Furnas vai demitir mais de mil trabalhadores

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Sindicatos de eletricitários denunciam sucateamento que, além de cortar postos de trabalho, pode causar apagões e prejudicar a população de todas as regiões do Brasil

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A direção de Furnas anunciou a demissão de 1.041 trabalhadores que exercem atividades-fim, de usinas e subestações em todo o Brasil, sob a alegação de redução de custos. Aos trabalhadores foi oferecida a possibilidade de adesão a um plano de demissão voluntária, cujo prazo termina nesta sexta-feira (18).

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Energéticos de Campinas (Sinergia-CUT), Carlos Alberto Alves, afirma que o termo de adesão deixa os trabalhadores desprotegidos porque, além de deixar dúvidas sobre os procedimentos traz ainda a “crueldade de obrigar o trabalhador a abrir mão de ações judiciais já ingressadas e proibi-los de entrar com ações futuras para reclamar quaisquer tipos de direitos”.

Trecho do termo diz: “É preciso salientar que ao assinar o documento, o contratado dará quitação total e irrevogável quanto ao objeto transacionado, renunciando ao direito de propositura de ação judicial contra Furnas para discutir eventuais direitos relacionados ao objeto transacionado, qual seja isonomia salarial, plano de saúde e cursos de capacitação. Para os contratados que já possuem ações judiciais em andamento, é necessária a comprovação da desistência de ações que possuam o mesmo objeto transacionado para a adesão ao acordo, com renúncia a ações futuras”.

Ainda de acordo com a direção do Sinergia, as atividades de Furnas já estão comprometidas pela falta de funcionários. Igor Henrique Israel Silva, diretor do sindicato e um dos trabalhadores de Furnas a serem afetados com os cortes, denuncia que a atual gestão, alegando motivos econômicos para os cortes, está sucateando o sistema para abrir caminho para a privatização.

Os trabalhadores que correm risco de demissão estão em todas as áreas. “Não só operadores, mas também técnicos de manutenção eletromecânica e eletrônica, eletricistas do setor de transmissão, engenheiros e até médicos e enfermeiros”, diz Igor Israel.

Ele relata que a direção de Furnas usa como argumento para as demissões a implementação de um sistema chamado de telecomando, pelo qual usinas e subestações, são operadas remotamente. Mas a prática, ele diz, para várias unidades, “não está de acordo com normas de segurança”.

Além de cortar postos de trabalho, o ‘telecomando’ coloca em risco o abastecimento de energia em todo o país. Furnas hoje é responsável pela transmissão de energia em 16 estados e no Distrito Federal, o que representa 10% de toda a energia gerada no país. Além disso, 40% de toada a energia consumida no Brasil passa pelo sistema da empresa.

Segundo o dirigente, se torna iminente o risco de apagões em todo o Brasil, além de aumentar significativamente o tempo de atendimento a cortes de energia. “Quando a usina é operada presencialmente, o técnico trabalha de forma preventiva, detectando falhas logo após o sistema dar o alerta. No caso de telecomando, somente após a falha acontecer é que equipes que estão distantes, farão atendimento”, explica Igor que complementa: “o sistema é conhecido como teleabandono”.

Furnas conta, de maneira deficitária, com 1041 trabalhadores contratados e mais cerca de três mil concursados. Em um acordo firmado anteriormente com entre o Ministério Público do Trabalho (MPT) e as entidades sindicais, Furnas se comprometeu a repor o efetivo com a contratação de, ao menos, 550 trabalhadores, via concurso, o que não foi cumprido até agora.

Por meio desse concurso, os trabalhadores atuais, muitos com até 25 anos de experiência na empresa, teriam pontos adicionais para serem contratados.

Prática antissidical

A direção de Furnas encaminhou um documento ao Sinergia-CUT criticando a atuação da representação sindical. O presidente do sindicato, Carlos Alberto Alves, afirma que a manifestação de Furnas sobre a atuação de defesa dos trabalhadores, por parte do dirigente sindical Igor Israel Silva, em uma Audiência Ordinária na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), evidencia a intenção da empresa de intimidar a luta do movimento sindical contra a privatização e o emprego dos trabalhadores.

“O Sinergia sempre atuou em diversas frentes na defesa dos trabalhadores e do serviço público de qualidade à população, Não vamos abrir mão de continuar na luta em defesa do emprego, na luta contra a privatização e em defesa das empresas públicas”, diz o dirigente.

Práticas antissindicais, perseguições e coações de qualquer natureza não calarão a nossa voz, nem diminuirão a disposição de luta dos trabalhadores, – Carlos

– Carlos Alberto Alves
Ao final do 13º Congresso Nacional da CUT (ConCUT), realizado nos últimos dias 07 a 10 de outubro, na Praia Grande, os mais de 2.100 delegados e delegadas presentes, entre eles dirigentes do Sinergia CUT, assinaram uma moção de repúdio contra a demissão dos mais de mil trabalhadores e trabalhadoras de Furnas.

Solução

Para Carlos, além da preocupação com as demissões dos trabalhadores, há a preocupação com a segurança e saúde dos trabalhadores que continuarão empregados, mas sobrecarregados pelo trabalho. Ele afirma que outras alternativas poderiam ter sido encontradas, mas Furnas foi intransigente. A CUT e sindicatos foram solidários e denunciaram a situação dos 1041 trabalhadores, que correm o risco de perderem seus empregos.

Em um comunicado ao mercado, a Eletrobras informou que os custos com as demissões chegarão a R$ 437 milhões. “Por que não começar um novo contrato com esses trabalhadores? A Eletrobrás deu lucro ano passado de R$ 13,3 bilhões e só neste ano, já chega a R$ 5 bilhões. Somente o lucro de Furnas gira em torno de R$ 1 bilhão”, questiona o dirigente.

Ele alerta que com possíveis apagões, frutos da má gestão de Furnas, o Brasil pode enfrentar impactos econômicos já vistos anteriormente, como com a greve dos caminhoneiros em 2018.

“A empresa assume o risco. A conta fica para o país”, conclui Igor.

Casos em unidades telecomandadas

No dia 1° de outubro, no estado de Tocantins, cinco linhas de transmissão da rede Norte-Sul apresentaram falhas. O nível de emergência da ocorrência foi considerado o mais alto. Houve dificuldade e demora para a chegada de equipes para resolver o problema.

Em Jacarepaguá (RJ), houve um desligamento no início do mês de setembro. A energia demorou mais de três horas para ser reestabelecida, também por conta do deslocamento de equipes.

No caso da subestação de Araraquara, interior de São Paulo, se houve uma falha, as equipes são deslocadas de Campinas, a 170 km de distância. A operação da subestação de Araraquara é feita em São Joaquim da Barra, em Minas Gerais, a 300 km de distância.

Ao contrário do Brasil nos Estados Unidos as empresas estão aumentando o número de trabalhadores presenciais nas usinas e subestações, por conta da vulnerabilidade da segurança, inclusive no  que diz respeito a ataques de hackers ao sistema.

Fonte: CUT  /  Escrito por: Andre Accarini