EUA precisam reinventar o sindicalismo

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Pesquisas americanas mostram que os trabalhadores não estão interessados na filiação a sindicatos

O segundo dia da IV Conferência Mundial das Associações de Engenheiros e Cientistas começou com a videoconferência com o professor e pesquisador de relações do trabalho da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, Richard Hurd, que falou sobre as relações de trabalho no século XXI.

O especialista considera que a expansão da força de trabalho tecnológica e profissional é importante para a economia mundial dentro das organizações modernas e contemporâneas. Mas, de uma maneira geral, a preocupação dos trabalhadores americanos limita-se em promover a integridade profissional. Richard Hurd explica que, uma pesquisa para descobrir o que fazer para os sindicatos se conectarem a estes trabalhadores, feita nos últimos 8 ou 9 anos, nos EUA, mostrou que os trabalhadores americanos não estão interessados no sindicalismo.

O pesquisador diz que é preciso entender que os trabalhadores americanos estão num local de trabalho que muda rapidamente, portanto é preciso pensar em representações que mudem o sindicalismo. Ele explica que as transformações tecnológicas são tão rápidas que os trabalhadores precisam expandir para se manterem atualizados e, no contexto neoliberal da sociedade de hoje, os profissionais têm uma grande responsabilidade na própria formação. Afinal, há crescimento para os indivíduos se atualizarem por conta própria, uma vez que os profissionais podem estar trabalhando em todo o globo, sem precisarem ultrapassar as fronteiras geográficas.

Nos Estados Unidos, os profissionais mudam de empregadores com muita velocidade, mas Richard Hurd garante que eles estão acostumados com essa mobilidade do mundo globalizado. O professor considera que os trabalhadores esperam progredir, mudando de emprego e lamenta não existir no ambiente de trabalho a orientação que havia antes.

Associações de Profissionais
As associações de profissionais são organizações que promovem a profissão, apesar de não focar na questão trabalhista como os sindicatos. E, com tantas exigências do mundo globalizado e necessidades de aprimoramento, os americanos deixaram de buscar sindicatos para buscar estas associações. Richard Hurd afirma que 80% dos profissionais americanos buscam associações profissionais, enquanto apenas 30% buscam por sindicatos. Segundo o especialista, uma pesquisa feita no início de 2006 mostra que os trabalhadores apóiam as associações de profissionais, porque se identificam na sua ocupação e querem o fortalecimento da identidade profissional, além de qualidade nos serviços prestados.

Richard Hurd explica que as associações de profissionais não querem embates que afetem a relação entre empregado e empregador, portanto não se envolvem em organizações e questões trabalhistas. São funções dessas associações de profissionais estabelecerem a norma da ética na profissão; defender a ocupação; impedir a prática da invasão de trabalhadores que não têm licença; publicação sobre a profissão; promover palestras e cursos à distância, que ajudem a promover o envolvimento profissional; reuniões em redes e congressos periódicos para que os mais jovens tenham contato com profissionais mais experientes e tenham uma orientação que não existe mais no ambiente de trabalho; e rastrear oportunidades no mercado de trabalho.

Futuro do sindicalismo nos EUA
Para Richard Hurd, os sindicatos nos Estados Unidos precisam gastar mais em recursos e organizar mais os trabalhadores, além de reestruturar o movimento sindical, para que as suas organizações sejam por ramo, buscando, desta forma, um modelo mais industrial. O especialista propõe que seja feito um diálogo entre os sindicatos e as associações de profissionais sobre assuntos de interesse mútuo e que sejam feitas alianças entre ambos. Nesta fusão, o especialista considera que poderia haver associações de profissionais com a força de sindicatos, a fim de promover o debate de salários e condições de trabalho. O professor espera que a tendência seja um trabalho em conjunto.

Para dinamarquesa, o interesse muda com a idade
A diretora executiva da IDA (Associação de Engenheiros da Dinamarca) Lisbeth Andersen afirma que há um caráter misto entre o sindicato e a associação de profissionais. Lisbeth explica que, quando o engenheiro é mais novo, a questão sindical prevalece, porque ele está atrás do primeiro emprego. Mas, depois de mais tempo na profissão, a especialista considera que é mais importante o caráter associativo.

No Reino Unido, sindicato dá assistência ao conhecimento
Graeme Henderson é o presidente da Prospect, sindicato no Reino Unido que, como o próprio nome já diz, enfatiza a visão prospectiva do futuro. Ele diz que a sua Instituição proporciona oportunidades de aprendizado para os associados profissionais, através do ensino continuado para os engenheiros.

O sindicalista explica que a assistência à educação permite a atualização permanente do profissional. Para o êxito ser garantido, Graeme Henderson diz que há um projeto de política pública com o governo para fornecer conhecimento constantemente, além de um trabalho com imigrantes profissionais que precisam aprender a língua.

Austrália tem sindicato virtual
O chefe executivo da Apesma (Associação de Profissionais Engenheiros, Cientistas e Gerentes da Austrália) John Vines explica que a novidade no seu país é o sindicato virtual, uma iniciativa para encorajar os profissionais a se filiarem aos sindicatos. Através desse sistema, é possível conhecer diversos modelos e simular contratos de trabalho; testar pacotes de salários que proporcionem o menor imposto de renda a ser pago; utilizar uma calculadora que mostra a faixa salarial, dependendo da qualificação profissional; e manter-se informado sobre as ofertas no mercado de trabalho.

Mas John Vines afirma que a pretensão é demonstrar que o custo de filiação a um sindicato virtual é muito maior e, com isso, incentivar o “pacote completo”. O especialista garante que a idéia está dando certo e indica que, no primeiro ano, o sindicato virtual conseguiu 500 novos filiados. “Pretendemos aumentar a cada ano e gerar receitas para os sindicatos”, afirma. Para conhecer o sindicato virtual, acesse: www.professionalsatwork.com.au
UNI aposta em projeto de comunicação em rede
O representante da Union Network International (UNI) Gerhard Rohde considera que a entidade sindical do futuro terá que fazer um trabalho mais amplo de articulação com os profissionais, além de trabalhar as questões políticas mais gerais, como a globalização. Ele explica que o projeto da UNI é criar um sistema de comunicação em rede de fácil acessibilidade, que contenha banco de dados, salários, empregos e outros itens de interesse profissional.

Gerhard Rohde acredita que é necessário usar mais a tecnologia para a informação e garante que o sistema de rede também poderá articular o conhecimento. O especialista lamenta e considera que as ferramentas desenvolvidas ainda são aplicadas de forma muito conservadoras.

O modelo brasileiro
O presidente da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge) Olímpio Alves do Santos explica a estrutura sindical brasileira. Ele diz que o modelo atual é polarizado em categorias e profissões, além de ser obrigatória a unicidade sindical, ou seja, só pode existir um sindicato por profissão, sendo que a base mínima é o município. Ele também diz que os sindicatos são financiados pelo imposto sindical, contribuição paga com um dia de trabalho por ano; e também pela contribuição associativa.

O presidente da Fisenge lamenta que apenas 170 mil profissionais da categoria trabalhem com carteira assinada no Brasil. Outra má notícia é a dificuldade em negociar com o setor de telecomunicações, cujos empresários não querem diálogo, uma vez que o setor foi completamente privatizado.

Olímpio diz que, para o engenheiro brasileiro exercer a profissão, precisa estar inscrito no Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura (Confea), órgão que faz a regulamentação da profissão, junto ao Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea). O sindicalista considera importante a defesa da sociedade contra o mau exercício profissional e enfatiza a importância das políticas de desenvolvimento da profissão.