Governo não cumpre promessa de campanha e quer privatizar sistema elétrico

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Mais de mil trabalhadores podem perder seus empregos em Furnas. Frente Parlamentar será lançada contra privatização. Manifestações contra decisão da diretoria de mudar local da sede será realizada na sexta (5).

Durante sua campanha eleitoral para a Presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL) prometeu aos trabalhadores e trabalhadoras da Eletrobras que não iria privatizar a estatal, já que o sistema energético do país era, até então considerado por ele, estratégico. Hoje, presidente, Bolsonaro mudou de ideia e quer implantar o modelo neoliberal econômico do atual ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes, e vender tudo, entregando assim o sistema elétrico brasileiro ao capital internacional .

“Bolsonaro disse que o processo de privatização seria suspenso. Só que agora o governo está tocando a privatização dizendo que é abertura de capital. Ele joga papéis da Eletrobras no mercado para o Estado perder o controle acionário da estatal e, consequentemente das suas controladas como Furnas, Eletronorte, Chesf e Eletrosul e CGTE”, explica Felipe Araújo, diretor do Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro e da Associação dos Empregados de Furnas (ASEF).

Araújo conta que Furnas é a maior empresa do sistema Eletrobras, presente em 14 estados e no Distrito Federal, e que ela é responsável por cerca de 11% da capacidade instalada de geração, 20% das linhas de transmissão e 40% da capacidade de transformação do Brasil, além de ser lucrativa e distribuir dividendos à Eletrobras. No ano passado, o lucro líquido foi superior a R$ 1 bilhão.

“Furnas não é deficitária, é lucrativa. Conseguiu sair do déficit em 2016, mesmo renovando concessões importantes a preços bem abaixo do que o mercado privado pratica. A ideia de privatização para cortar custos não se mantém de pé numa discussão técnica. A discussão, na verdade, que a direção omite, é baseada na ideologia neoliberal deste governo”, critica.

Diante do desmonte que começou em, 2016, no governo de Michel Temer (MDB-SP), e que continua sendo aplicado pelo governo, uma Frente Parlamentar em Defesa de Furnas, suprapartidária, será lançada no próximo dia 9 (terça-feira), na Câmara Federal, em Brasília, às 11 horas.

“Nossa luta é urgente porque o ministro das Minas e Energia, Bento de Albuquerque, sinalizou que ainda este mês deverá apresentar o modelo de privatização do sistema Eletrobras, que nos afetará diretamente”, diz Felipe Araújo.

Direção quer demitir mais de mil trabalhadores e mudar sede

O dirigente conta que em 2017 começaram o sucessivos planos de desligamentos incentivados sem a menor preocupação com a gestão do conhecimento ou reposições, e, consequentemente, teve início a precarização da mão de obra.

Segundo Araújo, foram cerca de 800 funcionários concursados desligados por meio desses planos entre dezembro de 2016 e dezembro de 2018. Ainda assim, a empresa, que no final do ano passado contava com 3.037 funcionários, abriu outros planos de demissões em busca de mais cortes.

”Agora, um dos maiores esforços da diretoria de Furnas é demitir cerca de mil empregados, o quanto antes, para melhorar seu bônus salarial ao final do ano e atender a uma determinação da Secretaria de Governança das Estatais (SEST), que por meio da Portaria 1.968 de 2019, que fixou o limite máximo do quadro de pessoal próprio de Furnas em 2880 empregados. Ou seja, mesmo após essa demissão de mais de mil empregados ainda seria necessária a demissão de quase outras duas centenas de pessoas”, critica Araújo.

O engenheiro de Furnas explica que para conseguir as demissões desses quase 1.200 trabalhadores , a direção da empresa tenta desatar um nó jurídico. Houve um acordo com o Ministério do Trabalho (MPT) e mesmo assim 108 funcionários foram demitidos sem as devidas contrapartidas da empresa. Com isso, as demissões escalonadas, previstas no acordo, foram totalmente suspensas.

Para piorar a situação, a direção de Furnas anunciou que o complexo de prédios, no bairro de Botafogo (RJ), que é sede da empresa há quase meio século, deve ser desocupado e os funcionários serão transferidos para um edifício próximo à Central do Brasil, no centro do Rio. Outros 300 funcionários devem ir para o bairro de Jacarepaguá, numa área com pouquíssima infraestrutura e comércio. A direção alega que vai economizar com o valor do aluguel atualmente pago pela sede.

“A transferência da sede é um ato mais do que simbólico de desmonte da empresa, que vai afetar não só os trabalhadores de Furnas como comércio local, as comunidades carentes onde a empresa atua em projetos sociais, além dos próprios moradores da região, com a perda da segurança que a empresa promove no bairro”, avalia o engenheiro.

Já para o comércio local, diz Araújo, pode significar o fechamento de muitos bares e restaurantes que vêm perdendo a clientela com as mais de 800 demissões no passado recente. Por isso, as associações de funcionários e sindicatos pretendem reunir os empresários da região contra a mudança da sede da empresa para juntos darem um abraço simbólico em torno do prédio, na próxima sexta-feira (5), às 11h30.

Os trabalhadores também, por meio da Associação dos Contratados de Furnas (ACEP), a Associação dos Aposentados de Furnas (Após-Furnas) e a ASEF,  lançaram uma nota de repúdio contra a decisão da empresa.

De acordo com Araújo, a sede da empresa conta com inúmeros símbolos que reforçam a conexão dos funcionários com a sua missão mais nobre de desenvolver o Brasil. São prédios construídos com concreto de barragem, e que possuem nomes de antigos trabalhadores da empresa, além de obras de arte feitas por ex-funcionários, como a que está presente na entrada do complexo.

“Foram prédios projetados e construídos com um único propósito: abrigar os funcionários de uma empresa que seria responsável pelo desenvolvimento de uma Nação, e assim seguimos. Quando você quer reduzir apenas custos, você poderá estar, como é o caso, destruindo valor, destruindo a história, a cultura empresarial e a moral do corpo dos funcionários. A consequência disso será menos comprometimento do trabalhador com os líderes da empresa”, diz Felipe.

O dirigente alerta ainda que para o consumidor, a mudança da sede significa a queda da qualidade no atendimento e perda de valor da marca Furnas.

“A precarização do trabalho agrega o risco operacional do sistema, como aconteceu na década de 1990, em que houve apagões com a retirada do planejamento e operação das mãos da Eletrobras para a criação de um novo modelo para o setor elétrico”, lembra o engenheiro, que critica ainda a visão anacrônica dos gestores que só enxergam custos:  “Para eles é custo, receita e ponto. Infelizmente eles não têm uma visão moderna de gestão, comum em empresas de alto desempenho. Não é assim que elas funcionam”, critica.

 

Fonte: CUT / Escrito por Rosely Rocha