“Um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado”, historiadora Emília Viotti
Na noite de ontem (2/9), o Museu Nacional, localizado no Rio de Janeiro, teve seu acervo devastado por um incêndio. Em junho deste ano, o Museu, que foi sede da 1ª Assembleia Constituinte do Brasil, completou 200 anos. Cerca de 20 milhões de itens foram completamente destruídos, entre eles o primeiro dinossauro montado no Brasil e Luzia, o mais antigo fóssil humano já encontrado no país. Um incêndio desta proporção demonstra o descaso e a falta de investimentos públicos dos governos com a preservação da memória e cultura. A instituição deveria ter um repasse anual de R$ 550 mil, mas só recebia cerca de 60% desse valor desde 2013. A situação ainda é pior com a aprovação da Emenda Constitucional 95 do governo federal, que estrangula os investimentos em ciência e tecnologia.
O sucateamento do Museu resultou na falta de equipamentos, portas corta-fogo e estruturas de prevenção a incêndios. Nos dois hidrantes próximos ao Museu Nacional não havia pressão suficiente, resultando em falta de água por um longo período. Os bombeiros precisaram pedir caminhões-pipa da Cedae para controlar o incêndio. Em junho deste ano, o BNDES assinou um contrato de financiamento de R$ 21,7 milhões para restauração e uma das parcelas deveria ser investida em segurança contra incêndio. O Brasil vive uma perda irreparável em sua memória, cultura e preservação do patrimônio público. O acervo do Museu Nacional tinha uma importância mundial.
O Rio de Janeiro vive uma crise econômica e política sem precedentes, com o sucateamento de equipamentos públicos fundamentais como a UERJ, UEZO, museus, arenas culturais, teatros, cortes nas bolsas. O incêndio da noite de 2 de setembro é um epistemicídio anunciado.
Nós, engenheiros e engenheiras organizados na Fisenge, nos solidarizamos com os pesquisadores, professores, alunos e trabalhadores do Museu Nacional. Ressaltamos, ainda, a importância da valorização da pesquisa, ciência e tecnologia para preservação da memória e do patrimônio público. Reivindicamos a apuração imediata das causas do incêndio e a revogação da Emenda Constitucional 95. Não foi acidente.
Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros
Rio de Janeiro, 03 de setembro de 2018.