Filho de agricultores e engenheiro coordena primeiro Comitê de Diversidade e Inclusão do Brasil em um sindicato de engenheiros

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Filho de agricultores, vindo de uma cidade do interior do Paraná, o engenheiro Verginio Luiz Satngherlin fez história ao informar em uma plenária de mais de 200 profissionais, no Crea-PR, sobre o lançamento do Coletivo Diversidade e Inclusão para acolher e organizar engenheiros e engenheiras LGBTQIA+. Esta é a primeira iniciativa do Brasil em um sindicato de engenheiros que foi lançada em 28 de junho, dia de luta contra a LGBTQIAfobia. Nesta entrevista à Fisenge (Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros), Verginio fala sobre sua trajetória e os desafios para a pauta LGBTQIA+ na política sindical.

“Estou no segundo ano como conselheiro titular. Fui convidado pelo Senge-PR para compor a diretoria e assumir a diretoria de Diversidade e Inclusão para a comunidade. Como gay, eu sei da dificuldade de ser filho de agricultores, ter feito agronomia há treze anos, ter entrado no mercado de trabalho, ter criado uma empresa e exercer meu trabalho profissional. Por outro lado, com essa diretoria, quero abrir para os mais de 100 mil profissionais e para aqueles que se sintam acolhidos pela comunidade LGBTQIA+ que, nós do Senge-PR, estamos criando esse comitê”, disse Verginio.

Por que decidiu ser engenheiro? Como foi essa trajetória até chegar na universidade?

Sou filho de agricultores familiares e sempre vivi no interior do Paraná em uma comunidade com 180 pessoas. Meu mundo era a família que tira o sustento do campo. Meus pais sempre reforçaram que eu e minhas irmãs deveríamos estudar e crescer para ajudar a comunidade, e foi isso que fiz. Com 17 anos, fui morar em Cascavel (PR), onde iniciei os estudos em Agronomia. Por estar sempre envolvido em causas sociais e de representação, logo fui indicado a ser representante do centro acadêmico e do CREA-PR (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná), onde fui eleito representante regional e estadual. Com esse envolvimento, fiquei conhecido na faculdade por sempre estar buscando melhorias aos colegas, trazendo cursos e eventos, além de festas e estágios.

Por que escolheu a agronomia?

Com o término da faculdade, fui trabalhar com agricultura familiar em um sindicato de trabalhadores rurais. Lá, vi o envolvimento de pequenos agricultores com o trabalho de extrativismo e como os acidentes no campo eram recorrentes por falta de estudo e de equipamentos de proteção individual. Foi aí que iniciei meus estudos em Engenharia de Segurança do Trabalho, pois queria treinar os agricultores para não se acidentarem mais. Por conta da distância, acabei indo morar em Curitiba, onde fazia o curso de pós-graduação, e lá comecei a ser professor de cursos técnicos na área como coordenador e professor. No ano de 2014, iniciei a HS Ocupacional, empresa de consultoria em projetos e laudos de engenharia e de segurança do trabalho. Hoje, com 9 anos de fundação, trabalhamos em 15 profissionais na área de engenharia, atuando em contratos nacionais com os governos federal e estadual, além do setor privado na grande Curitiba e no estado de Rondônia.

Por que entrou no sindicato e qual a importância da organização sindical?

Em 2021, conheci o sindicato e fiquei apaixonado pelas atuações dos diretores e conselheiros junto à proteção da vida, dos direitos dos profissionais e da valorização profissional em todas as áreas. Em 2022, fui convidado a integrar a equipe e participar mais ativamente. Hoje, estou engajado, pois acredito nos objetivos centrais do nosso sindicato que me acolheu com todo o coração.

Como funcionará Comitê da Diversidade e Inclusão do Senge-PR e quais os objetivos?

Para nós da comunidade LGBTQIA+, criar um espaço de inclusão e de formulação de pautas de representação junto aos mais de 100 mil profissionais do estado do Paraná, traz acolhimento aos que se sentem excluídos nas suas atividades profissionais e precisam de apoio. Nosso objetivo é propor medidas de combate ao preconceito e à exclusão da nossa comunidade. Teremos encontros mensais, com todos os que se sintam acolhidos por nosso comitê, propondo ações concretas de fomento ao conhecimento da diversidade de gênero, raça e etnias, contribuindo por um respeito coletivo, dentro das diferenças individuais de cada um.

Quais os desafios para o enfrentamento à LGBTQIAfobia nas negociações coletivas, no mercado de trabalho e nas universidades?

Isso é algo em que já vivemos desde que nos conhecemos como pessoas LGBTQIA+: o quanto somos discriminados e excluídos. O nosso enfrentamento vai ser mostrar o respeito que temos por todos e que não interfere em nada sermos gays, lésbicas, trans. Para o mercado de trabalho, o que importa é sermos detentores de conhecimento e de práticas profissionais para a área em que iremos atuar.

Por que as pessoas LGBTQIA devem procurar o sindicato?

Todos devem procurar o sindicato, pois somos um grupo de pessoas que defendemos todos os profissionais e lutamos para um mundo mais inclusivo e social.

 

Entrevista: Camila Marins/Fisenge

Foto: acervo pessoal