por Camila Marins
Foto: Adriana Medeiros
Propostas para reverter a desnacionalização da infraestrutura, da indústria, e dos patrimônios naturais do país, especialmente nos segmentos de petróleo, inovação e desenvolvimento tecnológico são fundamentais. Para o engenheiro naval Alan Paes Leme Arthou, o Brasil precisa priorizar a tecnologia nacional.
Quais os pontos de uma política de ampliação e valorização da indústria e da engenharia brasileira?
Não é possível crescer economicamente sem produção. E não é possível crescer a produção sem engenharia. Temos uma engenharia civil que, graças às nossas necessidades de infraestrutura, tem nível internacional. No entanto, nas áreas de mecânica e eletrônica somos, na maioria dos casos, meros montadores de projetos oriundos do exterior. Na verdade, existem poucas empresas realmente brasileiras. Somos hospedeiros de empresas que vêm aqui para explorar nosso mercado e que não têm interesse em exportar. Produtos industrializados são mais caros quanto mais moderna for a tecnologia envolvida. No Brasil só produzimos produtos de baixa e média tecnologia e, mesmo assim, uma parcela cada vez maior do preço de compra do produto que fabricamos aqui tem que ir para outros países, por conta do projeto que não é nacional.
Quais deveriam ser as prioridades em uma agenda positiva para a ciência e a tecnologia nacional?
Existem vários indicadores que falam do pouco recurso sendo encaminhado à ciência e tecnologia, mas é difícil encontrar dados que mostrem o resultado desses investimentos. Fica muito difícil justificar a necessidade de investimento em um setor sem mostrar resulta-
dos. Quanto desses recursos são aplicados em tecnologia voltada à produção nacional?
Quantos desses recursos trazem resultados positivos?
Não temos esses dados. Se conseguirmos pensar de forma multidimensional, a pergunta seria qual o resultado econômico, de capacitação técnica e de melhoria social e ambiental? Não temos essas respostas, mas não é algo difícil de ser realizado. Como podem priorizar as pesquisas que receberão recursos sem respostas a essas perguntas? Acho que o primeiro passo para uma agenda positiva seria estipular, de forma quantitativa, as regras para a escolha de quem receberá recursos. Infelizmente, os nossos pesquisadores, na maioria, são divorciados de nossas indústrias.
O próximo governo deveria tomar quais medidas ao tomar posse?
Infelizmente, os problemas imediatos são tantos que é difícil responder a essa pergunta. Não adianta simplesmente fazer remendos. Tem que atacar os problemas que dificultam a produção e o desenvolvimento de empresas nacionais, entre eles, prioritariamente, a infraestrutura (principalmente a de energia e a de logística e de transporte), o ambiente macroeconômico (principalmente simplificando o recolhimento de impostos), a saúde e educação primária e superior e treinamento, a eficiência do mercado de bens (principalmente com uma justiça mais rápida e barata, pois onde a justiça é lenta facilita o aparecimento de aventureiros), a eficiência do mercado de trabalho (não é necessário tirar direitos para aumentar a eficiência), o desenvolvimento do mercado financeiro, a prontidão tecnológica (no sentido de ter gente preparada e pesquisas encaminhadas para novos passos de nossa indústria), o mercado interno, a sofisticação nos negócios e o incentivo à inovação.