Exibição do documentário gerou um importante debate sobre engenharia e desigualdades.
A convite do cineasta Sílvio Tendler, público subiu ao palco ao final da exibição de “Dedo na Ferida”, no segundo dia da Soea
Um encontro fundamental para o enfrentamento da crise e do processo de desigualdade social do país. Esse foi o comentário do cineasta Sílvio Tendler (de “Jango” e “Os Anos JK”), após a exibição do seu mais recente filme “Dedo na Ferida” (2017), que contou apoio institucional da Federação Interestadual dos Sindicatos de Engenheiros (Fisenge) e do Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro (Senge-RJ), cujos presidentes, Clovis Nascimento, Olímpio Alves dos Santos, respectivamente, também participaram do debate no auditório-máster do Centro de Eventos Ruth Cardoso, em Maceió, no início da noite desta quarta (22). Em 2014, a parceria havia rendido outro documentário: “Privatizações: a Distopia do Capital”.
Para Sílvio, atingir outros públicos, é um dos objetivos do filme, premiado em festivais como o Festival do Rio, Festival do Rio (Prêmio Júri Popular), Festival de Havana (seleção oficial) e Festival Internacional de Cinema Político da Argentina (Menção Honrosa). “Não é com desemprego e destroçando a engenharia nacional e o conteúdo local que vamos conseguir valorizar a nossa economia. Tenho discutido muito essa problemática com o pessoal da Engenharia”, disse o diretor.
Presidente da Fisenge, Clovis Nascimento: filme desperta o debate, em momento de decisão política para o país
Outra lógica é possível
No debate, o presidente da Fisenge, Clovis Nascimento, afirmou que “esse filme busca jogar uma luz sobre os interesses obscuros para a população”. Ele também comentou que “o processo eleitoral, em outubro, não resolverá o problema do Brasil de imediato. Vamos ter muita luta para inverter essa lógica”, disse, em relação à temática do filme, a da crise promovida pelo sistema financeiro em 2008, mostrando sua corrupção, sua impunidade, suas debilidades originais e suas consequências em torno da elevação dos juros e dos desinvestimentos sociais e produtivos, por meio de depoimentos de economistas como o professor Guilherme Mello (Unicamp), de pesquisadores como o sociólogo Boaventura de Sousa Santos e de artistas como o cineasta Costa-Gravas, entre empresários, diplomatas e outros cidadãos brasileiros e internacionais, prejudicados por esses processos ou críticos a eles.
Nesse sentido, o conselheiro do Crea-PR, Ricardo Vidinich, criticou a subserviência da engenharia aos juros extorsivos para as obras. “Os juros são uma forma de o capital financeiro se apropriar do dinheiro das pessoas. São recursos que vão para um setor que não produz nada, nem paga qualquer imposto, faz uma verdadeira evasão fiscal”, respondeu o presidente do Senge-RJ, Olímpio Alves dos Santos, que ressaltou que, “ao produzir uma película como essa, o Sindicato, mais do que se ater à luta corporativa, atende ao dever de contribuir para o desenvolvimento do país e desnudar os mecanismos de desigualdade e da captura da nossa democracia”.
Apesar de contar com um público pequeno, que se reuniu no final com os debatedores para uma fotografia sobre o palco, a convite de Silvio Tendler, o debate promoveu depoimentos bastante ricos. “Cinquenta e um por cento do que é produzido no Brasil vão para os bancos. São R$ 13 bilhões/ano, enquanto a população de rua aumentou muito e o sistema educacional está em frangalhos”, disse Tendler, apoiado por um dos participantes: “a corrupção não é o grande problema brasileiro, do ponto de vista econômico, mas os juros subversivos da corrente financeira”.
Fonte: Equipe de Comunicação da 75ª Soea
Henrique Nunes (Confea)
Fotos: Camila Martins/Fisenge e Art Imagem Fotografias