Nesta terça-feira (1/8), o jornal Folha de S. Paulo publicou o editorial “Vanguarda do atraso”, promovendo ataques à retomada de financiamentos à exportação de serviços de engenharia. As normas estão sendo discutidas, a partir de padrões internacionais, por técnicos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e do TCU (Tribunal de Contas da União). Embora o jornal descreva como “ideia econômica embolorada ou equivocada”, esta política é implementada por diversos países do mundo, considerada pelo BIRD (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento) e pela OMC (Organização Mundial do Comércio) como fundamental para o desenvolvimento das economias.
Um dos argumentos do editorial é a Lava Jato. De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a operação promoveu o fechamento de 4,4 milhões de empregos e fez o país perder R$ 172 bilhões em investimentos desde o início da operação, em 2014. As empresas de engenharia do país chegaram a ter 3,2% do mercado internacional de US$ 500 bilhões em 2015, mas participação caiu para 0,5%.
O país deixou de arrecadar R$ 47,4 bilhões de impostos e R$ 20,3 bilhões em contribuição sobre a folha, além de ter reduzido a massa salarial do país em R$ 85,8 bilhões. Ainda segundo o estudo, a Lava Jato “afetou os setores envolvidos diretamente (petróleo e gás e construção civil), mas também uma gama importante de outros segmentos (devido aos impactos indiretos e ao efeito renda)”. A pesquisa revela que a Lava Jato destruiu a imagem da Petrobras (maior empresa brasileira), com perda de R$ 104,321 bilhões, de 2015 a 2017. Nós, engenheiros e engenheiras, vivemos a devastação das nossas profissões, enfrentando o desemprego, a insegurança alimentar, a precarização das condições de trabalho, o fechamento das empresas nacionais e o fim de políticas estratégicas para o país como o setor naval. Muitos profissionais de engenharia precisaram virar Uber para garantir o seu sustento, rememorando os tempos do auge do neoliberalismo no Brasil na década perdida de 1990 quando o “engenheiro virou suco”.
Havia esperança entre os anos dos governos Lula e Dilma com o fortalecimento da política de conteúdo local que priorizava as empresas nacionais de engenharia, a abertura dos parques de indústria naval, a descoberta do pré-sal. Nesse período, os principais jornais aventavam o “apagão” da engenharia, incentivando a vinda de profissionais de outros países. Defendemos uma política de reciprocidade para a valorização do corpo técnico nacional da engenharia. Com a Operação Lava Jato e o fechamento das empresas, o desemprego da engenharia viveu o seu auge e ainda lidamos com a fuga de cérebros, devido ao desinvestimento em ciência e tecnologia. O país foi desmontado e a economia desnacionalizada, colocando o Brasil numa posição de subserviência econômica em relação a outros países. A engenharia brasileira é gigante e possui qualificação de excelência para a promoção e qualificação de políticas públicas e infraestrutura.
Sob o argumento de incentivo à corrupção, a Folha de S. Paulo desqualifica um conjunto de empresas nacionais de engenharia e profissionais sérios, comprometidos, honestos e qualificados. Um veículo de comunicação precisa ter responsabilidade ética quando atrela uma narrativa de combate à corrupção com perseguição e criminalização de uma profissão como a engenharia. Repudiamos e abominamos toda prática de corrupção e reivindicamos a punição aos responsáveis como Pessoa Física bem como a rigidez das normas e procedimentos técnicos e administrativos de controle social e contratação. Fechar uma empresa nacional também significa perda de memória tecnológica e de soberania, aprofundando a desnacionalização do país
O anúncio do BNDES representa um fôlego para a retomada da engenharia nacional e do desenvolvimento social e econômico. O que a Folha de S. Paulo chama de “Vanguarda do atraso” nós chamamos de avanço democrático e social. Há que se lembrar que a Folha de S. Paulo é a empresa de comunicação que atuou ativamente durante a ditadura civil-militar do Brasil, contribuindo para violações de direitos humanos, perseguição e censura.
Nós, engenheiros e engenheiras da Fisenge (Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros), apoiamos a política de retomada da engenharia brasileira pelo BNDES e nos colocamos à disposição para a construção coletiva em prol de um país soberano, democrático e inclusivo.
Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (FISENGE)
Rio de Janeiro, 02 de agosto de 2023