Fisenge: 25 anos de luta em defesa da engenharia nacional

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por Laura Ralola

com entrevistas de Camila Marins

Em 18 de setembro de 1993, foi fundada a Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge). Com o propósito de unificar e potencializar as lutas da categoria em vários estados do país, a entidade vem, desde o seu surgimento, articulando ações que visam à valorização da engenharia brasileira, da soberania nacional e à construção de uma sociedade justa e igualitária. Em 25 anos de uma trajetória marcada pela defesa de lutas fundamentais para o desenvolvimento econômico e social do país, a Federação possui hoje 12 sindicatos filiados.

São 25 anos de Fisenge, mas o período que antecedeu esta história conta muito sobre a essência da Federação. A Fisenge começa a germinar bem antes de sua fundação, em 1993, e sua história deve ser contada a partir de um contexto maior — algo fundamental para a compreensão das realidades. Por isso, mergulhamos em fontes e acervos documentais da Federação e de seus sindicatos filiados buscando um resgate da trajetória da entidade.

Conforme aponta o livro ‘Duas Décadas de Luta e Esperança’ (2014), produzido pela Fisenge e o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), a história da Federação está intimamente ligada à história recente de nosso país. À luz da redemocratização, a chamada de retomada no final dos anos 1970 e 1980, houve no Brasil um movimento de diversas categorias que começaram a questionar as práticas  sindicais vigentes na época meramente burocráticas e corporativistas. Pensando em um modelo voltado para os interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora, engenheiros e engenheiras começaram a articular nacionalmente um outro projeto.

Em 1983 surgiu a Central Única dos Trabalhadores (CUT) — organização resultante da disputa de práticas e concepções estruturais dos sindicatos de trabalhadores. O movimento repercutiu de forma intensa na Federação Nacional de Engenheiros (FNE), gerando um processo de cisão ideológica na única organização nacional da categoria na época. 

O confronto de ideias culminou na divisão dessa federação alguns anos mais tarde, com a criação da Coordenação Nacional dos Sindicatos dos Engenheiros (Consenge), em 1991, cuja coordenação ficou com o engenheiro Luiz Carlos Correa Soares. Da Consenge, nasce a Fisenge em 1993 — fundada por engenheiros e engenheiras que propunham um novo modo de fazer sindicalismo.

A proposta de transformar a Coordenação em Federação de caráter nacional foi apresentada pelo então presidente do Sindicato dos Engenheiros de Pernambuco, Carlos Roberto Aguiar de Britto, em encontro da Consenge realizado em abril de 1993. Participaram desse
encontro 74 representantes de onze sindicatos de engenheiros de dez estados do Brasil.

A Fisenge chega ao mundo recebendo a tarefa de enfrentar o ciclo neoliberal que se iniciava no Brasil na década de 1990, com a implementação de abertura ao capital internacional, a privatização de setores estratégicos para o país e a terceirização do trabalho em empresas estatais.

As políticas implementadas na década de 1990 resultaram no aumento da terceirização, na perda da identidade do trabalhador com relação a sua empresa, e consequente dificuldade do sindicato de mobilizar e associar, precarização da mão de obra e crescimento dos aciden-
tes de trabalho em decorrência da terceirização. E muitas empresas privatizadas na época tinham em seus quadros centenas de profissionais da engenharia.

Em uma década que representou um duro ataque à unidade da classe trabalhadora, a Fisenge cumpriu um papel fundamental de resistência ao modelo neoliberal e em luta pela defesa da engenharia e da soberania nacional. Atualmente, a Federação é constituída por um conjunto de 12 sindicatos de engenheiros em todo o Brasil: Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro (incluindo Volta Redonda e o da capital), Rio Grande do Norte (exclusivamente de agrônomos), Rondônia, Sergipe e Santa Catarina (exclusivamente de agrônomos).

A FISENGE APÓS OS ANOS 2000

Com a virada do milênio, assistimos no Brasil a um crescimento da economia e da engenharia. Foi uma época de pleno emprego, com uma conjuntura internacional também favorável e um programa de governo implementado que retirava da agenda central o debate das privatizações. Conforme atestam relatórios do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), na primeira década dos anos 2000 houve aumento real de salários em muitas categorias — o que sinalizava maior poder de barganha para a classe
trabalhadora.

A luta da Fisenge, no entanto, não ficou no passado. Mesmo com a eleição de governos que se afirmavam de esquerda, embora tenham feito uma série de concessões, a Federação continuou firmemente mobilizada contra explorações dos bens públicos pela iniciativa privada.

Em um contexto político específico — marcado pela retomada das forças conservadoras — conceitos utilizados na década de 1990, como a desestatização de empresas públicas e desregulamentação das relações econômicas e sociais, voltaram à tona de forma intensa. A im-plementação de uma reforma trabalhista que enfraquece os sindicatos e os trabalhadores é um importante instrumento auxiliar neste caso, assim como a aprovação das terceirizações irrestritas. E são com estes desafios impostos que a Fisenge chega aos seus 25 anos.

Para o presidente da Fisenge, Clovis Nascimento, nos anos que virão, a Fisenge continuará firme em defesa das empresas públicas que controlam setores estratégicos de nossa economia, da engenharia nacional e de um projeto de desenvolvimento brasileiro. Clovis enfatizou, ainda, que essa é uma tarefa de toda sociedade preocupada com a soberania nacional e, por isso, é essencial que seja traçado um projeto em busca de aliados em defesa de lutas fundamentais para o desenvolvimento econômico e social do país.

FISENGE E OS MOVIMENTOS SOCIAIS

Desde a sua criação, a Fisenge prima pelo diálogo com a sociedade e pela vontade de avançar para além de práticas corporativas. Por isso, a entidade sempre atuou ao lado dos movimentos sociais em diversas pautas, como a defesa da reforma agrária, da agricultura familiar, dos atingidos por barragens, do direito à cidade e à igualdade de gênero.

O Coletivo de Mulheres da Fisenge, por exemplo, vem promovendo uma série de ações no sentido de incentivar a igualdade de direitos entre homens e mulheres. Conforme destacado no compêndio das histórias em quadrinhos do Projeto Engenheira Eugênia, o Coletivo de Mulheres é formado por engenheiras que formulam e propõem ações sobre o debate de gênero no âmbito da entidade. “Lutamos pela ampliação de mulheres nos espaços de poder e atuação, pela valorização profissional das engenheiras, pelo reconhecimento nas áreas das ciências e tecnologia, pelo Estado Democrático de Direito, pela soberania nacional e por uma sociedade justa e igualitária”, afirmou nota de apresentação do compêndio lançado em 2017.

A criação do projeto ‘Eugênia, a engenheira’ foi uma ação de comunicação proposta pelo Coletivo, com intuito de construir narrativas alternativas e pontes de diálogo. “Eugênia reforça que todas as vidas importam e que toda contribuição é importante. Como engenheiras, podemos formular projetos, políticas ambientais, agrícolas, agrária, de saneamento. E o compêndio é um instrumento de empoderamento para escolas, universidades, lares e locais de trabalho”, afirmou a engenheira e Diretora da Mulher da Fisenge, Simone Baía.

UMA CRONOLOGIA DE LUTA

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