Ocorreu, na tarde desta segunda-feira (2), o lançamento da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Soberania Nacional, no auditório do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro. O objetivo da iniciativa é atuar contra a forma como o governo lida com a gestão de recursos naturais, as privatizações e a política externa. Na ocasião, participantes do ato defenderam unidade e mobilização contra o desmonte.
O presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, fez uma convocação para que a sociedade se una contra o “processo de desmonte de conquistas que datam de oito décadas”. De acordo com ele, está em curso um retrocesso jamais visto.
“Estancar esse processo exigirá mobilização de toda a sociedade, independentemente de crenças, partidos, classes sociais. É uma luta que há de unir a sociedade, porque é uma luta pela sobrevivência de nosso país como nação independente. É preciso unir e organizar nossa sociedade para enfrentar o desmonte”, disse.
Nascida no Congresso Nacional, a Frente, que reúne senadores e deputados de diversos partidos, divulgou um manifesto pela soberania do país e um abaixo-assinado em prol de um Plebiscito Revogatório das medidas antipopulares do governo Temer.
A Frente, que tem como presidente o senador Roberto Requião (PMDB/PR) e como secretário-geral o deputado Patrus Ananias (PT/MG), conta ainda com a liderança dos senadores Lindbergh Farias (PT-RJ), Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), além dos deputados Wadih Damous (PT-RJ), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Glauber Braga (PSol-RJ), Celso Pansera (PMDB-RJ), Afonso Motta (PDT-RS) e Odorico Monteiro (PSB-CE).
Amplitude na resistência
Na sua fala, a primeira durante o evento, Patrus afirmou que o país assiste a um ataque aos direitos sociais e à soberania nacional. “A operação desmonte dos direitos e das conquistas sociais se manifesta na emenda do teto de gastos, na reforma trabalhista, que é o fim do direito do trabalho no Brasil. Estamos vendo no orçamento federal que os recursos destinados à assistência social foram reduzidos em 98%”, apontou.
O parlamentar destacou que a Frente tem a responsabilidade de conscientizar o país sobre os retrocessos. “Existem bens que não são de mercado. Energia elétrica não é uma questão de lucro, é algo fundamental para o exercício da cidadania, da dignidade humana, do bem viver. Estamos com o pé na estrada, vamos percorrer o país, conversar com cada pessoa, cada entidade, para mostramos ao país que estamos travando uma luta de resistência contra as forças do capital que querem desconstituir as conquistas sociais e a soberania”, discursou.
Para o deputado Glauber Braga, para enfrentar a investida neoliberal, é preciso “amplitude na resistência”. “Nós podemos ter projetos eleitorais diferentes, mas, no atual momento histórico, temos que nos unir contra o desmonte, inclusive porque, no cenário atual, não temos garantia nem sobre a existência de 2018. Temos que lutar agora para não chorar o leite derramado depois”, disse.
Nacionalismo só com democracia
A deputada Jandira Feghali avaliou que o governo Temer vai na contramão do restante do planeta. “Quando o mundo inteiro volta a estatizar sua água, seu setor elétrico, o Brasil quer privatizar. O mundo faz guerras pelo petróleo, mas o governo quer entregar o nosso. O que querem é nos transformar numa colônia. Fico angustiada quando vejo o que esse governo e a maioria do Congresso são capazes de fazer numa velocidade e com uma falta de pudor como nunca vimos”, afirmou.
De acordo com ela, a ditadura militar não foi capaz de rasgar a CLT, mas o atual governo, sim. “Isso não quer dizer que aceitemos que nenhuma voz dissonante, militar, possa se assanhar para tentar dar saídas a este país. É responsabilidade desse Parlamento, dessas entidades, das instituições brasileiras reafirmar a democracia brasileira e dizer que não há saída que não seja pela democracia e pelo voto popular. Nacionalismo só combina com democracia”, disse, pregando antecipação das eleições.
Jandira defendeu a necessidade de falar além daquele ambiente, para mais que sindicatos. “Nosso papel hoje é formar opinião para além de nós. Dizer que a tarifa vai subir e o serviço não vai chegar, que soberania nacional é a defesa do direito básico da cidadania, que o que construímos foi com a inteligência brasileira, que isso é patrimônio do povo brasileiro. Porque, se não for assim, nós vamos para a rua, mas a grande massa não irá, porque talvez não tenha a compreensão desse patrimônio”, disse.
Na sua avaliação, o capitalismo financeiro e rentista que só busca o lucro está “de olho” no petróleo, no sistema elétrico e na previdência dos brasileiros. “Enfrentamos forças poderosas”, analisou. Para ela, a desobediência civil precisa estar nas ruas, nas escolas, nas lutas cotidianas. “Eles têm que ser imprensados para terem vergonha de entregar o país aos estrangeiros.”
Contra o entreguismo
Presidente da Frente, Roberto Requião defendeu um referendo para consultar a população sobre as medidas levadas adiante pelo governo Temer. Segundo ele, é preciso avisar que “esses grupos internacionais que compram pedaços da soberania brasileira serão tratados como receptadores de mercadoria roubada, quando, num processo amplo eleitoral, o povo brasileiro, com uma proposta de reconstrução do projeto nacional, disser não ao avanço do capital financeiro internacional”.
Já o senador Lindbergh Farias alertou que a empreitada do governo federal de privatizar a Eletrobras, formada por empresas que atuam em toda a cadeia produtiva de energia elétrica, vai levar o Brasil de volta para um tempo já esquecido pelos brasileiros: o dos apagões.
“A Eletrobras está sendo, neste momento, 64 anos depois da criação da Petrobras, ameaçada de privatização por esse governo. Nós vamos perder a capacidade de fazer planejamento. Vamos voltar à época dos apagões. Vai aumentar o preço de energia elétrica”, disse o senador, durante o ato da frente.
Também presente no evento, a senadora e presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que a gestão Temer não tem nenhum compromisso com o Brasil, só consigo mesmo e com a elite brasileira. “Uma elite que pensa primeiro nela, não pensa num projeto de nação, de desenvolvimento nacional e do seu povo. Destrói os direitos do povo. Se o povo morrer, não é problema deles. Vira estatística.”
“Pra eles é fácil entregar a Petrobras, a Eletrobras, a Casa da Moeda, enfraquecer o BNDES. Por que se o deles estiver salvo, está tudo bem. O resto não precisa”, criticou a presidenta do PT.
Atos continuam nesta terça