Franklin Martins fala sobre articulação golpista da oposição

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Coluna do iG

O final da tarde de ontem foi excepcionalmente tenso em Brasília. Os presidentes dos partidos que apóiam Alckmin, depois de colocar em suspeição a investigação da Polícia Federal sobre o dossiê, anunciaram que pedirão à OAB para monitorar o trabalho da PF e ao Tribunal Superior Eleitoral para exigir do Ministro da Justiça explicações sobre uma suposta “operação-abafa”. A resposta do governo foi imediata. Márcio Thomás Bastos acusou a oposição de querer privatizar as investigações, lembrando que elas já estão sendo acompanhadas pelo Ministério Público e pela Justiça. O comando da campanha de Lula foi mais longe: acusou os partidários de Alckmin de querer desacreditar as instituições e desestabilizar o processo eleitoral, com o objetivo de questionar mais tarde na Justiça uma eventual de vitória de Lula.

A decisão da oposição de partir para a ofensiva foi tomada numa reunião realizada no domingo em São Paulo com a presença do próprio Alckmin. No encontro, a avaliação predominante foi a de que Lula havia recuperado a iniciativa política e de que a campanha do tucano encontrava-se na defensiva, tendo de responder diariamente às acusações dos adversários. As pesquisas de opinião, que apontam larga vantagem para o presidente, refletiriam essa situação. Para virar o jogo, seria fundamental recolocar o caso do dossiê no centro do debate eleitoral. Tal tarefa, entretanto, não deveria ser assumida diretamente por Alckmin, para que não se reforçasse a imagem de um candidato com campanha negativa. Caberia aos presidentes do PSDB e do PFL e a parlamentares de ambos os partidos partir para esse tipo de enfrentamento.

No meio da tarde, a luz amarela acendeu no comando da campanha de Lula. De início, houve divergências na avaliação do sentido do movimento da oposição. Para alguns, a escalada da campanha de Alckmin não passaria de retórica eleitoral, de uma tentativa desesperada de encontrar algum discurso que ajudasse a conter a queda de Alckmin nas pesquisas. Terminou prevalecendo, porém, a visão mais extremada: a oposição teria decidido jogar a carta da “República do Galeão”, numa referência às investigações paralelas sobre a morte do major Rubem Vaz, conduzidas pela Aeronáutica, em 1954, que terminariam desembocando no suicídio de Getúlio Vargas. Ou seja, ela estaria flertando com o insondável e preparando o caminho para tentar derrubar nas Justiça a vitória de Lula nas urnas.

Daí o tom duríssimo da entrevista do coordenador da campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia, e dos governadores eleitos da Bahia, Jaques Wagner, e Sergipe, Marcelo Deda. À entrevista, seguiram-se dois movimentos. O primeiro foi o de convocar os presidentes de todos os partidos que apóiam Lula para que eles mobilizem seus militantes e os movimentos sociais. “Não vamos ficar parados se a oposição radicalizar. Vamos para as ruas. Vamos combater o fogo com fogo”, resumiu um importante dirigente da campanha à reeleição.

O segundo movimento foi o de conversar reservadamente com os setores moderados da oposição, em especial com os governadores Aécio Neves e José Serra. A expectativa é de que ambos, nem um pouco interessados no agravamento da situação, joguem água na fervura e desarmem seus companheiros mais exaltados.

O mais interessante é que, enquanto Brasília pegava fogo no começo da noite de ontem, em todo o país os eleitores assistiam na TV a uma campanha eleitoral civilizada. Na telinha, os dois candidatos discutiram propostas, apresentaram idéias, prometeram o céu e a terra aos eleitores. Houve uma época em que se dizia que o Brasil era a Belíndia – uma parte rica, a Bélgica, convivendo com um país miserável, a Índia. Vendo a televisão ontem à noite, com os bastidores pegando fogo, tive a sensação de que agora somos o Suiraque. Na TV, uma tranqüila Suíça; no mundo político, um incontrolável Iraque.

Cautela e caldo de galinha, ainda mais em momentos como esse, não fazem a mal ninguém.