro manifesto enfoca as questões econômicas, e que a expectativa é que o projeto se converta em movimento político, se difundindo pelo país.
“O objetivo principal é reconstruir um projeto nacional. De 1930 a 1980 o Brasil foi o país que mais cresceu no mundo, excetuando o Japão. Se a economia não cresce, não há inclusão social. Ter um projeto nacional significa agregar um grupo majoritário da sociedade civil que tenha consciência de um destino comum e de como alcançá-lo”, afirmou em entrevista ao Brasil de Fato.
Política
Mesmo com enfoque econômico, a situação política do país foi abordada no ato de lançamento.
“Defendemos eleições gerais em outubro de 2017. O país não aguenta até 2018 nesse rumo. Sem legitimidade popular não há como sair da crise. É preciso apresentar ao povo que o Brasil tem jeito. Estamos em outro contexto político e econômico, por isso, precisamos de um novo programa baseado em reformas de base”, defendeu em seu discurso Lindberg Farias, senador pelo PT (RJ).
Um dos presentes na plateia, o jornalista Raimundo Pereira, tocou também na questão: “Para o país tomar um novo rumo, é preciso primeiro resolver o problema político. A solução achada pela direita foi o golpe parlamentar. É preciso um pacto com unidade entre as forças que se opõe a esse golpe, seja as que se opuseram [desde o primeiro momento], seja as que começam a perceber a extensão do estrago da política em curso”.
Como esperado, a greve geral de sexta-feira (28) também foi mencionada. Uma das integrantes da mesa, a economista Leda Paulani, apontou a importância da mobilização: “Um espectro ronda o Brasil. O espectro da Greve Geral. Contra ela se levantam todas as velhas forças que constituem a história de nosso país: a mídia, o grande capital, os interesses estrangeiros. Mas ela é, sem dúvida, a única saída para o povo que deseja preservar sua dignidade”.
O articulador do Manifesto, Bresser Pereira, seguiu na mesma linha, combatendo aqueles que criticam a paralisação.
“Essa greve é uma greve para construir o Brasil”, disse ele ao final de sua fala.
Fonte: Brasil de Fato